O mercado de 2012

Como se comportou o mercado do vinho importado no Brasil durante o primeiro semestre de 2012

por Adão Morellatto

Ainda é prematuro para prever o resultado das análises dos órgãos responsáveis pela aplicação ou não da Salvaguarda na indústria do vinho, mas o certo é que o segmento continua em crescimento - apesar da influência do câmbio que apresentou uma valoração de 10,6% entre dezembro de 2011 até junho deste ano, exatamente o período desta análise, em comparação com o primeiro semestre de 2011.

Entre janeiro e junho de 2012, o segmento de vinhos importados (para melhor análise consideramos sempre vinhos finos e excluímos espumantes) cresceu 14,93% em valor e 12,61% em volume, evidenciando, como nos anos anteriores, um aumento do preço médio do vinho importado. Como se comportaram o principais players?

1º Chile
Já há algum tempo dita o mercado. Neste ano, tem crescimento de participação, com suas várias empresas de grande e médio porte atuando com penetração, influência e escala. Participa neste semestre com 36,63% em valor e 41,46% em volume, mesmo com seus vinhos tendo crescimento em valor de 2,96%.

2º Argentina
Mesmo apresentando queda de 5,28% em volume, mostra um excepcional aumento em valor, de 13,31%, com crescimento de 7,63% em seu preço médio. Definitivamente descobriram o grande potencial de seus vinhos mais elaborados para o mercado brasileiro. Seus vinhos são, em média, 22,37% mais caros que os exemplares chilenos.

Primeiro semestre apresentou crescimento 14,93% em valor e 12,61% em volume

3º Portugal
Caminha na média do crescimento geral, participando com 14,09% em valor (idêntico ao mesmo período de 2011) e com 13,62% em volume. O preço médio de seus vinhos sofreu redução de 17,85%.

4º Itália
Incondicionalmente, apresentou queda de 11,41% em valor e de 15,07% em volume. Tem participação de mercado de 10,67% de valor e de 13,49% em volume. Merece acompanhamento maior.

5º França
Em linha com o comportamento do mercado, teve crescimento de 11,96% em valor e 16,18% em volume, e também apresenta uma pequena queda na média de preços com -3,77%, agora com preço médio de US$ 5,67 por garrafa.

6º Espanha
Não é somente no futebol que a Espanha tem tido conquistas. Nos vinhos eles também têm apresentado resultados meritórios e, neste semestre, apresentam crescimento de 20,33% de valor e de 45,15% em volume, mesmo com uma queda de 20,63% no preço médio. Ainda é pequena sua participação: 4,71% em valor e de 3,55% em volume.

7º Demais Países
Especial atenção o crescimento da África do Sul, com 146%, Grécia com 167,85%, Uruguai com 60,50% e Estados Unidos com 44,44%.

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Por Christian Burgos

Mercado ágil e multidimensional

O especialista Adão Morellatto é reconhecido pelo mercado pela rapidez e exatidão de seus reports semestrais e anuais. Este report especificamente chegou à redação no momento com mais impactos econômicos e de comércio exterior que já vivenciamos. Decidimos publicá-lo imediatamente - mesmo com uma série de questões e aprofundamentos que Morellatto se propôs gentilmente a fazer -, pois publicar tudo com atraso não é informar, sendo, no máximo, registrar história.

Conversamos com os mais importantes players de mercado na tentativa de trazer luz às informações e explicar muito do que sentimos diariamente. É consenso que, durante este ano, muita energia e recursos foram desviados do crescimento do fomento de mercado para atividades relacionadas ao tema das Salvaguardas.

Esperava-se um boom de importações preventivas - que não aconteceu -, a exemplo do que ocorreu no fim de 2010 com o Selo Fiscal, e que Adilson Carvalhal Jr (proprietário da Casa Flora e presidente da ABBA) resgatou para explicar as informações que deram conta de um crescimento de 48% nas importações do primeiro trimestre. Embora muitos tenham pensado que se tratava de uma reação ao possível sistema de cotas, isso seria impossível, visto que o tema das Salvaguardas ganhou proeminência em março deste ano e não poderia ter influenciado esse comportamento.

#Q#

Carvalhal Jr explica o fato com um aumento de importações preventivas ao Selo Fiscal no fim de 2010 e posterior diminuição das importações no primeiro trimestre de 2011, que afeta a comparação com o primeiro trimestre deste ano. Estamos, portanto, comparando uma planície com um vale e enxergando um pico.

Esperava-se um boom de importações preventivas - que não aconteceu -, a exemplo do que ocorreu no fim de 2010 com o Selo Fiscal

Questão do dólar
Morellatto ressaltou o peso da valorização do dólar em cerca de 10% no período. Teríamos importado mais sem esta valorização?

Alguns países cresceram em seu preço médio, como Argentina (seria um aumento na qualidade média do vinho, uma correção de preços justificada pela destruidora inflação argentina ou um efeito colateral do crescimento do Malbec no mercado americano?), ao passo que outros, como Portugal e Espanha, embora em exuberante crescimento, caíram fortemente em preço médio (seria um efeito da crise ou uma mudança no mix dos produtos que chegam ao Brasil?).

A Argentina, já no fechamento do ano passado, apresentava aumento de valor e decréscimo em volume, e neste semestre de novo apresenta queda superior a 5% no volume de vendas. O consenso de mercado atribui isso à velada guerra comercial entre os países, que tem prejudicado a liberação das licenças de importação. Mas alguns também sentem que, com o boom argentino nos Estados Unidos, o Brasil pode ter perdido parte do foco da Argentina. Outros ainda apontam uma redução dos recursos do governo argentino destinados à promoção no Brasil.

Seria simplista tentar explicar as sucessivas quedas de volume com apenas um dos fatos, e o mais provável é que cada um tenha contribuído para explicar isso, visto que o consumidor continua com forte empatia pelos vinhos argentinos.

Portugal, que vem investindo muita energia (e esperança) em nosso mercado, cresceu bem e se postou na terceira posição ante uma significativa e ainda inexplicável retração da Itália.

Impossível não destacar o Chile na medida que usualmente é muito difícil ao líder de mercado suplantar a taxa de crescimento de mercado e ampliar seu market share, crescendo em valor, volume e preço médio. O mais organizado país latino-americano encontrou um modelo em que os produtores, que sempre carregaram o crescimento do país nos ombros, passaram a contar com uma forte ação integrada de venda da imagem do país.

Pulando do maior para os menores, o crescimento significativo dos "Demais Países" demonstra claramente um amadurecimento do consumidor brasileiro que, com o aumento da cultura do vinho, explora a riqueza incomparável da bebida, o terroir. Algo que não pode prosperar sob o regime de cotas e outras intervenções.

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