O potencial de Mendoza

Passeie pelos cinco terroirs da região argentina e conheça os fatores que personificam seus vinhos

por Euclides Penedo Borges

O consumo de vinhos argentinos consolidou-se no Brasil e firmou nomes como Catena, Flichman, Zuccardi, Salentein e Bianchi. O que nem todos sabem é que eles estão estabelecidos em diferentes terroirs de Mendoza, distintos uns dos outros por fatores como altitude, distância aos Andes, origem da água, temperatura média, incidência de granizo, tipo de terreno e natureza do solo. Entre os fatores, também se encontra a amplitude térmica - diferença de temperatura entre meio-dia e meia-noite no verão. Importante para a vinicultura andina, ela varia de um lugar para outro. É assim que os varietais locais como Malbec, Tempranillo, Chardonnay, elaborados por vinícolas distantes, apresentam atributos diferenciados para o consumidor atento.

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Marcelo Copello
Vinhedo da Bodega Salentein, no Valle do Uco

LOCALIZAÇÃO - A distância entre os vinhedos extremos da província mendocina é significativa. No sentido norte-sul, da capital a San Rafael, são duzentos quilômetros. No sentido oeste-leste são cento e cinqüenta. Nesses trinta mil quilômetros quadrados (entre os paralelos 33 e 35 Sul) localizam-se cinco terroirs: três nas redondezas da cidade de Mendoza (Luján, Maipú e Leste), outro mais ao sul, afastado da cidade (Valle de Uco), e, por último, San Rafael, bem mais ao sul, no centro geométrico da província. Vamos dar uma volta por eles.

LUJÁN DE CUYO está localizado no sopé dos Andes, em altitudes entre 860 a 1100 metros. A temperatura anual média é de 15º C e a amplitude térmica, 14º C. As chuvas são escassas e a origem da água é o Rio Mendoza. Terrenos planos, arenosos, solos de cascalhos desintegrados da cordilheira, boa drenagem, com riqueza mineral e pobreza orgânica fazem de suas áreas produtivas (Agrelo, Perdriel, Vistalba...) habitats ideais para a Malbec, com boa acomodação também para Cabernet, Syrah e Chardonnay.

Fernando Bowen/Stock.Xchng
San Rafael: terrenos aluviais sobre pedra calcária
Encontram-se em Luján, entre outras, as "bodegas" CAP Vistalba, Catena Zapata, Dominio del Plata, Lagarde, Luigi Bosca, Norton, Ruca Malén, Séptima e Terrazas.

MAIPÚ situa-se ao sul de Mendoza e a leste de Luján, um pouco mais afastada dos Andes e em altitudes mais baixas, entre 650 e 800 metros. O clima é parecido com o da área vizinha com temperatura média um pouco superior e amplitude térmica levemente mais baixa. A origem da água e o regime de chuvas são os mesmos de Luján.

Apresenta em suas áreas (Coquimbito, Cruz de Piedra, Barrancas) solos aluviais argilosos com seixos rolados, rico em minerais. Ocorrências de terras vermelhas propiciam alguns dos melhores Cabernets argentinos. Em Maipú encontram-se, entre outras, as vinícolas Benegas, Finca Flichman, La Rural, Lopez, Navarro Correas, Peñaflor, Trapiche, Trivento e Weinert.

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Marcelo Copello
Bodega Lurton

O terroir LESTE, no lado leste da região metropolitana, compreende as localidades de San Martin, Junin e Rivadávia, em altitudes de 600 a 800 metros. A amplitude térmica, o período livre de geadas e o regime de chuvas é o mesmo de Maipú. Mostra temperaturas um pouco mais altas (média de 17º C) e a origem da água é o Rio Tunuyán. As áreas mais altas têm solo aluvial arenoso com limo. Na parte baixa os terrenos são profundos e pedregosos. A Tempranillo adaptou-se muito bem na parte alta ao norte, na área de Fray Luis Beltrán, no limite com Maipú.

As vinícolas Bodega Esmeralda, Família Zuccardi (em Fray Luis Beltrán), Llaver (em Rivadávia), Segundo Correas e Mapema estão localizadas nessa região.

O VALLE DE UCO, ou Tupungato, situa-se oitenta quilômetros ao sul de Mendoza, costeando a Cordilheira, em altitudes entre 900 a 1500 metros. As temperaturas anuais médias são mais baixas (14o C) e o clima mais seco (pluviosidade de 200 mm) com forte amplitude térmica. A água vem dos rios Tunuyán e Tupungato. Solos permeáveis, pedregosos, com seixos rolados, areia grossa e limo, de baixa fertilidade. Em tais condições, a Pinot Noir e a branca Pinot Gris incluem-se entre as castas locais. A viticultura no Valle de Uco, relativamente recente, vem se desenvolvendo com rapidez.

Encontram-se na região as vinícolas Achaval Ferrer, Clos de los Siete (Michel Rolland é um dos sete), La Célia (em La Consulta), Ortega Fournier, Lurton, Luca, Salentein e Tykal.

SAN RAFAEL, finalmente, está bem mais ao sul no centro geográfico da província de Mendoza. As altitudes são mais baixas, de 450 a 800 metros, e toda a área está sujeita a intempéries, exigindo proteção anti-granizo, com um período livre de geadas curto (190 dias por ano). Temperatura média e amplitude térmica de 14o C. A água é originária das barragens dos rios Diamente e Atuel. Terrenos aluviais sobre pedra calcária, mais arenosos no lado oeste (Rama Caída) e limosos no lado leste (General Alvear).

Entre as principais bodegas de San Rafael incluem-se Alfredo Roca, Félix Lavaque, Jean Rivier, Valentin Bianchi (das mais antigas, instalada em 1927) e Viñas del Golf.

COMPARAÇÕES - Ao adquirir seu próximo vinho de Mendoza, verifique o terroir do qual ele provém. As informações acima complementarão os dados do contra-rótulo e propiciarão comparações interessantes. Por exemplo, um Malbec de Luján de Cuyo com outro de San Rafael de mesma safra. Ou um Tempranillo do Leste (Zuccardi Q) com outro do Valle de Uco (Ortega Fournier Bcrux, por exemplo). A diferença de terroir é nítida.

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