Seleções

O que é e quais as diferenças entre seleção clonal e massal?

O que significa quando um vinhedo é de seleção massal ou de seleção clonal e qual a diferença para a sua taça?

A decisão do replantio é sempre muito bem pensada pelo produtor
A decisão do replantio é sempre muito bem pensada pelo produtor

por Arnaldo Grizzo

Você talvez já tenha ouvido algum viticultor falando que faz uma seleção massal, ou então uma seleção clonal, para a reposição das parras que morrem no decorrer do tempo em seus vinhedos.

Sim, as plantas, com o tempo, morrem. Algumas podem viver por muitos e muito anos, mas se diz que o ciclo de uma videira é de 25 a 30 anos normalmente. Depois disso, geralmente há um declínio de produção importante e nem sempre os produtores estão dispostos a manter vinhas cujos rendimentos são exageradamente baixos ou ainda que podem estar sendo afetadas por doenças. Há casos raros, no entanto, de vinhas seculares, mas estas também estão sujeitas a esvaecer.

Sendo assim, a decisão de replantar é sempre muito bem pensada, pois simplesmente arrancas todas as videiras de um vinhedo e começar um novo talvez não seja viável. Isso significa ficar anos sem produção (o que seria economicamente inviável para a maioria dos produtores) e também pode-se perder a complexidade alcançada com a idade das parras.

Para fazer essa renovação, há duas maneiras básicas. A primeira é mais drástica e envolve a remoção de parcelas inteiras do vinhedo de uma só vez, deixando outras intocadas. A vantagem de arrancar uma parcela inteira é que isso oferece ao produtor novas oportunidades em termos de introdução de novos porta-enxertos resistentes a doenças, novos clones de uma determinada variedade ou mesmo trazer uma variedade completamente nova para o vinhedo. Por outro lado, a desvantagem é que, ao fazer isso, o produtor está voluntariamente reconhecendo que uma parte do vinhedo não trará nenhuma receita até que essa nova parcela de videiras amadureça e possa começar a produzir uvas capazes de fazer vinho. Normalmente, esse processo leva cerca de três a cinco anos.

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As seleções massal e clonal são as principais práticas usadas pelos viticultores para replantar videiras

Outra tática usada é o “interplantio” que não é tão drástico economicamente. Como o nome sugere, novas videiras são introduzidas nas linhas existentes, plantando-as entre as parras já estabelecidas. Uma das principais desvantagens do interplantio gira em torno da competição entre as videiras, pois as mais jovens podem lutar por nutrientes, luz solar e recursos hídricos com as mais antigas.

É aí que entra as seleções massal e clonal, elas são as principais práticas usadas pelos viticultores para propagar novas videiras. Ambas se destinam a melhorar uma variedade de videira selecionando as melhores e eliminando as que são propensas a doenças ou então não se mostraram adequadas com o tempo. O que é cada uma dessa seleções?

Seleção clonal

A seleção clonal foi demonstrada pela primeira vez na Alemanha em 1926. Ela é realizada selecionando apenas uma planta (tida como superior dentro de um vinhedo) e criando clones em um viveiro. Os defensores da seleção clonal acreditam que este método é a melhor forma de combater as doenças, proporcionando aos viticultores melhores rendimentos e melhores videiras.

O processo de seleção clonal é demorado e custoso. Para fazer seleções confiáveis são usados vários anos de registros, seguidos por ensaios comparativos de muitos clones diferentes de uma variedade. Depois de esperar três anos pela primeira colheita, cinco a 10 anos adicionais são gastos monitorando os rendimentos e a maturação dos frutos. Muitas vezes é feito um vinho teste para avaiar a veracidade do tipo varietal e sua qualidade na bebida.

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Na seleção massal replicam-se parras que são, na maioria das vezes, retiradas de vinhas velhas

Devido a esse processo demorado, os clones selecionados não são liberados até 15 anos ou mais após a seleção inicial no vinhedo. Mesmo com seleção meticulosa e cuidados contra doenças, a mutação e disseminação de vírus ainda são possíveis; assim, a seleção clonal costuma ser um processo contínuo.

Seleção massal

A seleção clonal se tornou popular nas décadas de 1960 e 1970, mas hoje muitos vinhedos estão mudando seus métodos de plantio de volta para a seleção dita massal. Nela, replicam-se parras que são, na maioria das vezes, retiradas de vinhas velhas e que demonstraram qualidade e resistência às doenças ao longo de muitos anos, o que também garante que as novas plantas mantenham a identidade da área da vinha, do solo, da região; o terroir.

Os viticultores selecionam aquelas videiras que acreditam ser superiores, com boa maturação dos frutos, menos propensas a doenças e bom rendimento. As que apresentam qualidades negativas ou sofreram mutações são marcadas para não serem selecionadas para propagação e, em alguns casos, removidas da vinha. O ideal é que essa seleção ocorra várias vezes ao longo da safra, pois certos sintomas de doença estão presentes em diferentes épocas do ano e a maturação e amadurecimento dos frutos são vistos mais próximos da colheita.

Para garantir os benefícios da seleção massal, apenas as mudas superiores são selecionadas, escolhidas mantendo registros de crescimento e desenvolvimento da videira rotineiramente ao longo de uma temporada de crescimento e, muitas vezes, ao longo de décadas de monitoramento.

