Há tantos detalhes envolvidos na organização de um casamento, que o vinho não pode ser “qualquer um”
Sílvia Mascella Rosa Publicado em 12/09/2019, às 11h00
Para escolher os vinhos ideais e saber a quantidade certa de cada um deles, é preciso se atentar ao horário da festa e a sua duração, além, obviamente, de tentar harmonizar com a comida que será servida no buffet
Antes de mais nada, vamos tentar desfazer um mal entendido que circula nas paradas de sucesso dos casamentos desde a década de 1970: a música “Champagne” – lançada pelo italiano Peppino di Capri em 1973 – apesar de ser uma música romântica, não é uma música de amor, e sim de traição. Seus primeiros versos dizem: “Champagne, per brindare a un incontro/ con te che giá eri di un altro” (Champagne, para brindar um encontro, com você que já pertencia a outro). Talvez, 30 anos depois de lançada, seja o momento certo de não mais celebrar uma nova união com uma canção sobre um amor proibido.
Mas falando em Champagne, poucas são as celebrações que podem realmente se dar ao luxo de servir Champagne (o espumante francês da região de mesmo nome) durante as seis horas que dura, em média, uma festa noturna de casamento. E há outro detalhe importante: antes de fazer esse investimento, certifique-se de que os seus convidados serão capazes de aproveitar a qualidade das borbulhas que você está servindo. Champagnes nem sempre são vinhos fáceis. Deliciosos sim, mas longe de serem simples.
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Felizmente, para suprir as várias necessidades e gostos (sem contar os variados orçamentos) o mercado está cheio de opções, importadas e nacionais, para agradar amigos, sogras e cunhados.
Embora as festas de casamento estejam cada vez mais grandiosas, algumas delas tomando o rumo de verdadeiros eventos, com cerimonialistas sendo contratados, há muito mais espaço hoje para a criatividade e para os estilos alternativos do que havia 20 anos atrás. Assim, para escolher o que beber, é importante ter em mente qual o tipo de festa será realizada e o local.
Nos casamentos pela manhã, antes das 11h, apenas um espumante Demi-Sec ou Moscatel serão suficientes para o momento do brinde e do bolo, uma vez que nesse horário não é comum servir bebidas alcoólicas.
No entanto, se a festa for mais tarde e se transformar em um brunch (palavra americana que significa breakfast e lunch, ou seja: café da manhã e almoço), é tradicional servir um coquetel conhecido como Mimosa, uma mistura de suco de laranja e espumante Brut. E, nesse caso, é interessante servir também algumas garrafas de espumante Brut durante o evento. As comidas tradicionais do brunch contêm bastante gordura (quiches, pães recheados, tortas etc) e a acidez do espumante dá uma equilibrada nisso tudo.
Para os almoços, uma dica importante é prestar atenção ao cardápio, se ele incluir um coquetel de recepção, vale a pena trocar todas as tradicionais batidinhas e aperitivos por algumas boas garrafas de espumantes, e fica tudo resolvido assim. Como os almoços ocorrem na hora mais quente do dia, uma outra opção para acompanhar os cardápios são os vinhos brancos. A uva Sauvignon Blanc – que costuma ter um estilo mais fresco e herbáceo – vai muito bem com pratos de peixe e com algumas carnes mais leves, sendo uma excelente opção para as cerimônias realizadas à beiramar.
Os vinhos verdes portugueses também fazem bonito tanto com os aperitivos típicos de coquetéis como com os pratos com frutos do mar e até mesmo para acompanhar uma receita de peixe mais encorpado. Dessa forma, o espumante poderá ser servido apenas no final da festa.
Quando o almoço escolhido tiver pratos mais pesados, como carnes e massas com molhos mais encorpados, um Chardonnay amadeirado vai bem com as massas (é perfeito com molho branco e também com alguns vermelhos) e um tinto não muito encorpado, como os sul-americanos da uva Merlot, poderá acompanhar as carnes. Neste caso, mesmo que tradicionalmente nos restaurantes as carnes sejam acompanhadas de vinhos mais encorpados, como das uvas Tannat e Cabernet Sauvignon, por exemplo, numa festa de casamento é necessário harmonizar muitos paladares e os vinhos mais encorpados nem sempre agradam muitas pessoas. Começar a festa com espumante Brut e terminar com Moscatel vai agradar muita gente, também.
