Conheça sete variedades de uvas tintas e descubra as características que cada uma delas imprime ao vinho
por Marcelo Copello
É muito comum que os consumidores escolham seus vinhos pelo tipo de uva, ou casta. Degustar os vinhos "mono-castas" ou "varietais" (elaborados com um único tipo de uva ou com predominância de alguma variedade), pode ser didático, nos ajuda a aprender sobre o sabor de cada uva, desenvolver nosso gosto pessoal e nos prepara para vinhos mais complexos.
Dando continuidade ao assunto do mês passado, concluímos nosso passeio pelas uvas tintas e comentamos alguns cortes ou misturas mais tradicionais. Vamos em frente com sete tintas:
Grenache: variedade tinta mais plantada do mundo, com expressiva área no sul da França e na Espanha, onde é chamada de Garnacha. Só no país de Picasso 100 mil hectares são ocupados por essa casta. Agrada aos viticultores, pois é resistente e alcança cedo boa maturidade, com alto grau de açúcares. Normalmente proporciona vinhos alcoólicos, mas de pouca cor, encorpados, aveludados e com aromas doces de especiarias e frutas. Historicamente aparece muito mais em cortes do que em varietais. Faz parte do corte de muitos vinhos clássicos, como Châteauneuf-du-Pape e dos espanhóis Rioja. Na ilha italiana da Sardenha aparece com o nome de Cannonau. Hoje, alguns "mono-castas" desta cepa começam a chegar de países do Novo Mundo como Chile e Austrália, onde a Grenache gera alguns vinhos de alta categoria.
Petit Verdot: casta de Bordeaux que, ao aparecer nos vinhos dessa região, sempre está em pequenas quantidades, raramente ultrapassando os 5%. É de difícil cultivo, amadurece tarde (depois da Cabernet Sauvignon), mas nos anos em que amadurece corretamente ajuda os cortes com sólida estrutura de taninos e um toque de especiarias nos vinhos. Recentemente provei varietais desta uva vindos da Espanha, Austrália e Uruguai, todos de qualidade.
Pinot Noir: a grande uva tinta da Borgonha, onde gera vinhos míticos como o "La Romanée-Conti". Também é a base do Champagne. Elegância e finesse são termos comumente usados para os bons produtos dessa cepa. Muito sensível às alterações de solo e clima, pode variar muito de vinho para vinho e de safra para safra. É a uva camaleão. Sua cor típica é clara e seus aromas mais comuns são cereja, amora, framboesa, especiarias, ervas e flores. Com a idade mostra toques animais, couro e cogumelos secos. Raros são os bons Pinots fora da Borgonha. Se essa cepa ganha muitos hectares em todo mundo, é graças ao prestígio do vinho borgonhês, nunca igualado. Adapta-se a climas frios onde rende mais acidez e aromas, em climas quentes tende a gerar vinhos flácidos, macios demais e com caráter "cozido". A Nova Zelândia, a Tasmânia, o Oregon e algumas novas regiões da costa chilena são os lugares do Novo Mundo onde essa uva melhor se adaptou.
Syrah ou Shiraz: sua origem é controversa e seria ou o vale do Rhône, na França, onde se chama Syrah, ou o Oriente Médio, de onde viria o nome Shiraz. É uma das grandes tintas da atualidade, com qualidade, longevidade, adaptabilidade a diversos climas e terrenos (é resistente e produtiva) e versatilidade, prestando-se a produção de varietais e de cortes em diversos estilos. Aromas típicos de especiarias picantes como a pimenta do reino, pode assumir aromas de frutas vermelhas e negras maduras, violetas, alcaçuz, chocolate e menta. Com a idade chega a couro e animas. Na França aparece em muitos cortes com Carignan, Mourvèdre e Grenache. Hoje é cultivada em praticamente todos os países produtores. Alcança suas maiores expressões no norte do Rhône (com os clássicos Hermitage e o Côte-Rôtie) e no sul da Austrália, onde gera alguns dos maiores tintos do Novo Mundo, como o Penfolds Grange.
Tempranillo: grande uva espanhola. Seu nome vem de Temprano (cedo), pois amadurece antes da Garnacha (Grenache), sua companheira no corte clássico dos Rioja. Na Espanha também assume outros nomes como Tinta del Pais, e em Portugal se chama Tinta Roriz no norte e Aragonês no sul. Se bem cultivada, produz sólida estrutura de taninos e assume aromas como tabaco, especiarias, couro. Pode gerar grandes vinhos, estruturados, complexos e longevos, em cortes ou em mono-varietais. É pouco cultivada fora da Península Ibérica, com expressão apenas na Argentina.
Touriga Nacional: principal casta portuguesa, originária do Dão e do Douro, onde é usada no vinho do Porto e em grandes vinhos de mesa da região, como o Barca Velha. É atualmente considerada a maior casta tinta portuguesa. Aromas típicos de violetas e frutas vermelhas e negras adocicadas. Sua área cultivada tem crescido muito em Portugal e muitos novos mono-castas têm surgido, com ótima qualidade. Muito pouco cultivada fora de Portugal, com alguns hectares em países com Austrália e Brasil.
Trincadeira (Tinta Amarela): casta portuguesa presente em todo o país, mas com maior expressão no Alentejo, onde se chama Trincadeira, e no Douro, onde é a Tinta Amarela. Sua folhas são amareladas e seu cultivo é difícil, pois é sensível a pragas. Aporta mais aromas que corpo aos vinhos, seus taninos são suaves e os aromas típicos são ervas frecas, frutas vermelhas e especiarias, como cravo e canela. É tipicamente misturada a Tinta Roriz (ou Aragonês), que empresta a estrutura tânica ao corte.
Os exemplos de cepas e suas misturas são inesgotáveis. Assim, nunca faltarão novidades na infinita diversidade que só o vinho pode proporcionar.