Descubra como o consumo moderado da bebida explica o 'Paradoxo Francês'
por Jairo Monson De Souza Filho
O que explica a aparente contradição entre a dieta rica em gorduras dos franceses e a baixa incidência de doenças cardiovasculares? Conhecido como "Paradoxo Francês", esse fenômeno intrigante colocou o vinho no centro de estudos científicos que revelaram os potenciais benefícios à saúde do coração.
Pesquisas pioneiras, como o famoso "Estudo dos 18 países" e as descobertas apresentadas pelo Dr. Serge Renaud, indicam que o consumo moderado de vinho, especialmente durante as refeições, pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares em até 60%. Mas será que a ciência já encontrou todas as respostas para esse mistério?
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É bem sabido que comer gorduras saturadas, fumar e ser sedentário, entre outras coisas, são fatores de risco para doenças do coração. Os franceses, quando comparados com outros povos do mesmo nível sócio-econômico-cultural, são mais sedentários, fumam mais e comem mais gorduras saturadas – os queijos, patês e manteigas são usuais na culinária francesa – e, no entanto, têm a metade dos problemas cardiocirculatórios.
A ciência médica não para de encontrar explicações para isso, mas a mais consistente, para alguns, e mais atraente, para muitos, vem do chamado “Estudo dos 18 países”, publicado na revista The Lancet, em 1979, por St. Léger e alguns colaboradores. Nesse trabalho, eles mostram que nos países em que o consumo per capita de vinho é maior, a mortalidade por causa cardiocirculatória é menor.
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A explicação mais aceita para esse fenômeno é que os franceses, na época da divulgação do "Paradoxo Francês", consumiam, em média anual, 100 garrafas de vinho por pessoa, além de beber sempre junto com a comida e gastar, em média, uma hora em cada refeição.
Embora outros artigos científicos já tratassem desse assunto antes, foi o anúncio do “Paradoxo Francês” que despertou a atenção sobre o tema, principalmente na comunidade científica.
A divulgação do “Paradoxo Francês” foi feita inicialmente nos Estados Unidos, no programa 60 Minutes, da rede TV CBS, em 7 de novembro de 1991, pelo Dr. Serge Renaud. Esse programa teve uma grande repercussão, que continua até os dias de hoje, tanto na mídia leiga como na científica.
Em julho do ano seguinte, a prestigiada revista médica The Lancet publicou o artigo “Wine, alcohol, platelets and the French Paradox for coronary heart disease”, assinado pelo Dr. Serge Renaud e o colega Dr. Lorgeril. Eles apresentaram, à comunidade científica, dados e conclusões: a ingestão leve e moderada de bebidas alcoólicas, sobretudo vinho, reduz o risco das doenças e da mortalidade cardiovascular de 40% a 60%.
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Essa informação causou grande impacto. Até então, o que a ciência ensinava é que ingerir bebidas alcoólicas era tão prejudicial quanto fumar. Com esses dados, um conceito científico teria que ser mudado.
Passados anos, milhares de pesquisas confirmaram os dados do Dr. Renaud e Dr. Lorgeril. Inúmeros estudos explicam os mecanismos pelos quais essa proteção acontece e evidenciam outros efeitos favoráveis do vinho, como a longevidade e a neuroproteção.
Isso tudo não foi suficiente para firmar essa idéia. Ainda há questionamentos sobre essa matéria. O ceticismo de alguns e o medo dos danos que o consumo abusivo de álcool pode causar impedem que esse novo conceito se consolide.
Em suma, estudos feitos a partir do "Paradoxo Francês" mostram que é possível agregar, ao prazer de beber, benefícios para a saúde, mas para isso é necessário que se faça junto com as refeições, de maneira regular e moderada, e somente se não houver contra-indicação ao consumo de bebidas alcoólicas.
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