Pensando "dentro da caixa"

Depois do dilema das rolhas, agora está na hora de repensar as embalagens dos vinhos

por Redação

Luna Garcia

Já refletimos e vivenciamos o dilema das rolhas de cortiça versus rolhas sintéticas e tampas de rosca, hoje vivemos a polêmica dos recipientes: garrafas de vidro são melhores que embalagens alternativas para armazenar vinho?

Um dia, diferentes tamanhos de garrafas de vinhos foram batizadas com nomes de reis bíblicos como Salmanazar, Baltazar e Salomão. Hoje, encontramos a bebida de Baco em recipientes tecnológicos e recicláveis, cujos nomes são bem menos românticos. Na antiguidade, gregos e romanos armazenavam o vinho em couro, barro e cerâmica.

No mundo globalizado, falamos em materiais como vidro, plástico, alumínio, papel. Você já provou um vinho de Bag in Box (como o da foto ao lado)? Experimentaria um que viesse em embalagem Tetra Brik (ou Tetra Pak)? E o vinho em lata? Tem coragem? Sim, está na hora de pensarmos “dentro da caixa” e considerarmos que as preocupações com o meio ambiente talvez justifiquem deixarmos o preconceito de lado.

Pensemos que qualquer atividade humana provoca consequências para o planeta. Ao retirarmos do meio ambiente uma série de elementos para a produção de bens e serviços, estamos emitindo uma série de outras partículas, quase sempre nocivas. Fala-se em “pegada de carbono” (carbon footprints, em inglês) para avaliar a relação entre a atividade do consumo humano e a capacidade da natureza metabolizá-la.

Isso é um sinal de que as pessoas estão preocupadas com o rastro deixado no planeta ao longo de sua existência, e repensando seu estilo de vida e formas de consumo. Em alguns países da Europa e no Japão, já encontramos nos rótulos dos produtos informações sobre a quantidade de água que foi gasta para produzi-lo, a quantidade de emissões de gases estufa lançados na atmosfera para sua fabricação, a “pegada” deixada no ambiente.

Pensando em reduzir suas “pegadas”, os produtores de vinhos em todo o mundo buscam alternativas para envasar o líquido a que tanto se dedicaram para produzir, mas ainda enfrentam muita resistência.

#Q#

Tradição x modernidade

É interessante verificar o relato de brasileiros nos blogs relacionados a vinhos que abordam esse assunto. Na maioria das vezes, as pessoas comparam as embalagens alternativas com massificação, banalização, fazem associação com produtos de baixa qualidade e quase sempre comparam com o consumo de cerveja em lata ou com suco de frutas não fermentadas comercializados em embalagens parecidas.

Alguns até ironizam a situação dizendo que seria um lobby dos catadores de latinha. Brincadeiras à parte, muita gente aponta que colocar um vinho em lata ou em tetra brik seria perder o ritual de degustá-lo da maneira tradicional e mesmo um desrespeito com a bebida de Baco.

Lembremos que este último argumento estava presente nos discursos contra as tampas de rosca, há pouco tempo atrás. A opção do Bag in Box (BIB) hoje é a mais comum entre as embalagens alternativas no mercado brasileiro e já é aceito por muitos restaurantes que oferecem vinhos despretensiosos e acessíveis em taça. Segundo o IBRAVIN, houve crescimento de 30% no consumo de BIB entre 2007 e 2008. Esperemos o resultado de 2009 para comparar.

O que poucos sabem é que o lado “verde” dessas caixas é impactante no nosso planeta. No Canadá, por exemplo, onde o consumo de BIB é bastante comum, a Tetra Pak canadense afirma que, se a população consumidora de vinhos mudasse de vidro para caixas, haveria uma redução de emissão de gases equivalente a 400 mil carros fora das ruas.

Segundo o Wine Group de San Francisco, um conglomerado de vinhos, as caixas representam menos 85% de lixo e 55% a menos de emissão de carbono em relação às garrafas de vinho.

Em meio a tantas críticas, oposições e resistência a um tema que ainda pouco conhecemos, talvez deveríamos considerar o que representam efetivamente essas embalagens sob o ponto de vista do meio ambiente, afinal a palavra sustentabilidade está na moda até no mundo do vinho

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