Do Império Romano, pela Idade Média, até os nossos dias, o vinho acompanhou os principais momentos da história da humanidade e se transformou
por José Eduardo Aguiar E Marcel Miwa
Não há como falar de vinho sem mencionar sua história. O vinho, assim como a gastronomia, acompanha, evolui e se entrelaça com a história da humanidade. Para entendêlos, antes mesmo de poder apreciá-los e degustá-los, é necessário acompanhar um pouco de sua trajetória através destes mais de seis mil anos desde os seus primeiros relatos. Para ajudá-lo a compreender isso, traçamos uma linha do tempo.
IDADES ANTIGA E CLÁSSICA
7000 a.C
Embora o antigo Testamento diga: "E começou Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha", provém da Geórgia a primeira evidência de vinhas cultivadas intencionalmente. Historicamente, os indícios do cultivo das uvas Vitis vinifera - o que serve de base para o argumento de que as uvas eram cultivadas e o vinho presumivelmente elaborado - coincidem com a passagem das culturas avançadas da Europa e do Oriente de uma vida nômade para uma vida sedentária.
5000 a.C
Embora a bebida aparentemente já estivesse sendo consumida, deriva-se apenas desta data a mais antiga evidência de armazenamento de vinho, mais precisamente nas montanhas de Zagros, no irã.
3150 a.C
Já significando status social logo no início de sua utilização, em um período em que era abundante no delta do rio Nilo, o vinho tinha grande importância na época. Centenas de jarros contendo vestígios de vinho foram enterrados com o rei egípcio Escorpião i, um de seus primeiros governantes.
1750 a.C
O famoso Código de Hammurabi continha três tópicos (leis) relacionados ao vinho.
1500 a.C
Começa a se desenhar algo parecido com o que hoje vemos nas garrafas. São fabricados no Egito os primeiros recipientes de vidro oco, mais tarde produzidos e usados em grande escala pelos romanos. Há também registros detalhados dos métodos egípcios de colheita, produção e transporte do vinho, através de pinturas. Muitas das técnicas então ilustradas ainda são usadas até hoje.
750 a.C - 150 a.C
Os gregos dominaram técnicas de vinificação e levaram o cultivo de uvas para a itália (que ficou conhecida com Enotria - terra do vinho), França (Marselha) e Espanha. Os gregos foram responsáveis pela industrialização do vinho no sul da itália e os etruscos na Toscana. Os gregos também desenvolveram as ânforas, que eram usadas para fermentar, envelhecer, armazenar e transportas vinhos.
IMPÉRIO ROMANO
150 a.C - 100 a.C
Os romanos começaram a investir seriamente em agricultura e identificar as melhores regiões para se cultivar vinhas. O império Romano ampliava seus domínios e o vinho atuava quase como instrumento para demarcação de território.
100 - 500
Esta época marca a incidência de vinhedos em famosas regiões francesas. No século i no Loire e no Rhône, no século ii na Borgonha, no século iV em Paris, Champagne e alsácia. Com o fim do domínio romano no século V, os vinhedos franceses já estavam consolidados.
300
As antigas ânforas começam a ser substituídas por barris para o transporte do vinho.
IDADE MÉDIA
500
A queda do império Romano e afetou as rotas comerciais e gerou efeitos adversos na produção vinícola. Porém, a incorporação do vinho à igreja fez manter viva a viticultura. Era justamente graças à igreja que o futuro dos vinhedos europeus estava assegurado. O vinho possuía dupla função: cerimonial e prazer.
750
Ainda sofrendo as consequências da "idade das Trevas", muitas vinícolas francesas e alemãs são ajudadas pela paixão do imperador Carlos Magno, que organiza e estabelece uma detalhada legislação para o plantio de vinhas.
1100
Robert de Molesme separou-se dos beneditinos e fundou a ordem cisterciense, com base na Borgonha, trabalhando nos vinhedos da região.
RENASCENÇA
1100 - 1450
Bordeaux estava sob domínio inglês e se desenvolveu sem influência da igreja. Sua produção era voltada para abastecimento da coroa britânica.
1453
Bordeaux volta ao domínio francês. ao mesmo tempo, vinhos mais adocicados entram em moda.
IDADE MODERNA - NAVEGAÇÕES
1450 - 1600
O vinho possuía status bastante valorizado, com alto consumo e de forma estável. a cerveja da época se deteriorava muito rapidamente (ainda não utilizavam o lúpulo na fabricação) e a água não era considerada segura para beber. Sendo assim, o vinho era a principal bebida sã, armazenável e ainda prazerosa.
