A bebida é sempre um grande regalo e, com criatividade, podemos surpreender e emocionar de iniciantes a especialistas
por Por Eduardo Milan
Quem gosta de vinho é alguém que, por definição, gosta de compartilhar, e os presentes de ocasiões especiais (ou não) são uma deliciosa oportunidade de usar o vinho como veículo para demonstrar nossa amizade e afeição.
Todos gostamos de receber presentes que foram pensados especialmente para nós, levando em conta nossa personalidade. Por isso, elaboramos sugestões divertidas de excelentes vinhos que certamente vão colocar você no topo da lista de amigo do ano, e fazer vibrar o amigo que sempre ganha aquela camisa social ou livro de autoajuda.
O impacto visual é muito importante em qualquer presente. Ainda mais para quem adora arte. Algumas vinícolas já criaram a tradição de ilustrar alguns de seus rótulos, todos os anos, com obras de artistas renomados. É o caso de um dos maiores objetos de desejo de todo enófilo, o Château Mouton Rothschild, que já estampou pinturas de Picasso e Dali, por exemplo.
Outra a explorar essa veia é a Herdade do Esporão. Desde 1985, ano da primeira colheita, diversos artistas contribuíram para os rótulos desses vinhos, dentre eles, Armando Alves, Costa Pinheiro, Gabriel e Gilberto Colaço, Graça Morais, Guilherme Parente, Joana Vasconcelos (a primeira artista portuguesa a mostrar seu trabalho no museu paulistano, a Pinacoteca, em 2008), Julião Sarmento, Júlio Pomar, Mestre Isabelino, Pedro Proença, o brasileiro Rubens Gerschman, Rui Sanches e o designer de moda Felipe Oliveira Batista etc.
Também a Vietti ilustra seus rótulos com obras. Conta a história que, em 1970, descendentes do fundador da Vietti estavam reunidos em uma tarde de inverno, comendo e bebendo na companhia de amigos artistas quando um deles sugeriu que renovassem os rótulos dos seus vinhos “embalando a arte que os Vietti produziam na adega com arte nos rótulos”.
Ainda para os ligados à arte, mas desta vez a poesia, um tiro certeiro é o Altazor, vinho ícone da chilena Viña Undurraga. De fato, Altazor é o nome de um poema de Vicente Huidobro; o rótulo traz um trecho da obra.
Agora imagine se você fosse apaixonado por moda ou relógios. Não adoraria ser presenteado por um vinho do Château Lagrezette, de Alain Dominique Perrin, presidente da Cartier por mais de duas décadas e executivo do grupo Richemont (responsável pelas marcas Cartier, Van Cleef & Arpels, Piaget, Vacheron Constantin, Jaeger-LeCoultre, IWC, Panerai e Montblanc)? Ou por um tinto assinado pela família Ferragamo, como no caso dos toscanos da Tenuta Il Borro e Castiglion del Bosco?
Pessoas engajadas em causas humanitárias e ambientais certamente ficariam muito felizes ao receber um vinho cujos produtores têm exatamente esses ideais em consideração. É o caso dos vinhos da linha Aliwen, também da Viña Undurraga. Parte de suas vendas é revertida em benefício da tribo de índios Mapuche. Também focada na preservação do meio ambiente é a Kendall-Jackson, que figura entre as cinco empresas americanas de todos os setores com o melhor programa de sustentabilidade do país.
Se a pessoa a ser presenteada é fã do esporte, as opções são muitas. Atualmente diversos atletas amantes de vinhos são proprietários de vinícolas ou têm participação direta na produção de alguns vinhos. O ícone Ronaldo Fenômeno, por exemplo, tem uma pequena participação na Cepa 21, de Ribera del Duero, que pertence à mesma família da vinícola Emilio Moro. O craque do futebol espanhol Andrés Iniesta foi mais longe e montou a Bodegas Iniesta, em Fuentealbilla, na província de Albacete, sua cidade-natal.
Os aficionados por basquete certamente adorariam receber uma garrafa produzida no Napa Valley pela Yao Family Wines, do gigante chinês Yao Ming. Da mesma forma, os apaixonados por tênis podem ser surpreendidos por uma garrafa de St. Hugo da Jacob’s Creek, cujo garoto-propaganda é ninguém menos do que André Agassi, ou então de um austríaco de Hochkittenberg Estate, de propriedade deThomas Muster, ex-campeão de Roland Garros. O golfista Ernie Els também tem sua linha de vinhos, produzidos em seu país-natal, a África do Sul. Para quem curte polo e o universo dos cavalos, boas sugestões são o Porto Burmester Jockey Club Reserva, ou então rótulos da argentina Finca La Chamiza ou da chilena Haras de Pirque.
