Os charutos também têm suas safras específicas, que alteram e influenciam suas notas de degustação
por Paulo Bueno
Assim como os vinhos, os charutos também têm safras. Algumas podem ser melhores ou piores, de acordo com as condições à sua volta. Para entender um pouco mais sobre as safras dos charutos, precisamos passear pelas etapas de produção, que vão desde o terroir e semente até sua construção, propriamente dita.
As melhores regiões para o plantio da Nicotiana tabacum, cujas folhas originam os charutos, são de terra mista e de clima quente e úmido. Esta planta é da família das Solonáceas, como o tomate, pimentão, jiló, batatinha, pimenta.
Entre as variedades mais conhecidas e utilizadas atualmente, estão a Corojo 99 (capa e capote), Criolo 98 (capa e capote), Habano 2000, ou simplesmente H2000 (capa e capote), Sumatra – bastante utilizada no Brasil (capa), a Bahia Brasil, Connecticut – Costa Rica (capa e capote) além de uma novidade ainda em experimento no Equador, a chamada Habano 61 ou H61.
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Hoje, ao contrário do que se pensa, o maior e mais tecnológico banco de sementes do mundo está na Costa Rica (Banco Internacional da Costa Rica), uma iniciativa privada de investimentos alemão e holandês. O processo de semente para uma muda tem um período de 45 dias em média, e de aproximadamente três meses para uma primeira colheita, onde a planta de tabaco atinge de 1,20 a 1,60 metros. Entre 25 e 27 dias são retiradas duas folhas da parte inferior da planta. Estas são mais finas e delicadas do que as demais. Entre seis e oito dias, dependendo das chuvas, são retiradas as do meio da planta e mais sete à oito dias a colheita final, totalizando no máximo um período de colheita de 45 dias. Com uma maior precipitação das chuvas, a colheita se antecipa.
Processo de produção artesanal de charutos safrados |
Durante a colheita, são feitos maços de 50 folhas amarradas pelos talos, nos quais são penduradas em varas, e estas são levadas a um barracão para secarem à sombra, por aproximadamente 45 à 60 dias. Este processo é conhecido como maturação.
Após a secagem, são feitos os chamados “Burros” (pilhas das folhas) de 1,5 toneladas, sobrepostos em pisos de bambú. Este processo é conhecido como fermentação, no qual o peso e volume fazem com que haja um aumento da temperatura. A fermentação é acompanhada para que a temperatura dos “Burros” se mantenha entre 40, 45 e 47ºC, variando de “Burro” para “Burro”, segundo os tipos de folhas e o destino de cada uma delas na fabricação dos charutos. Estes “Burros” são desfeitos e remontados em ordens inversas, as folhas de fora vão para o centro as do centro para fora, as de cima para baixo, as de baixo para cima, até que a temperatura dos “Burros” seja estabilizada e atinja a temperatura ambiente (25ºC).
O processo de maturação, secagem, fermentação e armazenamento, principalmente das capas de uma excelente safra, pode durar até cinco anos. Depois destas etapas, as folhas partem para um processo de seleção, que demanda uma mão de obra especializada, assim como um bom enólogo escolhe da melhor forma as amostras do vinho para a assemblage. A especialização deste profissional deve-se à necessidade de escolher as folhas segundo sua textura e coloração, seguindo determinados padrões. As escuras e mais grossas, conhecidas como Fortaleza e classificadas como 1,2 e 3, são as folhas da ponta da planta, e na construção (torcimento) dos charutos são colocadas no centro; as de coloração e textura média são as folhas do meio da planta, estas dão o aroma ao charuto. As claras e mais finas, do pé da planta, são as que dão combustão ao charuto e, portanto, são as últimas no processo de torcimento.
A construção de um charuto de qualidade pode ser classificada assim: no centro do charuto, Fortaleza 3, depois combustão, acrescenta-se aroma mais Fortaleza 2 e Fortaleza 3, e por fim capote e capa, que complementam aromas e sabores. A queima de um bom charuto deve parecer uma seta (um formato V), e a estrutura da cinza de uns dois centímetros, deve suportar todo o charuto, quando este ainda aceso é colocado sobre ela.
Aí vão algumas dicas de charutos safrados de edições limitadas.
- Partagas D1, D2, D3 Edição Limitada 2003, 2004, 2006, respectivamente.
- Cohiba “Maduros” Edição Limitada 2006 “Magicos” (Robusto), “Secretos” (Petit Corona), “Gênios” (Gran Corona Gorda).
- Siboney “Hijo de Eradio” 2006 (Gran Corona Gorda).
- Dannemann “Artis LineVintage Reserva 2004” (Robusto, Robustinho e Panatela).
- Angelina “Infinitus 2006” (Figurado)
- Damatta “Graduados 2006” (Gran Corona Gorda).