Vinã Elena faz intervenção arquitetônica que destacou aspectos históricos que se erguem como testemunha do tempo na Espanha
por Arnaldo Grizzo
Aninhada na trama histórica da produção de vinho, a Viña Elena ergue-se como testemunha do tempo e da herança da região de Jumilla, na Espanha. Fundada em 1948 dentro dos muros de uma antiga casa rural, a evolução da vinícola espelha a passagem das gerações, cada uma deixando sua marca no cenário arquitetônico.
Mais recentemente, contudo, um novo capítulo se desdobrou à medida que a vinícola embarcou em uma jornada transformadora, reimaginando suas estruturas para abrigar não apenas vinho, mas a essência de seu legado.
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Situada a nordeste de Múrcia, em Jumilla, a vinícola foi fundada pelo “avô” Francisco em 1948, que começou a fazer vinho com uma modesta prensa na adega da casa, mais tarde passou para as mãos do “pai” Paco Pacheco que expandiu o negócio e atualmente está na terceira e quarta geração que continuam na empresa. De 1948 a 2005, os processos foram sendo realizados em três edifícios distintos.
A intervenção arquitetônica realizada pela Santa-Cruz Arquitectura criou uma nova vida nas paredes envelhecidas. Em vez de apagar a história, o projeto de reabilitação buscou honrá-la. Os estilos e materiais heterogêneos que testemunham o passado foram harmonizados, tecendo uma narrativa única, com design e elegância espacial.
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Essa trama delicada entre tradição e modernidade é o cerne da intervenção. Estruturas existentes, repletas dos ecos da parte doméstica e de produção, permanecem intocadas, seus pisos envelhecidos, marcenarias e paredes adornadas testemunhando uma era passada. No entanto, dentro dessa homenagem à antiguidade, elementos contemporâneos encontram seu lugar, oferecendo novas perspectivas sobre habitar esses espaços reverenciados.
Um dos aspectos marcantes do projeto é o surgimento de uma fachada verde, que envolve os edifícios, nutrindo tanto o antigo quanto o novo. Um testemunho à sustentabilidade, este manto verde não apenas protege as construções, mas simboliza um compromisso com um futuro mais verde. Ele se destaca como uma declaração contra a emergência climática, uma fusão de elegância arquitetônica e consciência ecológica.
Essa fachada verde é baseada numa estrutura tubular de aço, ligeiramente separada do edifício, que reconhece a volumetria e a distribuição das aberturas.
A vegetação é plantada em sua base e, para lhe proporcionar um suporte contínuo para a escalada, a estrutura é revestida por um padrão geométrico de cabo de aço inoxidável.
Nos espaços abertos entre os edifícios, a fachada verde separa-se dos volumes para criar áreas exteriores e proporcionar-lhes sombra natural.
A narrativa continua para o interior, onde a escavação na Vinícola 0, fundada por Francisco Pacheco revela os vestígios de um século passado. Transformado em um museu, esse sítio arqueológico serve como janela para as origens da vinícola, um vislumbre de suas raízes históricas.
Nas coberturas cujas condições estruturais eram ótimas, as vigas de madeira são preservadas através da instalação de conectores a uma nova laje de concreto que serve de reforço.
Uma nova cobertura tecnológica, com estrutura leve em árvore, emerge nas cornijas de telha e permite novas aberturas para atender às necessidades de iluminação, ventilação e condicionamento acústico dos espaços. Desta forma, podem adaptar-se às exigências atuais de eficiência energética e acessibilidade.
O beiral deste telhado oferece proteção solar, permitindo que a telha original seja refletida através de uma superfície espelhada. Salas originais como o pombal ou o celeiro são transformadas em espaços públicos polivalentes através da introdução de novas instalações e infraestruturas que se adaptam às atuais exigências de eficiência energética e acessibilidade.
A transformação da Viña Elena não é apenas uma renovação; é uma narrativa recontada, uma ponte entre herança e inovação, onde os sussurros do passado ressoam harmoniosamente com as aspirações do futuro.
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