Os que gostam de navegação, barcos e assuntos náuticos podem ser surpreendidos por uma garrafa da chilena Odfjell, fundada pelo armador norueguês Dan Odfjell. Ele conta que quando começou produzir vinhos, embarcou em uma aventura cheia de desafios e promessas, e a linha Orzada leva esse nome em referência ao termo náutico que significa “velejar contra o vento, antes de definir a direção a ser seguida”.
Presentear cinéfilos com boas garrafas também não é tarefa difícil já que uma série de estrelas de Hollywood ama vinhos e vem se envolvendo em sua produção. Um dos veteranos na área é o aclamado diretor de “O Poderoso Chefão”, Francis Ford Coppola. Desde 1975, Coppola é proprietário da Inglenook, no Napa Valley, à qual se dedica com afinco. Em 2011, chegou a contratar Philippe Bascaules, diretor de enologia do Château Margaux. Na França, o casal Angelina Jolie e Brad Pitt investiu para produzir seu Château Miraval, um excelente rosé da Provence, elaborado com o auxílio da família Perrin, que elabora o Château de Beaucastel. Já o espanhol Antonio Banderas produz seus rótulos, da vinícola Anta Banderas, em Ribera del Duero. Da Nova Zelândia vêm as garrafas feitas pelo também ator Sam Neill, que já declarou ajudar a definir os cortes e até participar das colheitas da Two Paddocks.
Os apreciadores de música certamente ficariam felizes se presenteados por um vinho de Andrea Bocelli. O italiano têm sua própria vinícola na Toscana, em parceira com seu irmão Alberto, a Bocelli Family, onde a família produz vinhos há 130 anos. Ou, que tal uma garrafa da Bodegas y Viñedos Montecastro, produzido em Ribera del Duero, que tem entre seus sócios ninguém menos que Julio Iglesias, sabidamente um dos maiores colecionadores de vinhos do planeta? Outra opção interessante são os rótulos da vinícola piemontesa Bava, inspirados em instrumentos musicais não somente devido à paixão do produtor por ritmos clássicos e jazz, mas porque ele matura seus vinhos sob o som de música.
Para os amigos interessados em história, pode-se optar pelo Champagne feito em homenagem a Churchill da Pol Roger (à esquerda) ou pelos rótulos de Barone Ricasoli
Sempre há vinhos que abarcam os gostos de seus amigos
Para aqueles que apreciam história e cultura, a ideia é presentear com rótulos que remetam a esses temas. Uma opção é evocar Napoleão Bonaparte através do Fixin 1er Cru Clos Napoléon. Ou, então, o célebre primeiro-ministro inglês Winston Churchill, homenageado pela família Pol Roger com o Champagne Pol Roger Cuvée Sir Winston Churchill. Outra sugestão é um dos rótulos da Barone Ricasoli, cuja propriedade engloba o Castello di Brolio – rodeado por 230 hectares de vinhedos – construção histórica usada como fortaleza em batalhas desde o século XV e alvo de ataques durante a II Guerra Mundial. Para os que se interessam por histórias religiosas, rótulos da vinícola Golan Heights, localizada na Galileia, são uma boa dica. O Aponte, do produtor espanhol Frontaura y Victoria, foi batizado em homenagem a Pedro de Aponte, que, em 1574, construiu o Palácio dos Frontaura y Victoria, prédio de grande valor arquitetônico e cultural, tombado pelo patrimônio histórico de Toro.
Médicos certamente apreciariam ser presenteados por uma garrafa de Campostarne, da italiana Costaripa. O vinho nasceu quando o cardiologista sul-africano, Christiaan Barnard, responsável pelo primeiro transplante de coração humano, em 1963, associou-se à princesa Diana, em 1998, e juntos fundaram a Christian Barnard Foundation. Em seu livro “50 Ways To a Healthy Heart”, Barnard recomenda o consumo de uma taça de vinho todos os dias, descrevendo que esse vinho tem que ser um tinto equilibrado, com 12 meses de carvalho e boa acidez. Quando conheceu Mattia Vezzola, juntos criaram o vinho “perfeito para o coração”, batizado de Christiaan Barnard. Com a morte da princesa Diana, a fundação deixou de existir, mas o vinho continuou a ser produzido, agora rotulado como Campostarne, em homenagem ao pai de Mattia que, na juventude, caçava codornas em Campo delle Starne.
Fazendo trocadilhos com os nomes dos vinhos, o leque também é grande. Para os aventureiros, vale o Outer Limits da Viña Montes ou o branco espanhol Caminante, da vinícola Terra Remota, por exemplo. A portuguesa António Saramago tem opções criativas, tais como, Dúvida (para os indecisos) e Risco (para os arrojados ou praticantes de esportes radicais), enquanto a espanhola Bodegas Hacienda del Carche produz o inusitado Infiltrado (para os apaixonados por temas policiais e investigações).
As ideias estão no ar. Vinhos são sempre ótimos presentes. Agora é com você.