Ainda muito comuns, os casamentos no meio da tarde (até as 17h) podem seguir o padrão dos da manhã, com um serviço de espumante Brut quando houver um coquetel de recepção. Há também uma opção – que apesar de parecer extremamente simples, é deliciosa – de bolo acompanhado com espumante Moscatel (italiano da região de Asti ou brasileiro) bem geladinho, num bem enfeitado salão paroquial. No meio da tarde, um bolo cremoso e saboroso faz uma deliciosa harmonia com um espumante fresco e adocicado. Baixo custo e elegância ímpar.
Quando o sol baixa no horizonte, é natural que as festas comecem a ficar mais elegantes e suntuosas e aí os espumantes reinam soberanos, mesmo com as ilhas de caipirinha que se tornaram muito comuns nas festas: “Cada vez mais as pessoas estão servindo espumantes do começo ao final das festas de casamento, e isso é muito bom, pois não adianta ter o maior trabalho para escolher os melhores bem-casados que existem na cidade (e eles aparecem só no final da festa) e escolher qualquer vinho para acompanhar a recepção toda. Espumantes existem em muitos estilos e agradam muita gente”, explica a sommeliére Carina Cooper, que trabalha para a vinícola Salton. Ela dá uma dica importante quanto à quantidade de bebida a ser comprada, explicando que a duração da festa conta muito, pois quanto mais tempo as pessoas permanecerem no local, seja jantando, dançando ou conversando, mais elas irão beber. Portanto, para recepções que durem seis horas em média, é necessário uma garrafa de espumante para cada duas pessoas.
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Nas festas mais formais, quando houver um coquetel para recepcionar os convidados, um espumante Brut mais fácil, frutado e leve (como os brasileiros feitos pelo método Charmat) pode ser a opção mais correta, bons Proseccos também são, de preferência das regiões de Conegliano e Valdobbiadene, onde são produzidos os verdadeiros Proseccos italianos, além de elegantes Cavas espanhóis. Se o serviço for todo feito à francesa, com cada prato sendo colocado pronto na frente do convidado, vale harmonizar brancos, rosés (boas escolhas estão entre os espanhóis, franceses e portugueses) e tintos (especialmente os mais frutados do Novo Mundo e alguns franceses mais delicados) com o cardápio escolhido. No entanto, muita gente vai preferir passar a refeição toda no espumante Brut, justificando a quantidade de garrafas mencionada pela sommeliére. Para os outros vinhos, fica valendo o número de uma garrafa para cada cinco pessoas, de brancos, rosés e tintos.
Depois do jantar, o espumante Brut (seco) segue entretendo os convidados, até que chegue o momento dos doces e do bolo, em que o espumante da uva Moscatel é o mais indicado. Como a festa já se aproxima do final, a quantidade desse espumante é a mesma que dos tintos de brancos, uma garrafa para cada cinco e até seis pessoas.
Uma dica importante, nesses tempos de muita oferta de vinhos importados, é que é necessário desconfiar – mesmo em distribuidoras de bebidas indicadas pelo buffet de confiança – de vinhos estrangeiros que acabem custando menos de 15 reais a garrafa em quantidades grandes. O risco de a bebida ser de muito baixa qualidade é muito grande, e com certeza uma das maiores celebrações da vida de um casal não deve ser lembrada com uma ressaca.
Em uma festa de casamento, em que há outras tantas bebidas sendo servidas (cerveja, uísque, batidas etc) além do vinho, a conta a ser feita é de uma garrafa para cada cinco ou seis convidados. Ou seja, se você tiver 100 convidados, cerca de 20 garrafas serão necessárias. Em uma festa que somente vinho será servido, a conta é de um para três. Ou seja, uma garrafa para cada três convidados. Já em celebrações que vão durar muito tempo, cerca de seis horas, ou mais, é interessante pensar em proporções de um para dois.
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