Na fronteira com a França, Pfalz na Alemanha é composto de 23.684 hectares de vinhedos com terroir e vinho único
por Arnaldo Grizzo
Pfalz, em alemão, ou Palatinado como costumeiramente chamamos, é a segunda maior região vitivinícola da Alemanha, situada no sudoeste do país, fazendo fronteira com a Alsácia, na França.
Ali se encontra a primeira e mais conhecida rota do vinho alemã, a Deutsche Weinstraße, que ,por mais de 85 quilômetros, apresenta vinhedos que percorrem um lugar encantador, ligando 130 cidades entre Bockenheim e Schweigen.
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O nome Palatinado deve-se às terras terem pertencido ao conde palatino, um título detido por um importante príncipe secular do Sacro Império Romano. Na época medieval, os condes palatinos serviam como administradores dos territórios reais na ausência dos imperadores. A região foi dividida em Baixo Palatinado (Reno) e o Alto Palatinado.
O Palatinado da Renânia incluía terras em ambos os lados do rio Reno entre Main e Neckar. Sua capital até o século XVIII era Heidelberg. O Alto Palatinado estava localizado no norte da Baviera, em ambos os lados do rio Naab, que flui para o sul em direção ao Danúbio, e se estendia para o leste até a floresta da Boêmia. Mas as fronteiras do Palatinado variaram conforme os anos se passaram.
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Mas, voltando ao vinho, a viticultura local remonta ao início do Império Romano. A região vinícola fica na parte conhecida como Palatinado da Renânia, ocupando cerca de 5% da área total. Com 23.684 hectares de vinhedos, Pfalz é composto por duas áreas, Mittelhaardt-Deutsche Weinstraße e Südliche Weinstraße. A região se estende entre as montanhas Haardt (uma extensão dos Vosges), com sua floresta densa, e a planície do Reno, estendendo-se do sul de Worms até a fronteira francesa. Apesar de ser conhecida com a maior área de produção de Riesling do mundo, Pfalz também é a maior região de produção de tintos da Alemanha.
A região do Palatinado tem uma grande variedade de vinhas cultivadas, mas a maior parte é, obviamente, de Riesling, com cerca de 5.500 hectares, o que representa quase 25% do território. Contudo, logo em seguida vêm duas tintas: Dornfelder (12,1%) e Grauburgunder (ou Pinot Gris – 7,7%), seguidas pela branca Müller-Thurgau (7,6%) e outra tinta Spätburgunder (Pinot Noir – 7,1%). Portugieser, Weißburgunder (Pinot Blanc), Kerner, Chardonnay etc., também são relevantes por lá.
Quase 40% dos vinhedos são cultivados com uvas tintas. A Dornfelder juntamente com Spätburgunder (Pinot Noir) e Portugieser costumam ser as castas de maior destaque. A região também é líder de mercado para os vinhos Weißherbst (rosé), geralmente feitos da variedade de uva Portugieser. Outra especialidade de Pfalz é o vinho feito com St. Laurent.
Vale lembrar que a cepa Müller-Thurgau já teve mais importância na região, quando os vinhos Liebfraumilch se tornaram uma febre, especialmente nos anos 1990. Pfalz, portanto, foi e ainda é um importante fornecedor de componentes para o Liebfraumilch, grande parte engarrafado por grandes vinícolas de outras regiões e a maioria exportada.
Originalmente, a região vitivinícola foi dividida em três, de sul a norte, em Ober, Mittel e Unterhaardt. Na reforma administrativa de 1969, o distrito de Frankenthal (Palatinado), a parte ocidental da qual Unterhaardt pertencia, foi dissolvido e adicionado ao novo distrito de Bad Dürkheim, que também assumiu quase todo o Mittelhaardt do distrito de Neustadt an der Weinstraße – que também foi dissolvido. Como resultado, Mittelhaardt e Unterhaardt foram fundidas como Mittelhaardt-Deutsche Weinstraße, enquanto Oberhaardt tornou-se Südliche Weinstraße.
Algumas sub-regiões são mais destacadas, como Forst an der Weinstraße onde se encontram os vinhedos de Kirchenstück e Jesuitengarten, considerados os mais famosos da região.
A produção no Pfalz foi dominada por vinhos doces de alto volume nas décadas após a II Guerra Mundial e também por três produtores de renome como Geheimer Rat Dr. von Bassermann-Jordan, Dr. Bürklin-Wolf e Reichsrat von Buhl. Em 1991, Bürklin-Wolf iniciou uma revolução quando mudou o foco para os vinhos secos e estabeleceu novas diretrizes de qualidade, começando a designar vinhos secos de vinhedos únicos como Grand Cru, de acordo com as classificações de vinhedos estabelecidas na Boêmia em 1828.
As classificações dos vinhedos e a pirâmide de qualidade que Bürklin-Wolf instalou foram precursoras do sistema de classificação de qualidade do próprio Pfalz VDP.
As montanhas Haardt, de baixa altitude e densamente arborizadas, exercem sobre Pfalz a mesma influência que os Vosges sobre a Alsácia. Com 675 metros acima do nível do mar, elas protegem a região das chuvas e são, em grande parte, responsáveis por seu clima relativamente quente e seco.
É isso que torna os estilos de vinhos de Pfalz (particularmente os Riesling) visivelmente mais concentrados e encorpados do que aqueles encontrados em regiões mais frias e úmidas da Alemanha. Todos os principais vinhedos de Pfalz estão localizados em uma longa e fina faixa na base das colinas.
Pfalz é uma das regiões vinícolas mais quentes da Alemanha. Os verões são secos, mas não extremamente quentes, e os invernos são amenos. O solo é bastante variado em toda a área, com zonas de arenito, calcário, marga, loess-loess, granito e alguns trechos isolados de ardósia. Na área norte da região de Pfalz, o solo mais comum é o calcário, enquanto no sul o loess e a argila são mais comuns.
Os vinhos brancos de Pfalz costumam ser secos, com sabores frutados intensos e, às vezes, tons de mel, equilibrados por boa acidez – geralmente menos intensa do que os vinhos do Mosel. Os tintos da região tendem a ser leves e apresentam sabores de frutas silvestres, chá preto e especiarias. Os mais intensos geralmente são produzidos com a uva Dornfelder.