A joia de Rutherford

Quintessa, um projeto ousado dos chilenos Agustin e Valeria Huneeus no Napa

Quintessa é a realização de um projeto do casal Agustin, ex-CEO da Concha y Toro, e sua esposa, Valeria Huneeus em Rutherford

Quintessa foi fundada em 1989 e as videiras plantadas pela primeira vez no ano seguinte
Quintessa foi fundada em 1989 e as videiras plantadas pela primeira vez no ano seguinte

por Redação

Poderia ser um dos maiores ícones do Napa produto de um sonho de chilenos? Pois a vinícola Quintessa é a realização de um projeto do casal Agustin, ex-CEO da Concha y Toro, e sua esposa, Valeria Huneeus em Rutherford.

Lá eles encontraram uma propriedade de cerca de 115 hectares das quais 65 são cultivadas – orgânica e biodinamicamente – com vinhas de Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot e Carménère em 26 parcelas de vinhedos.

A história começa no Chile, quando Agustin Huneeus herdou um negócio de pesca de seu pai aos 20 anos, mas logo surgiu a oportunidade de investir na Viña Concha Y Toro – que ele ajudou a transformar na maior referência em vinhos chilenos do planeta. Aos 27 anos, em 1960, Agustin era o CEO vinícola.

No início da década de 1970, ele trabalhou na Seagram, um dos maiores conglomerados de bebidas do mundo, começando com a Seagram Argentina e, em poucos anos, supervisionando suas operações mundiais a partir de Nova York. Em seguida, ele se envolveu em um grande número de empreendimentos de vinho. Foi então que, em 1999, fundou a Huneeus Vintners (dona da Quintessa, entre outras marcas e propriedades).

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Agustin, ex-CEO da Concha y Toro, e sua esposa, Valeria Huneeus

Valeria, sua esposa, é microbióloga e viticultora, e foi quem descobriu as terras à venda que hoje constituem a vinícola Quintessa em Rutherford. Esta foi uma das últimas grandes propriedades ditas “virgens” (nunca antes plantada com uvas) do Napa Valley disponíveis no momento da compra.

Quintessa foi fundada em 1989 e as videiras plantadas pela primeira vez no ano seguinte. Na época, eles cultivaram inclusive em algumas encostas mais íngremes – pouco antes de uma lei ser aprovada proibindo plantações em inclinações superiores a 30%. A vinícola então passou a fazer parte do portfólio de marcas da Huneeus Vintners, que inclui nomes como Illumination (produção limitada de Sauvignon Blanc feita em Quintessa), Faust Vineyard, em Napa Valley, Flowers Vineyards & Winery, em Sonoma, Leviathan, marca do Napa Valley fundada pelo enólogo Andy Erickson, e a vinícola Benton-Lane, com sede em Willamette Valley.

Um só vinho

Desde o início, Quintessa produz um só vinho por ano, um Cabernet Sauvignon (equilibrado com algumas outras variedades em pequenas porcentagens). Não há segundo rótulo ou variações, apenas ele e o branco Illumination (considerado uma marca a parte). A primeira safra lançada comercialmente do tinto foi a de 1994. O lema da vinícola é “o bom vinho é o reflexo do lugar”.

E para descobrir o reflexo desse lugar, os Huneeus contrataram ninguém menos que Pedro Parra – apelidado de “Dr. Terroir” por sua expertise. Ele mapeou todas as parcelas de vinhedos da propriedade antes da colheita de 2019, identificando variações individuais do solo e também cavando poços de solo estrategicamente para continuar a entender melhor a propriedade por meio do uso de eletrocondutividade. Outro nome importante para entender o terroir de Quintessa foi o da geóloga Brenna Quigley.

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Os vinhedos são cultivados organicamente (com certificado CCOF)

Os vinhedos são cultivados organicamente (com certificado CCOF) e também são supervisionados usando práticas biodinâmicas. Sua abordagem, como Pedro Parra gosta de frisar, é holística. O renomado consultor de vinhos francês Michel Rolland também foi consultor da vinícola no passado. Hoje a enologia está a cargo de Rebekah Wineburg.