1600 - 1700
A tecnologia desenvolvida para produção de garrafas de vidro mais resistentes e baratas conseguiu manter o mercado do vinho ativo. descobriuse que o vinho engarrafado e arrolhado durava muito mais que nos barris de madeira, recipiente mais utilizado até aquele momento. além de ser um recipiente mais prático. da mesma forma, identificaram que a bebida podia evoluir na garrafa, valorizando os vinhos com maior potencial de envelhecimento. Em 1630, as primeiras garrafas de vidro modernas são fabricadas em Newcastle, na inglaterra.
1700
No início do século XViii, o vidro já era resistente o suficiente para o transporte, armazenamento e envelhecimento do vinho. assim, surgiram fábricas por toda a parte, e aumentou a ofertas por garrafas.
REVOLUÇÃO FRANCESA
1700 - 1800
Com a intensificação da guerra entre França e inglaterra, os vinhos de Bordeaux não chegavam mais aos ingleses. Neste momento, o grande beneficiado foi o vinho do Porto, inicialmente consumido pelos britânicos por falta de opções. depois passou a ser apreciado por sua ótima capacidade de envelhecimento.
1784
Após ser embaixador americano na França, Thomas Jefferson (imagem ao lado) levou muitas vinhas para os Estados Unidos. Como presidente, reduziu os impostos e não mediu esforços para promover a viticultura em seu país.
1821
O pai do champanhe, dom Pérignon, passou grande parte da vida tentando eliminar a efervescência dos vinhos, que considerava um defeito, mas sabia como produzir bolhas. Quando os espumantes se tornaram moda (ele já tinha 60 anos), seus conhecimentos foram valiosos. Em 1821, recebe o crédito pela invenção do champanhe.
IDADE CONTEMPORÂNEA
1800 - 1900
Em 1855, foi realizada a classificação, até hoje em vigor, dos vinhos de Bordeaux. Poucos anos depois, Pasteur concluía as primeiras pesquisas identificando a ação das leveduras na fermentação do vinho. a Califórnia começava a despontar como região vinícola. Nesta mesma época, a praga filoxera começou a atacar os vinhedos na Europa e, no final do século, já havia dizimado grande parte dos vinhedos europeus.
GUERRAS MUNDIAIS E A ERA TECNOLÓGICA
1900 - 2000
A ocorrência da Grande depressão, Guerras Mundiais e Lei Seca deixaram o cenário não muito otimista para o vinho. ao menos, no início do século, enxertos de videiras resistentes à filoxera começaram a se espalhar pela Europa. Somente na segunda metade do século, com o fim da ii Guerra e da Lei Seca, o vinho conseguiu voltar de forma sólida ao mercado. desta vez, com grande apoio científico: foram inaugurados famosos institutos de enologia em Bordeaux, Montpellier (ambos França), Geisenheim (alemanha), davis (Estados Unidos) e Roseworthy (austrália). O grande controle dos processos de cultivo da videira e de fermentação permitiram que a cultura da produção de vinho se expandisse para os quentes países do Novo Mundo. a "moda" americana dos vinhos varietais facilitou a popularização da bebida. Consegue-se plantar quase todas as variedades de uva em zonas de cultivo com características muito diversas.
1976
Em uma degustação às cegas em Paris, que incluiu vinhos de Bordeaux e californianos baseados em Cabernet, os jurados se surpreenderam ao dar o primeiro lugar a um vinho norte-americano. O resultado abriria as portas para os vinhos do Novo Mundo.
2000
Safra de alta qualidade em Bordeaux anuncia o auge da era "comercial" no mundo do vinho.
NOSSOS DIAS
2000 - tempos atuais
Os processos de produção são rigorosamente controlados. Identifica-se os clones de videiras e escolhe-se a levedura mais adequada ao estilo de vinho desejado. A colheita conta com ajuda de máquinas; as barricas de carvalho, taninos e ácidos enológicos fazem parte do arsenal à disposição do produtor, e este, por sua vez, pode contar com consultoria internacional para produzir vinho em quase todas as terras do globo. Ao mesmo tempo, podemos observar uma "contracorrente" que prefere cultivar uvas organicamente, ou de forma biodinâmica, e tentam intervir o mínimo possível nos processos de vinificação, valorizando as castas autóctones. Estamos na era da diversidade.
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