Passeie pela história da grife criada por Fidel Castro, cobiçada por celebridades e consagrada no mundo inteiro
por Tiago Ribeiro
Um namoro recém-iniciado me motivou a fazer, durante o Carnaval deste ano, uma viagem que há tempos eu acalentava: visitar a Ilha de Fidel. Troquei com alegria nossa celebração pagã pela emoção de conhecer esse pedacinho do Caribe que é sinônimo de Fidel Castro, ron e... charuto!
Cuba é uma viagem obrigatória para quem aprecia um ‘puro’. Não importa se você é apenas um apreciador ocasional ou se dá suas baforadas semanalmente, diariamente até. La Isla del Comandante é diversão garantida para todo tipo de degustador de charutos. Em qual outro lugar do mundo você esbarra em senhores com pinta de Compay Segundo tragando puros enormes, no meio da rua, em plena luz do dia? Basta dar uma voltinha pela vieja e linda Havana para ter a certeza de que sim, você está na terra dos charutos.
#R#A razão pela qual Cuba é conhecida por produzir os melhores charutos do mundo é a mesma que faz com que regiões como Borgonha, Bordeaux e Toscana, por exemplo, produzam alguns dos maiores vinhos do mundo: o microclima. É aquele conjunto único de elementos que confabulam para que determinados produtos nascidos em um pedacinho do planeta sejam cobiçados e admirados globalmente por sua qualidade ímpar e pela singularidade de suas características. Desse namoro entre o microclima cubano (notadamente a região de Vuelta Abajo, a Oeste da Ilha) e a hábil mão do homem nascem os melhores charutos do mundo – os "puros", os Habanos. E é um dos maiores ícones cubanos que apresento nesse artigo.
Líder da revolução comunista e então novo chefe da nação cubana, Fidel Castro decidiu criar uma nova marca de Habano no início dos anos 60. Admirado com a qualidade do charuto fumado por um de seus seguranças, Fidel solicitou ao jovem que o apresentasse ao torcedor (profissional responsável por enrolar o charuto) que manufaturava aqueles puros de excepcional qualidade. Assim, Castro foi apresentado a Eduardo Rivero, e o encarregou de treinar outros torcedores para produzir, em uma nova fábrica, aquele que seria o melhor e mais famoso charuto cubano.
Mas ainda faltava um nome para o rebento. O Comandante, então, solicitou a sua secretária particular que fizesse uma pesquisa. Ele queria um nome que expressasse a alma cubana e que tivesse ligação inequívoca com a história do país. E, do ritual feito pelos nativos que habitavam a Ilha de Cuba, quando bebiam, dançavam e enrolavam folhas de tabaco para sair desta dimensão e entrar em contato com suas divindades, foi batizado um dos melhores charutos cubanos: Cohiba.
Os primeiros "puros" Cohiba saíram da fábrica El Laguito em 1966. Ganharam fama mundial, entre os aficionados, ao serem utilizados por Fidel Castro para presentear ilustres visitantes da Ilha, sobretudo diplomatas e chefes de estado. As fotografias que rodavam o mundo e exibiam os Cohiba repousados na boca de Fidel Castro e de alguns dos mais importantes governantes mundiais fizeram a fama deste "puro" cubano, numa ação eficaz do marketing comunista. Assim, os Cohiba tornaram-se um dos símbolos da Revolução, e marcaram o renascimento da indústria de charutos cubana.
Mas não é apenas em razão do bemsucedido marketing que os Cohiba estão entre os puros mais caros e desejados, do Brasil aos Estados Unidos, da Espanha ao Japão, desde que chegaram às lojas, em 1982. Os Cohiba são feitos de maneira inteiramente manual (nem todos os cubanos são), em pequenas quantidades, com as melhores folhas de fumo da melhor região produtora (Pinar Del Rio, em Vuelta Abajo), pelos melhores torcedores. E são os únicos, juntamente com os Trinidad, cujas folhas passam por três fermentações; os demais apenas duas.
Deu vontade de ir a Cuba? Se puder, não perca a oportunidade. Observe as ondas batendo nas muralhas da Malecón, caminhe por Havana Vieja, pare nos cafés, tome um mojito na Bodeguita Del Médio, um daiquiri no El Floridita e, claro, visite a Real Fábrica de Tabacos, atrás do Capitólio, construída em 1845. Suba suas escadarias, sinta o cheiro da madeira impregnada de fumaça, observe os trabalhadores – repare nas garrafas de ron disponíveis para os torcedores tomarem alguns tragos, ali mesmo, durante o expediente. Desça até a loja, compre um Cohiba e deguste-o devagar, após o jantar, de preferência escoltado por um ron Havana Club Añejo 7 anos. E lembre-se de como a vida é boa.
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