Morros

O nome Quintessa faz alusão à palavra “cinco”, teoricamente em referência às cinco colinas da propriedade, mas Huneeus admite: “Às vezes você faz as coisas e depois as justifica. Isso vem de ‘quintessencial’, que era uma palavra que aparecia com bastante frequência por aqui. Então justificamos dizendo que tínhamos cinco morros, cinco tipos de solo. A verdade é que com cinco me senti bem. Mas cada parcela do vinhedo poderia ter se transformado em nosso nome”. Então, Quintessa pode ter sido chamada de Las Casas, Cruz del Sur, Dragon's Terrace ou Limelight, por exemplo.

Como as videiras nunca haviam sido cultivadas na propriedade, o casal diz que descobrir quais castas iriam funcionar foi por tentativa e erro e que recentemente replantaram 30% das terras em que “cometeram erros”. “Trouxemos pessoas de Bordeaux, Napa e de todo o mundo, e todos nos disseram para plantar Cabernet. Foi um erro – um erro muito clássico. Você não sabe o que o terroir vai render até plantar e testar”, diz. Como bom chileno, Huneeus também resolveu testar Carménère, com uma parcela bem pequena.

Além das variedades, eles avaliaram espaçamentos e orientação de fileiras. No início, as fileiras foram plantadas de acordo com a configuração do terreno. Hoje, contudo, o layout é “totalmente dedicado ao sol” e os espaçamentos reduzidos. Atualmente, Agustin e Valeria entregaram a gestão da propriedade a seu filho, Agustin Francisco.

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O nome Quintessa faz alusão à palavra “cinco”, teoricamente em referência às cinco colinas da propriedade

Seus vinhos só são adquiridos mediante o ingresso em uma lista de interesse e, ano após ano, as safras se esgotam imediatamente no lançamento.  Em 2020, Quintessa introduziu o programa “Decade Release”, lançando um número limitado de garrafas de sua biblioteca com 10 anos de idade, joias procuradas pelos seus apreciadores.

Snowball Ranch e o armênio

Acredita-se que a história da propriedade onde hoje está Quintessa possa ser onde era o Snowball Ranch, cujo nome se deve a Robert Young (R.Y.) Snowball e sua esposa Amelia, falecidos em 1891. Depois disso, as terras passaram por outros donos, como Thomas Swortfiguer (que foi prefeito de Santa Helena em 1916 e possuía várias propriedades no Napa) e mais tarde Bert Rossi, que em 1929 comprou a propriedade de Swortfiguer. Em 1939, ele a vendeu para Antonio “Tony” Panetta (nascido na Itália), que a usou como fazenda de gado por vários anos. Por fim, Panetta vendeu o rancho para George Mardikian no início de março de 1944.

Mardikian era armênio-americano e um dos nomes mais relevantes da cultura armênia. Ele imigrou para os Estados Unidos em 1922 e foi para São Francisco de trem. Depois de 8 anos trabalhando em restaurantes, mudou-se para Fresno, onde já existia uma comunidade armênia considerável e abriu um restaurante chamado Omar Khayyam (em homenagem ao famoso poeta islâmico). Mardikian desempenhou um papel proeminente na introdução de uma série de alimentos do Oriente Médio ao paladar americano.

Ao comprar a propriedade, chamou-a de El Rancho Silverado. Não há registro de que o local tenha sido plantado com uvas antes, mas há relatos de experimentos de Mardikian na agricultura e pecuária com culturas de alimentos para seu restaurante em San Francisco, incluindo alfafa, morangos, pimentas armênias, árvores frutíferas, além de ovelhas e gado.

O lago – que ainda existe em Quintessa – foi construído na propriedade na década de 1950 durante a posse de Mardikian – George o chamou de Lago Naz, em homenagem a sua esposa Nazely. Hoje ele é chamado de Lago do Dragão.

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