Peru e Chile que até hoje discutem a origem da bebida e também quem faz o melhor produto
por Por Cesar Adames
Assim como Cognac e Tequila, o Pisco sempre esteve associado a um país de origem. Neste caso, dois: Peru e Chile, que até hoje discutem a origem da bebida e também quem faz o melhor produto.
Para tentar explicar um pouco essa história, é bom lembrar que, no princípio de tudo, a bebida surgiu quando não existia nenhum dos dois países. Tudo era um grande pedaço de terra controlado pelo Império Inca, que se estendia do que hoje é o Equador até o centro do Chile.
Clique aqui e assista aos vídeos da Revista ADEGA no YouTube
Em 1532, Francisco Pizarro chegou a esse território e, três anos mais tarde, fundou a cidade de Lima, também conhecida como Cidade dos Reis, tornando-se posteriormente a capital do Vice-Reinado do Peru em 1542. Sob domínio espanhol, a cidade foi de suma importância, pois todas as riquezas passavam por lá antes de seguirem para a Espanha.
Com a chegada dos missionários espanhóis, vieram as primeiras videiras plantadas sempre próximas às igrejas para garantir o vinho utilizado no ritual das missas. Em 1546, chegou ao Peru Francisco de Carabante, sacerdote espanhol que trouxe as primeiras variedades viníferas.
LEIA TAMBÉM: Coquetel Pisco Sour vira febre no Peru
Dois anos depois, ele viajou através do porto de Talcahuano e aportou em La Serena, cidade costeira do Chile. O primeiro viticultor a plantar uvas viníferas foi Don Francisco de Aguirre, um cruel conquistador que se dedicou ao plantio em Copiapó.
As excelentes condições climáticas e de solo produziram safras abundantes que atendiam a toda população, com sobra. Foi daí que surgiu a ideia de destilar o excesso, elaborando uma bebida cristalina e aromática. O problema foi que o Vice-Reinado da Coroa não permitiu sua comercialização.
LEIA TAMBÉM: Seleção traz os melhores tintos do Chile até R$ 1.250
A solução encontrada foi a venda clandestina ou o envio para outros locais através do porto de Pisco, na cidade de mesmo nome, que hoje pertence ao Peru. Esta, então, é uma das possibilidades do surgimento do nome utilizado até os nossos dias.
Com a história do Pisco chileno, contudo, muitos documentos originais se perderam nos séculos XVI e XVII durante os vários terremotos pelos quais a região passou. A cidade de La Serena, no Chile, fundada em 1544 e fundamental na evolução do destilado, também foi incendiada e saqueada duas vezes pelos índios.
Ainda assim, o Pisco é considerado bebida nacional do Chile, sendo produzido a 300 quilômetros ao norte de Santiago, nos vales de Elqui e Limarí, onde se pode percorrer a “La Ruta del Pisco” e conhecer as principais pisqueiras do país.
Para elaborar Pisco, a lei determina cinco variedades: Moscatel de Alexandria, Moscatel Rosada, Moscatel de Áustria, Pedro Jiménez e Torontel. As castas Moscatel Rosada e de Alexandria têm maior potencial aromático, mas menor rendimento. Já a Pedro Jiménez e a Moscatel de Áustria têm produção maior e uniforme, fazendo com que sejam as mais plantadas. Além dessas cinco uvas principais, é possível utilizar Moscatel de Frontignan, de Hamburgo, Negra e Amarela.
O Pisco pode ser destilado duas ou três vezes e, depois, armazenado em barricas de carvalho americano, que conferem um toque premium, como Cognac, Whisky e Tequila. Por lei, todos os piscos devem ter repouso mínimo de 60 dias em tanques de aço inox ou de madeira. Já os envelhecidos devem ter, no mínimo, seis meses para poder usar na garrafa o termo “guarda” e um ano para receber o nome de envelhecido.
LEIA TAMBÉM: Peru pode ser o próximo grande produtor de vinho do mundo
O Chile ainda utiliza uma forma antiga de classificar seus piscos por teor de álcool. Dessa forma, temos o Pisco corrente ou tradicional com 30º; o Pisco Especial com 35º; o Pisco Reservado com 40º; e o Gran Pisco com 43º. Apesar de ser uma medida corrente para os chilenos, que já estão acostumados, isso pode induzir o consumidor a comprar sempre os piscos de menor teor alcoólico por acharem que os demais seriam mais agressivos no paladar.
O Pisco é uma bebida que permite a criação de vários drinques, mas o mais clássico e emblemático é o Pisco Sour (com sumo de limão, pimenta e clara de ovo). Ainda assim, no Chile, há um grande consumo de Piscola, mistura de Pisco com refrigerante à base de cola.
A ideia de uma rota do Pisco surgiu em 2003, seguindo um modelo de sucesso mexicano da “La Ruta del Tequila”. O projeto foi desenvolvido em parceria com Capel e Mistral, duas das principais produtoras do país, que trataram de abrir suas destilarias para os turistas e oferecer outros serviços, como um Museu do Pisco, degustações dirigidas, restaurantes e lojas.
Para quem vai ao Chile, o roteiro ideal é pegar um voo de Santiago até La Serena (de carro são 5 horas) e de lá visitar as duas destilarias. Capel fica a 45 minutos de La Serena e Mistral, a duas horas.
A Cooperativa Agrícola Pisqueira do Vale de Elqui foi criada em 1934 como Cooperativa Sociedade de Produtores de Elqui por 30 agricultores que arrendaram duas plantações na cidade de Paihuano, onde hoje a maioria dos associados tem suas plantações. Em abril de 1938, ela se transformou em Cooperativa Agrícola Pisqueira Elqui Limitada, que deu origem à sigla Capel, com o objetivo de centralizar a produção e venda em uma só estrutura.
Atualmente, tem cerca de 1.300 cooperados e utiliza um sol como logotipo, simbolizando a média de 300 dias de luminosidade ao ano no Vale de Elqui, o que é perfeito para o desenvolvimento das videiras.
Outro gigante produtor de Pisco é a Companhia Pisquera de Chile S.A., que nasceu em março de 2005 da associação da Companhia Cervejeiras Unidas (CCU) e da Cooperativa Agrícola Control Pisqueiro de Elqui e Limarí Ltda., que já produzia a marca Control.
Outra marca criada em seguida foi a Mistral, uma homenagem à prêmio Nobel em Literatura, Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, que escolheu o pseudônimo de Gabriela Mistral e nasceu em Vicuña, cidade próxima de La Serena. Além das marcas Control e Mistral, a CCU também produz os piscos Campanario, Ruta Norte, La Serena, Tres Erres e Horcón Quemado.
Por fim, vale lembrar que a família francesa Marnier Lapostolle trouxe para o hemisfério sul seu know-how na produção de destilados, já que produz o famoso licor Grand Marnier. Seu Pisco chama-se Kappa, nome que vem da constelação Kappa Crucis, descoberta pelo astrônomo francês Nicolas Louis de Lacaille em 1751. É um ultra-premium, destilado duas vezes, com produção limitada a 5 mil caixas por ano.
+lidas
A tulipa é a taça ideal para espumantes?
Família Torres investe €6 milhões em vinhos sem álcool
Por que o processo de esmagar uvas com os pés ainda é usado
Vinho tinto deve ser armazenado dentro da geladeira, diz especialista
Banco de vinhas antigas já conta com mais de 4.000 registros ao redor do mundo