A região da Alsácia, na fronteira entre França e Alemanha, foi motivo de disputas seculares entre franceses e alemães
por Aguinaldo Záckia Albert
A Alsácia é a mais peculiar das regiões produtoras de vinho da França. Situada entre as margens do rio Reno (a leste), que delimita hoje a fronteira franco-alemã, e a cordilheira de Vosges (a oeste), esta região tem uma história conturbada, pontuada por guerras e conflitos, o que fez com que fosse considerada, por várias vezes e de forma alternada, território alemão e francês.
Para não irmos ainda mais longe no tempo, entre os anos 962 e 1648, a Alsácia fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico, que cedeu à França nesse último ano, pelo Tratado de Westfália, a parte sul de seu território. Anos mais tarde, em 1681, a parte setentrional, onde se situa Estrasburgo, foi também anexada ao território francês. Dessa forma, durante um longo período, que terminou em 1871, a Alsácia (juntamente com a Lorena) foi área integrante da França.
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Vencida na guerra de 1871 contra o Império Alemão, a França cedeu o território ao seu tradicional inimigo, só retomando-o em 1919, com a vitória dos aliados na I Guerra Mundial. O Tratado de Versalhes sacramentou o fato. A Alsácia permaneceu francesa até 1940, quando as forças do III Reich invadiram a França e tomaram-na. A retomada francesa ocorreu pouco depois, em 1945, com a derrota alemã. Desde esta data, a região pertence à França.
Tantos conflitos têm seu motivo, pois a Alsácia e a Lorena são zonas estratégicas, perto de onde começa o rio Reno, que atravessa seis países (Suíça, Áustria, Liechtenstein e Países Baixos, além de França e Alemanha) e deságua no mar do Norte. Hoje, ela é uma das províncias francesas mais ricas (a segunda do país, atrás apenas de Ilê-de-France) e de extrema importância política e econômica, lembrando que em Estrasburgo situa-se a sede do Parlamento Europeu.
Por tudo isso, a Alsácia possui hoje uma forte identidade cultural, às vezes francesa, às vezes alemã, o que torna a visita a essa belíssima região, arduamente reconstruída depois da destruição da II Guerra, uma experiência extremamente rica e curiosa.
Diante de tantos conflitos ao longo dos séculos, houve algo na Alsácia que sempre esteve acima das disputas franco-germânicas: o seu vinho. Em especial, o branco, tão famoso e aclamado mundialmente. Quando alguém fala em Riesling e Gewürztraminer, a primeira associação que se faz é com essa maravilhosa província (por enquanto) francesa.
A região produtora de vinhos da Alsácia se estende por 110 quilômetros, desde a cidade de Thann, perto da fronteira suíça, até Marlenheim, ao norte, próximo de Estrasburgo. A zona vitivinícola se divide em duas: Alto Reno e Baixo Reno. Percorrer a “Rota do Vinho”, que corta todo o território, e visitar suas encantadoras cidades medievais e seus vinhedos realmente vale a pena.
É imprescindível passar por Colmar, Turkheim, Riquewir, Ribeauvillé, Selestat, Obernai e, finalmente, Estrasburgo, a metrópole regional, com todos os seus encantos e sua rica vida cultural e gastronômica.
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A variedade de microclimas e solos que se encontra pelo caminho é enorme, o que possibilita ao vinhateiro alsaciano adaptar da maneira mais sábia as uvas regionais aos terrenos mais adequados. O peso do conceito de terroir é ali levado tão a sério quanto na Borgonha, e o resultado são vinhos brancos de grande equilíbrio e fineza.
Granito, argila, calcário, areia e greda são os elementos que constituem esse rico mosaico de terrenos, fruto do desmoronamento de partes das montanhas do maciço de Vosges e da Floresta Negra, ocorrido há cerca de 50 milhões de anos.
As castas brancas dominam a Alsácia. Apenas 8% dos vinhos são tintos ou rosés (geralmente para consumo local), e os restantes 92% são utilizados na elaboração de vinhos brancos tranquilos e espumantes. As variedades principais são sete:
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Todos os vinhos alsacianos são da categoria AOC (Appellation d’Origine Contrôlée). Ligados à tradição alemã, os vinhos ostentam no rótulo o tipo de uva com que são feitos – quando são monovarietais (100% da mesma uva, na maioria dos casos). Quando se utiliza uma mistura de várias cepas, o nome “Edelzwicker” aparece no rótulo. São três as categorias dos vinhos:
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