Portugal

A origem dos vinhos portugueses

Expansão iniciou-se no século XI, quando conventos comercializavam a bebida do Douro

por Pedro Silva (*)

Para um português, falar sobre vinho é, acima de tudo, abordar um dos produtos que, ao longo da história, mais contribuiu para que o país fosse conhecido comercialmente no exterior. Não é menos verossímil afirmar que um amante do estudo do passado não pode deixar de sentir-se atraído pela atividade vinícola, tendo em conta que foi algo a que, de forma paralela, o labor de muitos portugueses – homens e mulheres – tornou possível paladares tão famosos quanto o mundialmente famoso Vinho do Porto e, com isso, fizeram História.

Apesar de alguma polêmica quanto a uma datação anterior, é normalmente aceito que o Império Romano foi a entidade responsável por uma proliferação do vinho por todo o continente europeu. A Península Ibérica, e Portugal, em concreto, não seria exceção. Estudos arqueológicos revelam que o homem proto-histórico desta zona consumiria uma bebida fermentada, quiçá o mais remoto antepassado da cerveja. Ainda assim, os romanos exportariam a tão apreciada bebida ou os ricos proprietários que se deslocaram para a atual zona de Portugal confeccionavam, dentro dos seus terrenos, o néctar escarlate. O famoso cronista de então, Estrabão, revela que existia na região um consumo de vinho, ainda que, no seu entender, de confecção rudimentar.

Conventos foram o berço da produção
industrial de vinhos portugueses

A título de curiosidade, a produção de cerveja parece ter surgido, tal como o vinho, de forma semi-industrial nas comunidades conventuais, sendo que na época pascal o consumo vinícola era proibido, havendo então a necessidade de se encontrar um substituto. Isto apesar de a cerveja, considerada bebida pagã – por ter sido trazida dos povos definidos como “bárbaros” pelos cronistas da época – ter demorado um longo tempo até ser aceita pela população como de consumo corrente. Ora, uma indústria vinícola tem de ser de origem posterior. Os relatos são escassos. Perto do século XI começam a surgir as primeiras referências, em documentos coevos, à produção de vinho com o intuito de venda do excedente. Ou seja, alguns conventos da zona norte de Portugal davam início a uma transação do produto que se revelaria os primórdios da expansão do magnífico vinho produzido junto ao rio Douro.

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Com o passar dos séculos, o vinho, obtido a partir do sumo de uvas de grande qualidade, tornou-se popular em diversos países, com particular destaque para os mediterrânicos, onde ele era particularmente apreciado. Do claustro conventual, a produção tornou-se mais abrangente e surgiram por todo o país castas regionais que têm cativado clientes por todo o mundo, com particular destaque para o anteriormente referido vinho armazenado nas caves de Vila Nova de Gaia (conhecido por “do Porto”), ainda que exista grande nobreza nos chamados vinhos de mesa nacionais. Convém aqui referir também a importância da questão religiosa na expansão vinícola. Como se sabe, a celebração eucarística do catolicismo encara o vinho como representação simbólica do sangue derramado por Jesus Cristo para remissão dos pecados da Humanidade.

É, portanto, perfeitamente normal que dentro de um panorama ocidental a bebida tenha tido maior oportunidade de ser conhecida e reconhecida. Mas nada disso afasta, naturalmente, o paladar intrínseco e o fato de qualquer degustação vive, sobretudo, de um jogo de sensações únicas que os apreciadores do néctar não hesitam em descrever. No que a qualidade do vinho diz respeito, Portugal tem, sem sombra de dúvida, uma enorme relevância no panorama internacional.

(*) Pedro Silva é um escritor português. Entre os livros de sua autoria estão Ordem do Templo: Em nome da Fé Cristã, Ku Klux Klan: Pesadelo Branco e Os Templários e o Brasil.

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