Pinotage, Shiraz e Sauvignon Blanc são os emblemas desse triângulo do Novo Mundo
Euclides Penedo Borges Publicado em 13/03/2019, às 15h00 - Atualizado em 20/03/2019, às 14h14
Como vimos na primeira parte, o quadrilátero formado pelas uvas emblemáticas das Américas tem por vértices a Zinfandel, a Carmenère, a Malbec e a Tannat, representando, respectivamente, Califórnia, Chile, Argentina e Uruguai. Se nos transferirmos para o lado oposto do hemisfério, nos depararemos com um triângulo com vértices nas castas tintas Pinotage e Shiraz e na branca Sauvignon Blanc, emblemas da África do Sul, da Austrália e da Nova Zelândia.
Assim como o quarteto americano, esse trio apresenta diferenças tanto de origem, quanto no aspecto, odor e gosto de seus vinhos, e na combinação com as comidas.
Cruzamento um tanto desajeitado de duas castas francesas, a saber, a Pinot Noir, da Bourgogne, e a Cinsault, do Rhône, a variedade Pinotage resultou de pesquisas realizadas em 1925 na Universidade de Stellenbosch, África do Sul, por professores do seu centro experimental.
Com o ressurgimento internacional dos vinhos sul-africanos em 1990, ela logo se distinguiu, por sua qualidade e atributos próprios, como um emblema enológico da África do Sul depois do apartheid.
Podem-se distinguir três versões de vinhos sul-africanos da Pinotage. Primeiro, um rosado um tanto inexpressivo, barato e popular, consumido localmente e que não chega ao Brasil. Em seguida, um tinto frutado que se distingue por seus aromas de cassis, mirtile e groselha, lembrando a mãe Pinot Noir, apropriado para acompanhar embutidos, rosbife, língua e suflê de queijo. Finalmente, a versão mais robusta, amadurecida em barrica, pródiga em atributos de cor e corpo, aromático e musculoso. Assume então o estilo rodanense do pai Cinsault, em que os aromas de amora, framboesa, especiarias e o tostado somam-se a uma nuance acetonada. Acompanha pratos de sabor marcante, pimentão recheado, carnes vermelhas condimentadas, com molho de mostarda.
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Ainda que essa casta tinta seja cultivada na Austrália há bastante tempo, a elaboração de vinhos de qualidade a partir dela, de nível e repercussão internacional, só tomou ímpeto a partir de 1980. Tornou-se desde então um emblema australiano ao lado dos cangurus e do bumerangue. Seu sucesso é tão grande que, às vezes, esquece-se que a palavra Shiraz é uma adaptação do original Syrah, variedade nativa do Rhône, na França, participante de tintos de renome como o Côte Rôtie, o Hermitage e o Châteauneuf-du-Pape.
Na Austrália, ela faz parte tanto de vinhos varietais robustos quanto de cortes refinados com Cabernet Sauvignon ou com Merlot. Seu leque aromático quando jovem, além de notas florais de violeta, lembra frutas vermelhas escuras - mirtile, ameixas - associadas ao alcaçuz, à raiz forte e ao chocolate amargo. Às vezes assume também uma nota mentolada que nos faz confundi-lo com um Cabernet Sauvignon nas degustações às cegas.
Quando envelhecido, assume notas animais de couro, pelica ou carne assada.
Carnes de caça, ensopados de carne, pato ou peru assados e queijos defumados são corretamente escoltados por bons Shiraz australianos.
Novata no mundo dos vinhos, pois a aclimatação de viníferas só se deu ali depois de 1970, a Nova Zelândia - formada pelas ilhas norte e sul - teve a atenção internacional voltada para si por obra e graça da variedade Sauvignon Blanc. Isso teve início em 1985, quando a Vinícola Montana, de Marlborough, ilha sul, conseguiu grande sucesso comercial com seu branco frutado de aroma exuberante, que levava de forma pioneira o nome da Sauvignon Blanc. O exemplo foi rapidamente seguido por outros e ela tornou-se emblemática no país dos Kiwís, ainda que, em área plantada, seja suplantada no país pela Chardonnay e pela Muller Thurgau.
Uva de origem francesa, que origina os refinados vinhos brancos do Loire Superior - Sancerre e Pouilly Fumé - a Sauvignon não é incluída por alguns experts no primeiro time por seu caráter vivo, um tanto impetuoso e pouco flexível. Se existe alguma região no Novo Mundo que possa contrariar essa teoria, ela se encontra na Nova Zelândia.
Ao frutado, lembrando melão e grapefruit, aliam-se nuances florais e vegetais que incluem aspargos e ervilhas sobre um fundo de mel. Um estilo sóbrio vem dos Sauvignon da Ilha Norte, em que as frutas surgem um pouco mais maduras, lembrando o pêssego pela associação com o mel. Na Ilha Sul, o vinho explode em aromas e se apresenta com uma acidez viva.
Os Sauvignon Blanc da Nova Zelândia acompanham trutas com manteiga e alcaparras, salmão defumado, pratos tailandeses, molhos marcantes, maionese, moluscos e aspargos, além de sua clássica combinação com queijos de cabra. Também pratos típicos do Brasil como a moqueca e a torta capixaba se ajustam com esses vinhos às maravilhas.
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