A transformação da Herdade da Aldeia de Cima pela Família Amorim

Com práticas ecológicas, castas nativas e foco no terroir da Serra do Mendro, a Herdade da Aldeia de Cima se reinventa sua história e cria vinhos de alta qualidade

Projeto da vinícola surgiu em 2017 com uma visão sustentável

por Eduardo Milan

A Herdade da Aldeia de Cima é uma propriedade situada no Alentejo, que pertence à família Amorim, sim, famosa pela produção de cortiça – sendo o maior exportador do mundo. Originalmente, a herdade era dedicada exclusivamente à exploração florestal, com foco no montado de sobreiro e extração de cortiça, abrangendo 3 mil hectares.

Em 2017, Luísa Amorim e Francisco Rego, seu marido, decidiram iniciar um projeto vitivinícola na propriedade, com uma visão sustentável. Eles introduziram práticas agrícolas ecológicas, como a criação de um rebanho de ovelhas, por exemplo.

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Não havia vinhedos na herdade antes desse projeto, e todo o processo começou do zero, com uma filosofia clara de valorização do terroir local e da sustentabilidade. Eles optaram por castas nativas, como a Trincadeira e Alicante Bouschet, e também incluíram Alvarinho e Baga.

Herdade da Aldeia de Cima

Com o apoio de consultores experientes, como Jorge Alves e a própria Luísa Amorim, o projeto foi desenhado para criar vinhos de alta qualidade, focando-se na preservação do terroir e na escolha criteriosa de castas. A vinícola se destaca pela produção de vinhos de alta gama, como Reservas e Garrafeiras (termo que remete aos longos estágios em garrafa).

"Nós apenas produzimos Reservas e, neste momento, Garrafeiras, com uma primazia pela qualidade muito grande", aponta António Cavalheiro, enólogo da herdade desde 2018. Ele estudou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e, após formar-se, começou sua carreira no Alentejo, ingressando na herdade.

Serra do Mendro

A altitude da Serra do Mendro (424 metros), onde estão localizados os vinhedos, e as práticas de viticultura sustentável são características-chave do projeto. A herdade foi preparada para produzir cerca de 100 mil garrafas por ano, focando-se em vinhos com frescor e caráter regional.

Segundo Cavalheiro, estudos geológicos “mostram-nos efetivamente que na Serra do Mendro há um solo muito, muito pobre, especialmente baseado em xisto, muita variedade de xisto curiosamente: xisto verde, xisto amarelo, xisto preto. E é interessante perceber que, ao mesmo tempo, falamos de uma região muito quente, mas que consegue veicular algum frescor, alguma mineralidade, às uvas”, afirma.

Herdade da Aldeia de Cima — Práticas como a plantação em socalcos, semelhante ao Douro, garantem maior exposição aos ventos frescos do Atlântico

Eles também apostam em práticas como a plantação em socalcos, semelhante ao Douro, para garantir maior exposição aos ventos frescos do Atlântico. "As nossas vinhas são quase de sequeiro, e nós apenas regamos em momentos de maior stress hídrico," conta.

Mas o aquecimento global tem desafiado a produção. Cavalheiro falou sobre as mudanças nos períodos de vindima e o desafio de gerenciar a água de irrigação em uma região onde o acesso a fontes como o lago de Alqueva é limitado. "A gestão de água é feita há três anos.

Todas as chuvas que foram armazenadas nos depósitos naturais têm que durar pelo menos três anos", aponta.

Para a vinificação, Cavalheiro usa de cubas de cimento e grandes barris para manter o frescor e caráter varietal dos vinhos. Ele também mencionou a importância de evitar intervenções excessivas durante a fermentação, preferindo leveduras nativas: "Tentamos fazer um máximo com a inoculação espontânea [...] e usamos doses muito baixas de leveduras neutras".