Projeto de Jesús Marino Pascual mostra como um terreno complicado pode ser a chave para uma arquitetura singular
por Arnaldo Grizzo
Jesús Marino Pascual é um arquiteto renomado no mundo do vinho. Entre suas obras nesse campo estão o projeto do museu da cultura do vinho da Bodega Vivanco, em Briones; o desenho da Bodegas Darien, em Logroño; assim como o da Bodega Sommos, em Barbastro.
Entre suas obras espetaculares também está a Bodega Antión, em Elciego, no norte da Espanha, no País Basco.
“Era um terreno complicado em sua forma, um programa muito amplo. A solução foi adaptar-se ao terreno e enterrar a vinícola. Bioclimatismo, produção por derramamento, aproveitando a gravidade, tecnologia, paisagem e uma imagem exterior amigável, que não seria deslocada na área, mas seria um identificador da marca”, resume Pascual sobre o projeto que começou em 2002 e terminou em 2008.
O terreno de 18.127 metros quadrados acomoda áreas de produção e armazenamento de até 1 milhão de litros de vinho por ano, como também integra 12 suítes de luxo, um restaurante exclusivo, uma área de degustação de vinhos, instalações administrativas, salas de reuniões e uma loja de vinhos.
Para incorporar todas essas áreas num edifício de 12.165 m2, utilizou-se uma técnica de construção sequencial incorporando vários níveis blocados, colocados lado a lado e em cima uns dos outros. A Bodega Antón é como uma “videira walk-in” que não só oferece aos visitantes uma experiência completa do vinho, mas também representa uma obra de arte arquitetônica.
Sim, o terreno era muito desigual. Assim, o projeto contemplou “enraizar a vinícola na terra como se fosse uma videira”. A maior parte do edifício está subterrâneo, coberto por uma manta verde, sem alteração da paisagem. Esta é a parte operacional, que exige a manutenção de uma temperatura uniforme.
Os edifícios subterrâneos emergem gradualmente do terreno de diferentes maneiras, cada um com sua identidade distinta, em formas e tamanhos variados. O topo do edifício de produção pode apenas ser vislumbrado ao norte, enquanto quase todo o prédio se destaca ao sul, concebido com uma fachada ventilada para o proteger do impacto direto do sol.
O edifício retangular, que abriga o armazém e a linha de engarrafamento, protege a face sul onde se faz o envelhecimento do vinho. A face oeste também está protegida desta forma, enquanto a leste é subterrânea.
Mas, o ponto de referência dos visitantes são doze quartos que se abrem para uma paisagem de vinhas e montanhas. Esta é a área para receber a luz do sol, que estabelece um vínculo com o ar livre. Ou seja, além da vinícola, há um hotel e um restaurante de alto padrão.
Predomina no complexo o concreto monolítico ocre, com detalhes de aço inoxidável que coroa o grande cilindro da sala de vinificação, coerente com a sua função, servindo também de referência.
Paralelamente ao circuito operacional, o projeto contempla um percurso para que os visitantes possam desfrutar de vistas panorâmicas de cada área, sem interferir no processo de vinificação. Foram necessários 12.000 m3 de concreto na obra. Um elemento-chave que cria uma sensação de continuidade entre todas as seções do edifício é sua cor. Para produzir o tom ocre, pigmento de óxido de ferro amarelo foi misturado ao concreto.
Essa mistura foi produzida in loco em uma betoneira no canteiro de obras para que a cor desejada pela equipe de arquitetos pudesse ser produzida de forma fácil e limpa. Assim, tudo isso se traduz em uma obra brilhante e, ao mesmo tempo, totalmente integrada com a paisagem.
+lidas
1000 Stories, história e vinho se unem na Califórnia
Curso de vinhos para iniciantes, no RJ
Notas de Rebeldia: Um brinde ao sonho e à superação no mundo do vinho
Chilena Casas del Bosque é atração turística com vinhos do Vale de Casablanca
Uruguai segue exemplo argentino e investe em enoturismo