As taças de vidro embora antigas, ganharam um protagonismo no vinho apenas no século 20 e mudaram nossa percepção durante as degustações
por Arnaldo Grizzo
As taças de vinho possuem diversos designs. O mais comum é um bojo relativamente amplo e uma haste de bom tamanho. Esse é o desenho que primeiro surge em nossas mentes quando falamos de taças de vinho, mas se adicionamos algum detalhe, tal como: taça para vinhos espumantes; a imagem que surge na cabeça muda um pouco.
Hoje há uma infinidade de modelos, muito graças à infinidade também de estilos de vinho. Bojo largo ou fino. Haste alta ou baixa, ou mesmo sem haste. De vidro ou de cristal. Mas como chegamos a isso?
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Se voltarmos no tempo, veremos que os recipientes para bebidas, no início, eram bastante simples, basicamente uma tigela. Com o tempo, adicionou-se uma haste e uma base para facilitar tanto o manuseio quanto o apoio sobre mesas. E a evolução do formato ocorreu ao longo do tempo.
Acredita-se que os recipientes de vidro para vinho apareceram pela primeira vez no Egito por volta de 1500 a.C. Ou seja, o homem já conhecia o processo de produção do vidro (uma mistura de areia e outros materiais em altas temperaturas), mas teriam sido os romanos os pioneiros na técnica de sopro para moldar essa massa vítrea.
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Dessa forma, os artesãos foram capazes de criar formas e produzir com um custo muito menor. Ainda assim, a maioria dos recipientes romanos para beber era bastante simples e sem haste.
Após a queda do Império Romano, houve um declínio na produção de vidro na Europa e as taças eram frequentemente feitas de prata. Mas isso influenciava no gosto da bebida. A partir do século X, houve um ressurgimento do vidro europeu, começando com o vitral, que apareceu na arquitetura românica e gótica. Com isso, centros de fabricação de vidro foram estabelecidos na ilha de Murano, em Veneza, e na Boêmia, na atual República Tcheca.
Estima-se que o vidro, como conhecemos, tenha surgido ao redor de Veneza por volta do século XV.
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Os venezianos aprenderam a purificar a fonte alcalina, o que significava que podiam fazer “cristallo” – uma forma de vidro transparente. No entanto, quando os vidreiros venezianos começaram a purificar suas matérias-primas para remover os elementos que causavam descoloração, eles inadvertidamente removeram algumas das coisas que tornavam o vidro durável, como a cal, que agia como um estabilizador. Com isso, vidros transparentes originais se deterioravam rapidamente.
No século XVII, os ingleses criaram as primeiras indústrias de vidro. Na época, eles passaram a usar carvão marinho para alimentar os fornos, tornando-os mais quentes e, consequentemente, fortaleceram o vidro.
Na década de 1670, George Ravenscroft (não se sabe se intencionalmente ou não) adicionou óxido de chumbo e sílex à mistura, o que tornou o vidro ainda mais forte e deu a ele a aparência de cristal. Isso ocorre porque o óxido de chumbo afeta a passagem da luz.
A grande “revolução das taças” viriam graças a mudanças no comportamento social à mesa. Até o início do século XVIII, a taça era mantida longe do bebedor – e só era trazida pelo criado, que também a enchia de tempos em tempos.
Porém no começo do século XIX, a garrafa de vinho mudou-se para a mesa de jantar, e com ela os copos. Assim, os modelos de taças se tornaram mais elegantes e sofisticados, pois passaram a fazer parte da estética do serviço. As taças de vinho ficaram mais altas e elegantes, e as hastes mais longas. No entanto, durante muito tempo, os recipientes foram pequenos – muito disso devido ao grande imposto sobre o vidro na Inglaterra, que durou até meados do século XIX. Quando se tirou essa barreira, as taças puderam “crescer”.
Durante o período de Art Nouveau, a produção de vidro decorativo se expandiu e abriu novas possibilidades para as taças de vinho, que passaram a ser extremamente trabalhadas. Mas, logo em seguida, Claus Josef Riedel percebeu que poderia ir além apenas da beleza estética.
Como aprendiz de vidreiro na Itália na década de 1950, ele convidava amigos para beber vinho em taças de diferentes formatos experimentais em que vinha trabalhando. Apesar de beberem o mesmo vinho, as opiniões sobre a qualidade da bebida eram diversas e isso fez Riedel suspeitar que a forma e o tamanho da taça influenciavam o sabor.
Assim, Claus foi o primeiro na história do vidro que conseguiu determinar a interação entre forma, tamanho e diâmetro da borda de um copo para o aproveitamento ideal do vinho e é tido como “pai das taças de vinho modernas”.
Suas taças tinham uma haste longa e paredes finas, lisas e sem decoração. Seu filho, Georg Josef foi o primeiro a criar taças para vinhos varietais feitas à maquina. Foi assim que o sobrenome Riedel se tornou uma referência na produção de taças de vinho, abrindo caminho para diversas inovações e também personalizações, com produtores desenvolvendo formatos específicos para valorizar seus vinhos.
Mas, afinal, como são feitas as taças? Elas são frequentemente construídas em vidro ou cristal, pois são mais materiais facilmente moldados. Mas não se deve confundir vidro cristal com o que chamamos de cristal, ou seja, o mineral encontrado na natureza que abrange tanto o diamante quanto o quartzo.
Apesar de terem estrutura molecular parecidas, há diferença de elementos químicos. Sendo assim, o vidro comum, também conhecido como vidro de cal-soda ou soda-cal, é feito de areia (sílica), soda (óxido de sódio), cal (óxido de cálcio) e óxido de alumínio.
Na composição do vidro cristal há apenas sílica e óxido do chumbo, o que dá ao vidro sua clareza e brilho, mas também o torna mais resistente. Isso permite que o cristal seja moldado em um design mais fino e delicado. Ele também tem uma textura microscopicamente mais rugosa, o que aumenta a intensidade do aroma quando o vinho é agitado.
A vidraria soprada “à mão” é mais tradicional. O produto soprado de forma artesanal é geralmente mais fino do que o vidro feito à máquina. Essa técnica permite ao artesão criar peças mais delicadas e únicas. E tendem a ser muito mais caras.
Quando uma máquina cria vidraria, o vidro fundido é moldado usando ar comprimido. Isso garante consistência de forma e qualidade nas taças. Hoje em dia, muitas taças são um híbrido de vidro soprado à mão e por máquina. O bojo é frequentemente soprado à mão para garantir que sejam delicados e finos. A haste e a base costumeiramente são feitas à máquina.
Quanto mais finos os vidros, melhor. As taças finas têm borda cortada, em vez de enrolada, o que permite que o vinho escorra suavemente para a língua. Bojos largos aumentam a superfície e favorecem a evaporação do álcool, maximizando a oxidação e libertando os aromas.
Quanto mais complexo o vinho, certamente em taça maior ele deve ser servido. Já o tamanho estreito de uma taça minimiza a oxidação e preserva a temperatura para vinhos brancos, por exemplo.
Taças tradicionais têm haste longa e fina da base ao bojo. Isso permite que se segure sem tocar no bojo e, assim, aqueça o líquido. Os copos de vidro sem haste tornaram-se populares, mas é preciso ter cuidado enquanto os manuseia para não esquentar a bebida.
Um formato mais cônico serve para suspender os aromas ao topo do copo. Já um bojo mais alargado permite que o fluxo do aroma seja direcionado para o palato frontal. Isso destaca os sabores frutados do vinho.
São diversos detalhes que podem tornar as taças únicas para cada estilo de vinho, porém os formatos clássicos tradicionais ainda hoje são os mais “eficientes”.
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