Cupido na porta da Deutz anuncia a champagne do amor com obra de arte na rolha

por Arnaldo Grizzo

A ideia do champagne que traduz as conquistas amorosas é sedutora e faz sentido no universo do desejado vinho borbulhante. O cupido na entrada da Deutz anuncia a casa produtora da Amour, feita de uvas Chardonnay

Amor é complicado de descrever. Os filósofos, escritores e poetas já tentaram, de todas as maneiras, com todas as rimas, em verso e prosa, em tratados, de inúmeras formas, resumir esse sentimento. Se é que isso é mesmo um sentimento. Na antiguidade clássica, amor era tão importante que foi personificado, tornou-se um deus, Eros (ou Cupido, segundo a mitologia romana).

Cupido sempre foi representado como um jovem (por vezes também uma criança) alado portando seu arco. Volúvel, era capaz de atormentar homens e deuses disparando suas flechas que causavam uma paixão súbita e inabalável em seus alvos. Ao ser flechado, era impossível resistir ao amor. E se houvesse uma bebida que simbolizasse essa sedução amorosa indomável certamente seria o Champagne.

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Em vez de flechas com pontas de coração, os galãs do cinema já apelavam para esse líquido mágico borbulhante que inebria as mais incautas donzelas. Casanova talvez seja um dos principais exemplos, pois sempre abria uma garrafa nos momentos de conquista amorosa. James Bond também tinha uma garrafa em mãos quando estava com suas belíssimas 'Bond Girls'.

Ciente disso, uma marca assumiu definitivamente o lado conquistador do Champagne e nomeou uma de suas principais Cuvées como Amour. O sagaz "anjinho", aliás, está em uma estátua na porta de entrada da Deutz, aguardando suas "vítimas" com a pose de quem espera o momento exato para suas travessuras amorosas.

Herança alemã

Depois de muitas dificuldades no início do século 20, a Deutz se reergueu como uma das grandes casas de Champagne. Em 1996, a Louis Roederer se tornou a principal acionista e Fabrice Rosset passou a comandar a empresa, com a presença de descendentes da família alemã que lhe deu origem

A Deutz, como o nome já denota, é de origem alemã, assim como diversas outras casas em Champagne. A empresa, com sede em Aÿ, foi fundada em 1838 por William Deutz (que já havia trabalhado na Bollinger) e Pierre Geldermann. Entre as grandes casas de Champagne, ela sempre foi uma das mais discretas, talvez exatamente devido a essa ascendência alemã que trouxe tanto alguns benefícios quanto problemas durante os vários anos de guerra pelos quais a região passou.

Ter um sobrenome alemão por vezes favoreceu a Deutz, especialmente durante a invasão da Alemanha na II Guerra Mundial, mas também causou enormes dificuldades em períodos pré e pós-guerras, já que os alemães eram vistos como inimigos. O primeiro grande percalço da Deutz ocorreu em 1911, durante o levante dos produtores de Champagne. Na época, os preços pagos pelas uvas eram tão baixos que os vinicultores se revoltaram e destruíram tudo em seu caminho. A caves da Deutz, infelizmente, estavam no trajeto dos revoltosos e foram completamente saqueadas, fazendo com que a casa fosse uma das mais afetadas pela crise da época.

Apesar das dificuldades, as gerações se sucederam enquanto a Deutz ainda era uma empresa familiar. Em 1996, a casa Louis Roederer se tornou a principal acionista e Fabrice Rosset passou a comandar a Deutz, ainda com a presença de descendentes da família, que estão lá para ajudar a preservar o estilo do vinho da casa.

Vinho do amor

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Cerca de 80% das uvas usadas nos vinhos da Deutz provêm de vinhedos Grand e Premier Crus, boa parte próxima de Aÿ. A casa tenta preservar a cultura biológica das vinhas ao máximo, evitando o uso de pesticidas. Mas, como em todo produtor de Champagne, o principal trabalho se dá na adega. Lá, seu Brut Classic, o espumante de entrada, pode ter de 30 a 40 vinhos de parcelas diferentes e diversas safras para manter sempre a mesma qualidade e estilo.

Sua cuvée prestigie, chamada William Deutz, em homenagem ao fundador da casa, é relativamente tardia, lançada somente em 1961, quando comparada a outras marcas. A versão rosé data de 1985. Em 1993, porém, a casa lançou a Amour de Deutz, um "blanc de blancs" elegante, porém mais denso do que a maioria dos Chardonnay 100% em Champagne. A garrafa transparente já dá o tom de exclusividade do produto, mas, logo abaixo do lacre prateado está a principal surpresa. Sobre a rolha fica uma capsula dourada, uma joia - com o desenho do anjo Amor e um brilhante -, uma obra de arte do famoso designer francês Pascal Morabito. Então, se as bolhas do espumante não forem suficientes para conquistar sua acompanhante, quem sabe o adorno (que se transforma em um colar) ajude.

DEUTZ TRIO

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A efervescência do Champagne é contagiante e a dança das bolhas parece seguir uma música. No caso da Deutz, talvez sigam mesmo. Em 1989, três jovens músicos da orquestra sinfônica de Londres decidiram criar o Deutz Trio, em homenagem ao seu Champagne favorito. O flautista Paul Edmund-Davies, o pianista John Alley e o oboísta Rou Carter viajam o mundo interpretando obras clássicas. Segundo a Deutz, as súbitas emoções da música e do Champagne se completam e se exaltam. Dessa forma, a Pinot Noir com sua potência e estrutura, por exemplo, evoca as melodias de piano de Brahms e Bruckner. A elegância e a finesse da Chardonnay levam à música de câmara de Mozart, Debussy, Ravel, permeados pelos tons da flauta. Por fim, a maleável, complexa e espontânea Pinot Meunier reviveria o oboé alegre de Vivaldi e Bach.

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