Tudo começa com os cuidados com o solo e os vinhedos, no terroir bordalês onde o Petrus nasce
por Redação
Elaborado quase exclusivamente de Merlot – poucas safras recebem um toque de Cabernet Franc, mas nunca mais do que 5% - é o exemplar máximo da casta que apesar de plantada em todo o mundo, é no Pomerol, sub-região de Bordeaux, na França que ela se destaca.
Assim é produzido o lendário Petrus, o vinho que todo Merlot gostaria de ser, responsável por grande fascínio sobre enófilos do mundo inteiro. Qualquer lista de maiores vinhos do mundo conterá obrigatoriamente o Petrus.
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Curiosamente vindo de uma das regiões produtoras mais tradicionais, como é Bordeaux, ele tem uma história recente e nenhuma classificação oficial de “Grand Crus”. A primeira vez que se destacou foi em 1878, quando ganhou medalha de ouro num concurso internacional em Paris. Mesmo assim recebeu pouca atenção, só ganhando destaque após as excepcionais safras de 1945 e 1947.
No século 19, a propriedade pertencia à família Arnaud, que no início do século 20 criou a “Sociedade Civil do Château Pétrus”, colocando à venda ações da empresa. Parte delas foi comprada em 1925 por madame Loubat. Outra parte viria a ser comprada mais tarde por Jean-Pierre Moueix, importante comerciante de vinhos da região.
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Na década de 1960, com a morte de madame Loubat, a empresa foi herdada por uma sobrinha, Lily Paul Lacoste, e por um sobrinho, Monsieur Lignac. Logo depois, Jean-Pierre Moueix comprou a parte de Lignac, passando a dividir a posse do domaine com Lily Lacoste.
Em 1999 Lily foi afastada da direção – e só então a família Moueix revelou que possuía o domínio integral da sociedade desde 1969, quando adquiriu sigilosamente as ações em poder da velha senhora que faleceu em 2006 aos 99 anos.
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Em 2018 a família Moueix vendeu 20% do Petrus para o bilionário Alejandro Santo Domingo, CEO da cervejaria colombiana Bavaria. A vinícola possui uma modesta produção de apenas 32 mil garrafas, em média, por ano.
Mas qual é o segredo deste vinho? A resposta vem exclusivamente do solo e dos cuidados com o vinhedo. As técnicas de vinificação são muito simples e, basicamente, as mesmas desde o século 19. Ao contrário do Médoc (principal sub-região bordalesa), onde predomina a Cabernet Sauvignon, o Pomerol é o reino da Merlot.
E ao contrário da Cabernet Sauvignon, a Merlot é mais sensível à colheita e tem que estar no ponto certo para ser colhida e produzir um grande vinho. Por isso o terroir do Petrus é o diferencial.
Ele ocupa um pequeno terraço de 11,5 hectares de extensão e 40 metros de altura, com solo de argila azulada pura, o que o distingue dos outros vinhos da região, onde o calcário predomina. Esta argila é tão compacta que não absorve água, tendo uma excepcional drenagem.
Nas últimas décadas, a vinícola implantou novos métodos de poda, reduzindo o rendimento do vinhedo para 30 hectolitros por hectare, para que o vinho concentrasse mais sabor e aromas.
Implantou sistemas de recolhimento das folhas para melhorar a exposição ao sol dos cachos de uva, favorecendo o amadurecimento. Chegou até a usar helicópteros para sobrevoar os vinhedos e secar as uvas na época da colheita.
Nos últimos anos, a extravagância foi substituída pelo soufflause, uma espécie de secador de cabelos gigante usado pelos colhedores, para que os cachos sejam colhidos sem orvalho. Além disso, usam lampiões a óleo para aquecer o vinhedo em noites mais frias e evitar o congelamento.
As vinhas são antigas, com idade média de cerca de 45 anos, e a reposição se dá ao atingirem 70 anos. A vinificação é extremamente cuidadosa, porém bastante simples. A fermentação é feita, não em madeira ou em recipientes de aço inoxidável, mas em cubas de cimento. Depois, o vinho amadurece de 22 a 28 meses em barricas de carvalho - somente carvalho novo. Ao final, sem ser filtrado, é clarificado com clara de ovo.
O Petrus é a estrela de leilões em todo o mundo, é o vinho mais procurado por investidores. Sua valorização nos últimos anos tem superado vários tipos de investimento. O retorno é tão garantido que sua produção é 99% vendida en primeur, antes de ser produzida. O 1% restante é reservado para acervo da família. Uma garrafa de uma boa safra, bem conservada, significa lucro garantido. Neste caso, guardar vinho não é apenas um prazer, mas um bom negócio.
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