Viticultores estão arrancando os vinhedos para enfrentar a crise na Austrália
por Silvia Mascella
As imagens publicadas pela agência Reuters são tristes. Milhares de videiras sendo arrancadas e uvas secando nas parreiras na cercanias da cidade de Griffith, região de New South Wales, sudeste da Austrália. O país é o quinto maior exportador de vinhos do mundo.
As ações, que vem ocorrendo nas últimas semanas, são o último recurso de milhares de famílias que cultivam a terra e fazem vinhos, diante da superprodução, dos preços baixos das uvas, da diminuição do consumo mundial e da crise com a China nos últimos anos.
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James Cresmasco, quarta geração de vitivinicultores de Griffith, declarou em entrevista à Reuters que sempre há um limite até onde uma empresa pode ir e continuar plantando e perdendo dinheiro. Cremasco decidiu plantar ameixas no local: "Não existirá uma nova geração de viticultores em minha família. As corporações tomarão os lugares e os jovens terão que trabalhar para elas", afirmou enquanto observava as máquinas arrancando as videiras plantadas por seu avô.
Mais de um milhão de parreiras já foram arrancadas na região, que era uma das maiores produtoras de toda a Austrália. A questão principal é que os preços das uvas - especialmente as tintas que são mais cultivadas nessa zona - caíram muito nos últimos anos. Segundo dados do 'Wine Australia' em 2020 uma tonelada de uva da região valia 659 dólares australianos (aproximadamente 2.162 reais) e em 2023 a tonelada valeu, em média, 304 dólares australianos (aproximadamente 997 reais).
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Os vinhos mais caros, vinhos brancos, e principalmente os comercializados pelas grandes empresas ainda não acusaram a crise, (zonas como a Tasmânia e Yarra Valley seguem com boas perspectivas) mas para os vinhos mais baratos os estoques estão cheios, e a nova safra já está sendo colhida. O governo australiano afirma reconhecer o problema e buscar maneiras de auxiliar os produtores. Para alguns deles já é tarde demais.
O presidente do grupo de viticultores "Riverina Winegrape Growers', Jeremy Cass, afirmou que para conseguir equilibrar as contas e aumentar os preços, um quarto de todas as videiras de áreas como a de Griffith precisarão ser arrancadas. Segundo as contas feitas pela Reuters isso significaria devastar 12 mil hectares de vinhedos, aproximadamente 8% da área total de vinhedos do país.