Antonina Barbosa, enóloga-chefe e diretora geral da Falua, com exclusividade explica os vinhos de Conde Vimioso e seu vinhedo singular
por Eduardo Milan
Com exclusividade, conversamos com Antonina Barbosa, enóloga-chefe e diretora geral da Falua, sobre a Vinha do Convento, de onde vem grande parte dos vinhos Conde Vimioso. A Falua conta com projetos nas regiões do Minho (Monção e Melgaço), com a marca Barão do Hospital, que ainda não é importada para o Brasil, e do Tejo, com diversas marcas, entre elas a Conde Vimioso, que chega ao Brasil através da importadora Decanter.
Original da zona de Monção e Melgaço, Antonina foi a responsável por implantar o projeto de João Portugal Ramos na região do Minho e, desde 2004, está na Conde Vimioso, onde cuida da elaboração dos vinhos, além de outras atribuições. Grande parte dos tintos e brancos da Conde Vimioso vêm da Vinha do Convento, segundo ela “um vinhedo único, pois está todo plantado numa área repleta de calhaus”.
Calhau é como são chamados os seixos rolados por lá, que são, na verdade, fragmentos de pedras arredondadas, muito comuns nos leitos dos rios. E diz sorrindo, “pela grande quantidade de calhaus, muitas vezes quem visita a vinha pergunta se as pedras foram lá colocadas por nós”.
De fato, visitar esse vinhedo é uma experiência única (ADEGA esteve lá em maio desse ano) e não tem como não fazer uma relação com as vinhas localizadas em Châteauneuf-du-Pape, no sul do Rhône, França, que também possuem grande quantidade de pedras, que lá recebem o nome de galets.
Antonina continua, “a Vinha do Convento foi plantada em 1994 e está localizada na parte sul do Tejo, conhecida como Charneca, e conta com 40 hectares plantados, numa densidade de 4.500 plantas por hectare, com as castas tintas Castelão, Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Trincadeira Preta, Aragonês e Alicante Bouschet, bem como as brancas Fernão Pires, Chardonnay e Arinto”. E detalha “a grande concentração de calhaus aumenta a velocidade e o potencial de maturação, pois elas refletem e exalam calor”.
Isso é perceptível ao se provar os vinhos. Entre os produtores mais regulares do Tejo, a Conde Vimioso sempre teve brancos e tintos, em geral, muito equilibrados, com abundância de fruta e certa concentração, mas também com acidez e estrutura na mesma proporção.
Isso, mesmo na primeira década dos anos 2000, quando a untuosidade, a madurez e a opulência eram mais valorizadas. Atualmente, essa percepção de frescor, finesse e equilíbrio é confirmada.
Ou melhor, é ainda mais clara, com mais tensão, maior nitidez de fruta e um conjunto mais preciso, polido e fluido.
E perguntada sobre o que mudou desde 2004, quando entrou na vinícola, para chegar no perfil dos vinhos de hoje em dia, Antonina responde: “a minha compreensão desse vinhedo, de como trabalhar nele para ressaltar e não encobrir suas qualidades e, além disso, a minha experiência com o passar de tantas colheitas, pois na juventude costumamos ser muito mais intervencionistas”.
Pelos brancos e tinto degustados temos que concordar com ela.
Composto a partir de Arinto e Fernão Pires, sem passagem por madeira, mas mantido em contato com as lias por curto período de tempo, é um vinho que mostra frutas brancas e de caroço envoltas por notas florais e de ervas, que se confirmam na boca. Fresco e gostoso de beber, tem ótima acidez, textura firme e cremosa e final persistente.
Composto a partir de Arinto, Fernão Pires e Verdelho, com fermentação e estágio de 6 meses, sendo 80% em tanques de aço inox e 20% em barricas de carvalho francês. Mostra frutas brancas e de caroço seguidas de notas florais, de ervas e de especiarias doces, que aparecem tanto no nariz quanto na boca. Estruturado, chama atenção pela textura cremosa e pela acidez vibrante, que traz sustentação e equilíbrio ao conjunto.
Composto a partir de Aragonês, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Syrah, com estágio de 12 meses em barricas usadas de carvalho francês. Mostra notas florais, de ervas e de especiarias doces envolvendo sua fruta, lembrando cassis e ameixas, tudo sustentado por taninos firmes e de textura arenosa e vibrante acidez, que conferem fluidez e profundidade ao vinho. Tem final carnudo e persistente, com toques de amoras, de alcaçuz e de grafite.
Somente elaborado em anos considerados excepcionais, esse vinho é composto a partir de Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Castelão e Aragonês, com 18 meses de estágio em barricas novas e usadas de carvalho francês. Dentro do estilo mais maduro e refinado da casa, mostra frutas vermelhas e negras seguidas de notas florais, de ervas e de especiarias doces, tudo bem equilibrado por taninos finos e firmes e por acidez na medida certa. Tem final cheio, persistente e complexo, com toques terrosos, de tabaco, de eucalipto, de ameixas, de amoras e de alcaçuz.
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