Anos e anos de experiência com Malbec geraram uma linha de vinhos singulares da Terrazas de los Andes e seu Terrazas Single Parcel
por Arnaldo Grizzo, Christian Burgos e Eduardo Milan
Olhares diferentes sobre a vitivinicultura podem surgir de qualquer lugar. Grandes empresas, que muitas vezes parecem focadas em volume e produção sistemática, às vezes parecem herméticas, mas, no fundo, podem também ser combustíveis de mudanças impressionantes.
Na Argentina, esse fenômeno de busca por novos terroirs, novas técnicas etc., é algo que vem sendo liderado por nomes consagrados como Catena, Zuccardi, Norton e Terrazas de los Andes, por exemplo.
Fundada em 1999, a Terrazas na verdade tem em si uma história criada muito antes, nos anos 1960, quando a Moët & Chandon decidiu empreender na Argentina, criando sua primeira subsidiária fora da França. O projeto de Terrazas, focado nos vinhos tranquilos, basicamente no Malbec argentino, começou nos anos 1990.
Hervé Birnie-Scott, que foi chamado para estar à frente desse novo empreendimento, conta que eles passaram a comprar os primeiros vinhedos numa espécie de exploração do território, principalmente em Gualtallary, onde ainda não havia ninguém na época – “plantamos antes mesmo do vinhedo Adrianna, de Catena”, diz Hervé.
Ao todo, Terrazas reuniu 550 hectares que fornecem todas as uvas para seus vinhos, até então divididos em três linhas. Mas, recentemente, a empresa ousou lançar quatro rótulos de parcelas únicas. Algo que só foi possível graças aos muitos anos de trabalho na região.
“Fizemos todos os estudos de solo e de condutividade, e então começamos subdividir os vinhedos. São 220 parcelas nesses 550 hectares, Nos últimos 20 anos, começamos a vinificar parcela por parcela e, subparcela por subparcela. Em 2008, depois de muita observação, vimos algumas parcelas impressionantes. Vimos que havia barricas muito distintas que precisávamos engarrafar separadamente. Assim nasceram as quatro vinhos Parcel”, conta Hervé.
“É uma viagem em que convidamos – por meio do solista, que é a Malbec – conhecer quatro terroirs que são muito diferentes. São apenas de 3 a 4 mil garrafas de cada somente. São todos vinhedos de altura, de montanha, pois acreditamos que é aí onde a Malbec se expressa melhor. Isso nos permite falar do patrimônio vitícola da empresa”, diz.
Segundo ele, “a ideia não é ser perfeito”. “Me encanta imperfeição dos vinhos. A perfeição é chata. Cada parcela é uma expressão purista de cada lugar... São Malbecs diferentes”, garante.
Hervé conta que o vinhedo de Los Cerezos é uma seleção massal muito antiga pré-filoxera, plantado em 1929, em pé franco. “É um material francês, que, com o tempo, transformou-se no nosso material oficial chamado ‘seleção Las Compuertas”, conta. Los Castaños é o mesmo material, que foi trasladado para Altamira. Lican também é pé franco, em um vinhedo de 12 anos, mas uma mescla de materiais. Por fim, El Espinillo vem de uma seleção de Perdriel, é o mais alto e jovem de todos, com oito anos e 1.630 metros de altitude, acima e muito mais extremo que Adrianna, por exemplo. “Nos vinhedos não há nada clonal, mas massal”, aponta Hervé.
Sobre os diferenciais de cada vinho, ele diz que Los Cerezos “é um grande clássico, com vinhedo os antigos em uma zona mais domesticada, que é Lujan de Cuyo”. Los Castaños é o vinhedo mais alto de Altamira e está cercado de vegetação natural. “Eu o chamo de clássico de Altamira, no vale do Uco”.
Para Lican, o diferencial é a proximidade com a montanha. “É o vinho mais selvagem que temos. É um vinhedo muito sofrido, equilibrado, civilizado”. “Já El Espinillo foi um caso perdido. Em 2017, colhemos com neve, por exemplo. É um Malbec de extremos, o mais alto de Gualtallary.
E só é possível graças à mudança climática”, diz Hervé. “É o ‘menos’ Malbec de todos. Não tem aroma de Malbec, mas Espinillo. Tem caráter de um terroir extremo”, completa. Segundo ele, adquirir Espinillo foi uma aposto no futuro: “Vamos provar algo super extremo hoje, mas dentro de 20 anos, com as mudanças climáticas, teremos aqui a reserva de frescor do nosso vinho”.
“A beleza dos quatro vinhos são suas diferenças. Há um vinho perfeito aqui? Não. Cada um tem um caráter muito marcado do terroir”, afirma Hervé. Sobre a vinificação, ele resume: “Tiramos tudo de sobremadurez, de excesso de madeira para sobressair o terroir. Queremos que tenha uma expressão de lugar. E, para que o Malbec saia do seu arquétipo, você tem que colher cedo. Estamos colhendo geralmente um mês antes da média histórica – e isso não que dizer que colhemos verde. Tudo é colhido a mão. As uvas passam por câmara fria, depois pigeage suave. É quase uma infusão, não uma extração. Deixamos de três a quatro semanas e depois vão para barricas pequenas (de segundo uso), também temos ânforas e ainda 30% de ovos. Depois da malolática trasfegamos e deixamos envelhecer não muito mais de 12 meses. Engarrafamos sem filtrar. Fazemos algo natural, mas não kamikaze. É uma vinificação muito simples, mas o mais importante é a data de colheita”.
Esse é um 100% Malbec, cultivadas no distrito de Las Compuertas (Luján de Cuyo), a cerca de 1.000 metros de altitude, com estágio de 18 a 20 meses em barricas novas de carvalho francês. Um retrato de Luján!
Composto exclusivamente de uvas Malbec, cultivadas em Paraje Altamira (Vale do Uco), a 1.100 metros de altitude, com estágio de 18 a 20 meses em barricas novas de carvalho francês é um vinho no estilo de maior madurez, apresenta ótima complexidade, com frutas negras. Estruturado e opulento, tem acidez refrescante, taninos numerosos e de ótima textura.