Programas "treinados" para reconhecer compostos químicos dos vinhos vão ajudar a conter fraudadores
por Silvia Mascella
A inteligência artificial é mais do que entretenimento e maneira de fazer trabalhos escolares sem estudar. Suas aplicações práticas na ciência estão alcançando várias áreas de estudo, inclusive a vitivinicultura.
Pesquisadores suiços estão desenvolvendo modelos químicos capazes de revelar exatamente de onde provem um vinho e assim auxiliar na resolução de casos envolvendo fraudes e ao mesmo tempo provar, cientificamente, o conceito de terroir.
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Um passo atrás por favor, apenas para lembrar que o conceito de terroir significa a interação entre solo, relevo, clima, a planta e o trabalho humano. Há muito tempo enólogos, agrônomos e especialistas em vinhos, afirmam que é o terroir que manda num vinho e que lhe dá suas melhores (ou piores) características. Agora isso parece que sai de uma bem elaborada observação de campo (e taça) e passa para uma prova científica de peso.
Os cientistas estão "treinando" o algoritmo para buscar as origens de um vinho com base em análises químicas das vinícolas através da cromatografia a gás. No cotidiano de uma empresa, essa análise é feita para determinar os compostos presentes no líquido, mas o algoritmo está sendo preparado para reconhecer todos os compostos químicos dos vinhos e determinar qual é a sua assinatura particular.
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A pesquisa contou com 80 vinhos de 12 safras de sete diferentes propriedades em Bordeaux (França). "A primeira coisa que nós percebemos foi que existem assinaturas químicas específicas de cada Chateaux, e que isso independe da safra", adiantou o pesquisador Alexandre Pouget, da Universidade de Genebra (Suiça), um dos autores do estudo.
O programa foi capaz de chegar aos 99% de acerto na determinação de qual vinho provêm de qual Chateaux. "A concentração de muitas moléculas, muitas mesmo, formam um padrão que distingue cada produtor. É como uma sinfonia, pois não é apenas uma nota que faz a diferença, é a melodia toda", explicou o pesquisador suiço. Quanto à distinção das safras, o programa ainda precisa ser aprimorado, pois acertou apenas 50%.
O estudo publicado no último dia 5 de dezembro na revista Nature e o pesquisador acredita que sua eficácia será certeira na detecção de fraudes (que respondem por enormes perdas de vendas na Europa), no monitoramento da qualidade durante o processo de produção e até mesmo para os cortes dos vinhos.
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