por Redação
Marco Casamonti trabalhou por sete anos para desenvolver uma estrutura que estivesse intimamente ligada com a natureza, ela fica “enterrada” na montanha, com poucas estruturas à vista
Quando o arquiteto italiano Marco Casamonti esteve no Museu Brasileiro de Escultura (MuBE), em São Paulo, para uma mostra de seu Studio Archea, um dos grandes da Europa, mostrou que a arquitetura não é só uma arte, mas também uma forma sustentável de desenvolvimento. E um dos projetos mais importantes apresentados foi a sétima vinícola da Marchesi Antinori, na Itália, que estava sendo inaugurada em contornos diferentes de tudo que a tradicional casa de vinhos havia feito.
Os cômodos causam um deslumbramento pelo casamento tão bem elaborado entre a estética e o funcional, a madeira é vista por toda parte, a iluminação é baixa e algumas vezes vem do piso
Seguindo seu ideal, e as aspirações da família, Casamonti trabalhou apenas com materiais toscanos para desenvolver uma estrutura que estivesse intimamente ligada com a natureza e, acima de tudo, a respeitasse. Durante sete anos, trabalhou-se para que o projeto fosse uma construção leve, cheia de harmonia, equilíbrio e luz, pois, nas palavras de Casamonti "ali não cabia uma construção convencional." E o que foi feito, de fato, não tem nada de convencional. Os arquitetos da obra a classificam como um lugar aberto ao mundo e ao que é novo. A começar pelo design surpreendente, sinuoso, cheio de curvas e nuances. Olhando de longe, numa vista panorâmica, porém, o impacto da obra é quase nulo.
Por conta da horizontalidade, uma das características priorizadas, não se tem noção das dimensões e da grandiosidade vinícola, em sua maior parte subterrânea. Antinori é um produtor tradicionalíssimo, que está nas mãos da família de mesmo nome há 26 gerações - eles são um dos membros da Primum Familiae Vini. Em 2005, os diretores, em parceria com o Studio Archea e o arquiteto Marco Casamonti, iniciaram o projeto de construção de uma nova vinícola na região de Florença, mais especificamente em Chianti, na Toscana. Eles já possuíam seis vinícolas espalhadas pela região, sendo três em Chianti, uma delas a Tenuta Tignanello. Assim nasceu a Cantina Antinori Nel Chianti Classico.
Sobre a maravilhosa sala de barricas, que vale dizer, é a única coisa em comum com vinícolas tradicionais, encontram-se salas de degustação e reuniões suspensas
Tudo foi feito pensando no meio ambiente, para que o impacto e o uso de energia elétrica fossem os menores possíveis. Daí o fato de tudo no prédio ser tão amplo, cheio de vidros, com aberturas no topo, recuos e muitos espaços a céu aberto. As temperaturas necessárias para o envelhecimento do vinho são conseguidas não por meio de máquinas de refrigeração, mas pela própria terra, ou seja, usando métodos totalmente naturais. Da mesma forma, a estrutura foi concebida para permitir que os vinhos cheguem aos tanques de fermentação e aos barris de envelhecimento através do fluxo da gravidade, sem a utilização de bombas mecânicas, garantindo, além da economia, trabalhar com as uvas de uma maneira menos traumática, resultando em vinhos mais equilibrados e elegantes.
O projeto da vinícola se tornou uma construção leve, cheia de harmonia, equilíbrio e luz, pois, nas palavras de Casamonti "ali não cabia uma construção convencional"
A parte subterrânea é um mundo em si. A única coisa em comum com vinícolas tradicionais são as barricas. Salvo esse detalhe, o espaço poderia ser facilmente confundido com um ateliê de arte, ou uma galeria, em que o aspecto visual é que manda. De uma forma bem sutil, o projeto brinca com a nossa percepção tradicional de vinícola. Tudo chama a atenção e agrada aos olhos, causando deslumbramento pelo casamento tão bem elaborado entre a estética e o funcional. A marca da madeira é vista por toda a vinícola. A iluminação é baixa e algumas vezes vem do chão. Em meio às centenas de barricas, estão algumas ilhas - salas com paredes de vidro que dão uma visão geral do espaço - onde se podem fazer degustações, reuniões ou simplesmente observar o vinho sendo produzido.
De uma maneira muito sutil, o projeto brinca com a percepção tradicional de vinícola. Para onde quer que se olhe, as informações chamam a atenção e agradam aos olhos
Outras funções Além da adega da Marchesi Antinori, o prédio também tem outras tantas funções, pois lá fica a parte administrativa da empresa. E, se dissociando um pouco do vinho, mas sem sair do assunto maior de tudo isso, que é a arte, o espaço abriga um restaurante, uma livraria, um auditório e um museu, os dois últimos muitos inspiradores. O auditório é revestido de carvalho, para manter o ambiente e o espírito vinícola, e dá a sensação de se estar dentro da própria adega. Já o museu, mantendo a mesma leveza dos demais espaços, apresenta parte da coleção de arte da Antinori em Florença, exposta juntamente com trabalhos de artistas contemporâneos, que traçam uma história da arte italiana.
A ADEGA estava entre os convidados do lançamento da vinícola, em 2012, quando Piero Antinori e suas filhas reuniram a nata do mundo do vinho da Itália e do planeta. E nos impressionamos todos com a beleza e grandiosidade do lugar. Porém, os detalhes são o que mais chamam a atenção na Antinori, e, para dar o toque final ao projeto de harmonia com a natureza, além de dar a impressão de que a vinícola sempre esteve ali, integrando o ambiente, foram plantadas vinhas que rodeiam todo o espaço. As castas escolhidas, não por acaso, são as historicamente cultivadas em Chianti Clássico.
Por ter elaboração horizontal, uma das características da vinícola, não se tem noção das dimensões e da grandiosidade dela. Sua maior parte é subterrânea e conta com museu, auditório, restaurante e biblioteca
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