O vinho e a saúde

Beber vinho retarda o envelhecimento, aumenta o Q.I. e dá (muito) prazer. Você tem sede de quê?

por Redação

Hervé de Brabandère/Stock.Xchng

Envelhecemos conforme vivemos. É imprescindível investir na saúde física, mental e social. O progresso da ciência fez com que cada vez mais pessoas vivam mais e já é possível nos prepararmos para a velhice. Precisamos nos manter sempre ativos física, mental e socialmente, ter hábitos saudáveis e, se possível, prazerosos. Baco, com seu divino saber, criou o vinho. Esse alimento-bebida (ou será elixir?) é capaz de agregar prazer e muitos benefícios para a saúde.

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O envelhecimento da célula, dos tecidos, dos órgãos e do organismo como um todo é uma ação dos radicais livres. Os antioxidantes são os responsáveis pelo combate à ação nociva dessas substâncias e, portanto, pelo efeito antiidade. Existem algumas substâncias que são excelentes antioxidantes, como a vitamina E, a vitamina C e os polifenóis. O próprio organismo produz algumas enzimas que combatem os radicais livres, como a superoxidismutase, a catalase e a glutation peroxidase. Porém, sua produção diminui com a idade. Isso quer dizer que, quanto mais velha uma pessoa fica, mais exposta ela está aos processos orgânicos do envelhecimento.

Os vinhos, sobretudo os tintos, são ricos em polifenóis, que são potentes antioxidantes, ou seja, "varredores" de radicais livres. São eles os principais responsáveis pela ação anti-idade dos vinhos. Por isso é fácil entender porque as pessoas de mais de 60 anos, que têm o hábito regular de beber até duas taças de vinho com as refeições, envelhecem com melhor qualidade de vida. Vários estudos feitos em diferentes partes do mundo mostram que essas pessoas são mais atentas e comunicativas, menos agitadas e incontinentes e têm um QI mais elevado.

Quem bebe vinho regularmente, com moderação e junto com as refeições, morre depois. Isso é o que mostram inúmeros estudos epidemiológicos. Estudos recentes e mesmo os feitos há muito tempo atrás como o do dr. Dougnac, em 1933, mostram que as pessoas que têm o hábito regular de beber vinho junto às refeições têm uma expectativa de vida de 25 a 45% maior. Se formos analisar os locais no mundo onde as pessoas são mais longevas, constataremos que quase todos são regiões vitivinícolas.

fotos: Murat Cokal e Sara Hammarbäck/Stock.Xchng

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Pesquisas desenvolvidas pelo National Institute for Longevity, do Japão, mostraram que quem bebe vinho moderadamente têm um Q.I. mais elevado do que quem bebe outras bebidas alcoólicas, ou não bebem. Isso mesmo corrigindo fatores sócio-econômicos- culturais. Outro trabalho na mesma linha de estudo é o do Professor Erik L. Mortensen, da Universidade de Compenhague, Dinamarca, publicado nos Archives of Internal Medicine. Nesse artigo, ele compara as pessoas que tomam vinho com as que tomam cerveja e que tinham entre 29 e 34 anos de idade. O que ele observou foi que os que tomavam vinho tinham menos distúrbios emocionais, eram socialmente mais integrados e tinham um Q.I. mais elevado, em média 18 pontos. Como se vê, beber vinho moderadamente é um ato de inteligência que preserva a inteligência.

O resveratrol é um dos cerca de 200 polifenóis encontrados no vinho e tem uma potente ação antioxidante. Cientistas da Universidade de Milão, Itália, descobriram que ele ativa a enzima mapquinase, que regenera os neurônios - as células cerebrais. Essa é possivelmente a chave do efeito neuroprotetor oferecido pelo vinho bebido moderadamente.

O Professor Jean-Marc Orgogozo, da Universidade de Bordaux, França, em 1997 apresentou um estudo que mostra que as pessoas que bebem 250 a 500 ml de vinho por dia, nas refeições, têm 75% menos chance de desenvolver a Doença de Alzheimer. Estudos subseqüentes mostram uma proteção semelhante para outros tipos de demência.

Um dos efeitos mais espantosos do vinho sobre o envelhecimento é na pele. Ele é tão impressionante, talvez porque a pele está exposta, e nela se pode observar diretamente a crueldade de que o tempo e os radicais livres são capazes. O colágeno e a elastina são substâncias que dão consistência e elasticidade à pele; a colagenase e a elastase são enzimas que destroem o colágeno e a elastina, respectivamente, fazendo com que a pele fique atrófica e menos elástica. Os polifenóis do vinho bloqueiam a ação da colagenase e da elastase. Além disso, melhoram a microcirculação e a hidratação da pele. Esses efeitos ocorrem por via tópica (direto na pele) e são potencializados se a pessoa também ingerir polifenóis - e a maneira mais agradável é, sem dúvida, bebendo vinho moderadamente.

O resveratrol, que existe em quantidade apreciável nos vinhos tintos, está sendo estudado pelo dr. David A. Sinclair e equipe da Universidade de Harvard e do Laboratório Biomol. Ele conseguiu aumentar em 70% a duração da vida de seres unicelulares chamados Saccharomyces cerevisiae tratando-os com resveratrol. Também uma espécie de moscas que duram cerca de 30 dias, quando recebiam o Resveratrol, passaram a viver em média 40 dias. A dose diária estudada nesses animais corresponde para o homem ao conteúdo de resveratrol existente em aproximadamente 3 taças de vinho.

O dr. Sinclair, nesse trabalho publicado na Revista Nature, atribui esse efeito ao fato do resveratrol aumentar a enzima Sir2, que estabiliza o DNA e com isso aumenta a vida da célula, diminui o declínio funcional na senilidade, deixando as pessoas mais saudáveis. Ele também reconhece que existem no vinho, pelo menos, outras 17 substâncias com uma possível ação anti-envelhecedora e que necessitam também ser estudadas.

O pesquisador italiano Alessandro Cellerino alimentou uma espécie de peixe do leste da África com resveratrol. Com, isso ele conseguiu que esses animais vivessem 50% mais e com uma condição "atlética" bastante superior ao grupo controle (peixes que não receberam resveratrol).

É muito importante ter em conta que nós não somos animais unicelulares, nem moscas e nem peixes. Que esses achados não podem ser transferidos de imediato para os humanos. O grande valor de estudos como esses é que eles começam a explicar porque acontece o que os estudos epidemiológicos há anos vêm mostrando. Eles também balizam outras pesquisas que culminarão com resultados aplicados à nossa espécie.

Envelhecer com saúde é um ato de respeito e gratidão com a natureza e o criador. O vinho, se bebido regular e moderadamente junto com as refeições, por quem não tem contra-indicação ao seu uso, é um aliado nesse intento. Saúde!

*Jairo Monson de Souza Filho é médico. E-mail: jairo@monson.med.br

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