Os preços dos insumos aumentaram entre 10 e 20% apenas em abril
por Silvia Mascella Rosa
O problema, que está se tornando recorrente, atingiu recentemente a Espanha, como noticiamos aqui, atingiu o Brasil no ano passado e agora causa problemas também na França. A falta de garrafas, lacres e caixas está deixando os produtores com seus vinhos (parte deles já comercializados) parados nos tanques e nas barricas sem poderem ser engarrafados.
É comum que os vinhateiros façam as encomendas dos chamados 'materiais secos' logo ao final da safra, onde conseguem ter uma noção de quanto irão engarrafar (ao menos de vinhos jovens) no próximo ano. Foi o que fez Anne-Laure Sicard, proprietária do Mas Lasta em Terrases du Larzac, no Languedoc. Mas duas semanas antes da data prevista para a entrega (no mês de março) o distribuidor ligou avisando que não conseguiria entregar parte dos vasilhames, especialmente as garrafas transparentes. "É impossível trocar a cor das garrafas agora! Já apresentei meus vinhos nas feiras e já vendi parte deles. Tive que escolher outro modelo transparente que estava disponível, mas que tem uma diferença no gargalo e agora as cápsulas não servem e vou ter que comprar novas cápsulas", contou a enóloga.
"O preço quase que se tornou secundário" afirma Philippe Thenailler, responsável por compras no grupo Serge Cheveau, na Cóte D'Or, um importante distribuidor de garrafas e materiais secos. Ele conta que não está conseguindo entregar todas as garrafas que os produtores necessitam e que parte do problema vem dos fornos que foram fechados na Espanha por conta dos cortes de energia. Além disso, os preços aumentaram entre 10 e 20% agora em abril. Já com as cápsulas, as entregas que costumavam ser feitas entre quatro e cinco semanas depois do pedido, estão sendo feitas em três meses e com aumentos de 6%.
Na região de Vaucluse, onde fica o Domaine du Chêne Blue, também há com problemas nas garrafas transparentes para os vinhos rosés. "Tivemos que diminuir nosso volume de engarrafamento de 250 hectolitros para 180, pois não recebemos todas as garrafas que encomendamos", conta Marlene Angelloz, gerente da empresa. Ela explica que agora precisam gerenciar os clientes. Alguns aceitam receber apenas parte do pedido que fizeram e outros não, embora a maioria seja bastante compreensiva: "Eles sabem que todos os setores produtivos foram afetados e que não somos os responsáveis. O vinho está aqui, só não temos como engarrafá-lo", contou Angelloz.
No entanto, há um impacto ainda maior de custos gerado pelas entregas fracionadas, pois o custo de transporte também aumenta e a maioria dos produtores já elevou seus preços neste ano, não podendo dar outro aumento agora. Para Éric Lamaille, chefe de serviços da União dos Viticultores de Champagne, o grande receio da região é com as tampas, gaiolas e lacres. "Fizemos o pedido em março e vamos receber em outubro na melhor das hipóteses. Esse problema já aconteceu em 2021 e os produtores estão temerários. Nossa previsão é que os fornecimentos de materiais só se estabilizem no último trimestre deste ano", explica Lamaille.