Diferenças

Os defensores da seleção clonal afirmam que o método melhora o rendimento dos vinhedos, garante a qualidade, combate doenças e permite que os viticultores cultivem uvas com certas qualidades e rendimento. Os defensores da seleção massal atestam que a prática ofereçe frutas de maior qualidade, cria vinhos com mais caráter, que refletem o terroir e com o benefício adicional de resistência a doenças catastróficas devido à diversidade genética mantida no vinhedo.

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A seleção clonal é realizada selecionando apenas uma planta 

Há quem sugira que a seleção clonal é parcialmente responsável pela morte dos vinhedos (devido à pouca diversidade clonal). Mas não há estudos que confirmem essa tese. A seleção massal é utilizada pelos viticultores com o objetivo de conservar o patrimônio vitícola de uma “vinha velha”. Ela consiste em identificar as plantas mais valiosas nas parcelas, amostrar e propagar os rebentos da videira e depois replantá-los. Mas se nenhum teste sanitário for realizado, essa abordagem pode ser arriscada no que diz respeito à transmissão das doenças. A seleção clonal, por sua vez, inclui um conjunto de avaliações agronômicas acompanhadas de testes sanitários que garantem que o material esteja livre das principais viroses.

Por outro lado, há iniciativas rigorosas de seleção massal usando testes sanitários e observação de cepas ao longo de vários anos antes da seleção de um certo número de indivíduos para propagação. Nesse caso, a diferença entre as duas abordagens está principalmente no número de indivíduos que apresentam o comportamento desejado que passará a ser propagado, e tende a ser anulado se a seleção sucessiva aumentar o número de clones. Vale lembrar que indivíduos propagados por seleção massal também são, originalmente, clones de linhagens pré-selecionadas.

O resultado nos vinhos

Um vinho feito de uma seleção clonal, mesmo em diferentes terroirs, teria as mesmas características?

É difícil pensar nisso como um método de “unificar” características, pois os vinhedos geralmente são plantados com clones mistos. Em regiões do Velho Mundo é mais comum ter vários clones disponíveis de uma cepa, ao passo que algumas regiões do Novo Mundo podem sim ter apenas alguns de uma mesma variedade. Em um exemplo extremo, todas as plantações comerciais de Sauvignon Blanc da Nova Zelândia até 1990 eram do clone 1 dos Estados Unidos.

Os críticos da seleção clonal dizem que a seleção massal produz vinhos mais característicos do que os de um único clone. “Hoje, a maioria dos plantios ainda é feita com essa técnica, utilizando clones fornecidos por viveiro. Como resultado, acreditamos que, a longo prazo, uma vinha perde a sua identidade. Para evitar essa situação, decidimos agir antes que fosse tarde demais no Médoc. A seleção massal envolve a escolha de várias videiras excelentes do vinhedo e, em seguida, a propagação de novas videiras a partir desse broto. A seleção massal é realizada através de seleções de campo, tomando estacas cuidadosamente escolhidas de vinhas velhas. Para perpetuar a diversidade original, consideramos apenas parcelas plantadas há mais de 50 anos”, diz Jean Michel Cazes, do Château Lynch-Bages, defensor da seleção massal.

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No Oregon, a Ponzi Vineyards diz manter um sistema mesclado: “Um híbrido de seleção clonal e seleção massal, onde mais de 25 clones de Pinot Noir, selecionados para um local específico, são misturados e plantados aleatoriamente em uma única parcela. Esta técnica evoluiu ao longo de duas gerações com quatro décadas de avaliação e experiência trabalhando com muitos clones diferentes. Ponzi Vineyards agora tem videiras plantadas com seleção massal-clonal. Cada clone tem uma personalidade. Quando muitos são combinados em uma única parcela, a multiplicidade de características traz naturalmente complexidade e dimensão aos vinhos. Ao plantar esses clones aleatoriamente, como flores silvestres, abandona-se ainda mais a questão do clone e se concentra totalmente no terroir de um local”, aponta a enóloga Luiza Ponzi.

O que é um clone?

Segundo a Organização da Vinha e do Vinho, um clone é a descendência vegetativa que se conforma a uma estirpe escolhida pela sua identidade indiscutível, características fenotípicas e estado de saúde.

Nas plantas, qualquer propagação vegetativa, seja por alporquia, estaquia ou enxertia, resulta na produção de indivíduos estritamente idênticos do ponto de vista genético, ou seja, clones.

Qual o melhor clone?

Hoje, para se ter uma ideia, existem cerca de 1.000 clones diferentes de Pinot Noir no mundo, embora nem todos sejam comercialmente relevantes. De acordo com o Catálogo de Vinhas Cultivadas na França, 47 clones de Pinot Noir estão disponíveis para uso comercial na França; alguns também estão disponíveis fora do país.

No entanto, nenhum clone parece ser o melhor e a resposta para tudo.

Um clone adaptado para produzir tintos na Borgonha, por exemplo, não vai dar bons resultados nos espumantes de Champagne. De fato, são tão variadas as expressões e usos dos vários clones que é difícil para os vinicultores definirem qual eles acreditam ser o melhor e por quê.

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