Domaine Uma tem vista para o Chateau de Montferrand e recentemente passou por diversas transformações que valorizam a luz
por Arnaldo Grizzo
O nome vem de Uma, deusa hindu da luz. Conhecida pela sua clareza e conhecimento metafísico, Uma é também uma fonte de energia criativa. Fruto da reunificação de duas propriedades: Château Cambon e Domaine de Valcyre e terras de campos agrícolas de Tours des Salles, o Domaine UMA é um projeto nascido em 2022 no Languedoc.
Curiosamente a fazenda original, construída no século XIX era voltada ao bicho-da-seda. Hoje, com 120 hectares de superfície, incluindo 60 hectares de terras agrícolas, 15 dos quais classificados como Denominação de Origem Protegida Pic Saint Loup, o Domaine Uma tem vista para o Chateau de Montferrand, para Hortus e para o Pic Saint Loup.
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Recentemente, ele passou por diversas transformações realizadas pela Agence Clausel-Borel Architecte.
“Um lugar banhado por uma luz cintilante e em constante mudança, revelando cada vez a paisagem de um novo ângulo. Adicione a isso as diferentes estações e cores e você terá uma visão encantadora, mas sempre diferente. Assim, ao chegar ao Domaine, entra num lugar intemporal, longe da agitação da cidade, rodeado por esta magnífica paisagem. Os edifícios simples e de pedra sólida são típicos da região e semelhantes aos encontrados em Cévennes”, apontam os arquitetos Florence Clausel-Borel, Margaux Lefevre e Youssef Mechri, cujo objetivo arquitetônico foi recuperar a autenticidade do local, renovando todas as paredes que foram executadas em cimento e revelando a alvenaria original do edifício com 200 anos.
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“Quisemos criar uma experiência quase cenográfica, onde a adega, ao mesmo tempo que responde às suas necessidades técnicas, é também um espaço de palco para a preparação do vinho”, disseram.
A planta baixa em duplo U se abre para dois pátios protegidos do vento. Situado no segundo “U” do edifício, o acesso é feito por um pátio adaptado para receber a colheita e engarrafar o vinho. Uma grande porta, de arestas oblongas, simboliza a entrada, mas o interior da adega não é visível do exterior.
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A escada em caracol, situada em frente à entrada da adega, apresenta-se como uma escultura, criando uma ligação entre o palco do primeiro andar e os passadiços. Em torno desta escada central, há os tanques em dupla curva para criar espaços expansivos onde os tanques de aço inoxidável e concreto se destacam como totens. As passarelas, apoiadas nos tanques, cujo principal objetivo é recriar a gravidade e assim eliminar a necessidade de bombas, criam espaços que oferecem um ponto de vista diferente e dão ao espaço um ritmo vertical e horizontal.
Seguindo este “espírito teatral”, dois camarins envidraçados de cada lado do volume do primeiro andar oferecem uma visão completamente diferente da adega, uma verdadeira sala de controle para o enólogo e uma sala de degustação de vinhos. Esta sala suspensa, oferece aos visitantes tanto o espetáculo da adega como um enquadramento cinético através de uma grande abertura em arco sobre o Pic Saint Loup e o Hortus. Como extensão deste espaço, no exterior, há o “Terrasse du Pic”, espaço para degustação.
De volta ao nível inferior, um avanço visual leva da adega de vinificação à antiga adega, agora focada no envelhecimento dos vinhos. Neste espaço coexistem tonéis e cubas ovóides de cimento. Entre estes dois locais de produção, quase escondidos nas suas capelas de pedra, ficam as garrafas mais preciosas da Domaine.
O ambiente policromático é aconchegante e natural, com cubas de pedra, madeira e inox em tons de cobre, marrom e corten mesclando-se ao inox. A iluminação no interior da adega realça a riqueza dos materiais como as paredes de pedra, o revestimento de madeira na parte inferior da cobertura, as treliças, os tanques de aço inoxidável e concreto.
A iluminação, inserida em ranhuras nas paredes laterais, acentua a perspectiva da sala de provas para o laboratório, centrando o olhar do visitante na origem do processo de vinificação.
Este efeito de focagem é acompanhado por uma escultura de luz composta por linhas suspensas, formando uma ondulação evanescente desde a escadaria central em direção ao laboratório. Diversas variações de cores pontuam as diferentes temporalidades da vinícola: desde a iluminação técnica até a colorida iluminação decorativa que dá o cenário ao espaço.