Parte dos vinhedos ficam na Áustria, mas os príncipes de Liechtenstein também já fizeram vinho na República Tcheca
por Redação
Quase ninguém se lembra, mas “escondido” nos Alpes entre a Suíça e a Áustria há um principado de apenas 160 quilômetros quadrados e menos de 40 mil habitantes, um dos menores países da Europa, Liechtenstein.
A história desse local é bastante tortuosa até chegar à compra pela dinastia de Liechtenstein, cujas origens remontam ao século XII no Castelo Liechtenstein, na Áustria.
E, como se pode imaginar, a vitivinicultura do país depende basicamente dos príncipes. Aliás, a mais importante vinícola é deles, a chamada Hofkellerei des regierenden Fürsten von Liechtenstein, ou seja “Adega da corte do príncipe reinante de Liechtenstein”.
Atualmente ela é administrada pela princesa Marie (esposa de Constantin von Liechtenstein, terceiro filho do príncipe reinante) e conta com dois domaines, sendo que um deles, na verdade, é na região noroeste da Áustria, em Wilfersdorf, e o outro, sim, no território de Liechtenstein, em Vaduz, ao redor da capital.
A história vinícola dos príncipes em Wilfersdorf, por sinal, é mais antiga do que em Vaduz e é quando se inicia a “Hofkellerei”. Foi em 1846 que Otto IV de Maissau legou o castelo e as propriedades de Wilfersdorf a Christoph II de Liechtenstein, com o consentimento do duque Albrecht V da Áustria, e teve início a adega principesca.
Já o feudo de Schellenberg foi adquirido somente em 1699 pelo príncipe Hans Adam von Liechtenstein e o condado de Vaduz em 1712. Em 23 de janeiro de 1719, o imperador Carlos VI unificou o condado de Vaduz com o feudo de Schellenberg e elevou-os a um principado imperial do Sacro Império Romano-Germânico chamado Liechtenstein.
Era, então, o “assentamento” da dinastia em um local que são as suas fronteiras até hoje.
Com a aquisição do condado de Vaduz (hoje capital do país), o vinhedo de Herawingert, o mais famoso de Liechtenstein, passou para a posse da casa principesca. Ele é considerado um dos melhores terroirs do Vale do Reno. Mas durante muito tempo, as propriedades vinícolas dos príncipes ficaram espalhadas entre Áustria, República Tcheca e seu próprio território.
Um curioso texto de 1603 dava instruções para o administrador da adega de Wilfersdorf. Nele, o príncipe Gundakar von Liechtenstein, que naquela época residia no castelo local, apontou que o “despenseiro não deve atender estranhos na adega e não deve ‘beber’ com eles (aparentemente uma prática comum)”. Em caso de contravenção, ele devia ser “seriamente punido” pelo administrador-chefe.
Uma “reforma agrária” em 1848 reduziu as propriedades dos príncipes, que tiveram suas terras reorganizadas. Além de Wilfersdorf, naquela época com cerca de 7,5 hectares, havia a gestão de propriedades em Feldsberg, na Morávia (parte da República Tcheca), e Herrnbaumgarten (Áustria). Feldsberg, por sinal, foi o principal ponto da viticultura da dinastia dos Liechtenstein até 1945. Depois de 1945, os vinhedos em Herrnbaumgarten e Hausbrunn, no Weinviertel, Áustria, formaram a base para a reconstrução da propriedade vinícola principesca.
O nome Liechtenstein está ligado à cidade de Wilfersdorf, no nordeste da Áustria, há séculos. O Domaine Wilfersdorf é propriedade familiar desde 1436 e está rodeado por numerosos monumentos históricos, como o próprio castelo. Um clima frio e solos férteis de loess caracterizam o terroir, produzindo vinhos com boa acidez. As uvas cultivadas nos single vineyards de Karlsberg e Johannesberg são as mais cobiçadas.
Já o Domaine Vaduz tem 4 hectares e representa o coração da viticultura do país hoje, com um dos melhores vinhedos do Vale do Reno, Herawingert, que é gerido totalmente de forma manual. Graças à exposição sudoeste, clima ameno e solo rico em xisto e calcário, Pinot Noir e Chardonnay são as variedades mais destacadas. A equipe enológica dos príncipes é auxiliada por ninguém menos que o renomado consultor Stéphane Derenoncourt.
A princesa Marie conta que, durante muitos anos, os vinhos não estavam à venda no mercado, o que só passou a acontecer nos anos 1950. “Nosso vinhedo era realmente uma bela adormecida à qual as pessoas não prestavam muita atenção. Nós simplesmente o acordamos, levantamos com um novo espírito e o fizemos funcionar. Ainda estamos trabalhando para fazê-lo produzir coisas novas”, diz.
A princesa aponta que seus métodos de cultivo são sustentáveis e, apesar de fã da biodinâmica, nem sempre emprega todos os procedimentos das técnicas pregadas por Rudolf Steiner, pensador austríaco pai dessa teoria. “Muitas vezes esquecemos que os métodos biodinâmicos usam muito cobre para combater fungos, e isso danifica o solo. Então eu não diria que somos uma vinícola biodinâmica, mas adotamos uma abordagem menos prejudicial ao meio ambiente”, afirma.
“Os vinhos precisam de uma história divertida para contar e nós temos uma grande história – afinal, todo mundo gosta de uma história envolvendo príncipes e princesas”, conclui rindo.
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