Uva nasceu em laboratório na França, foi importante na Lei Seca dos EUA, mas em Portugal que encontrou sua casa
por André De Fraia
A Alicante Bouschet hoje é encontrada até em terroirs clássicos como Chianti
Já era coisa de família. Louis Bouschet em 1824 havia criado a Petit Bouschet, uma casta que se destaca em locais quentes, tanto que um dos principais terroirs da uva é a Argélia.
Mas o nome da família na vitivinicultura mundial seria marcado pelo filho de Louis, Henri Bouschet em 1866 pegou a criação do seu pai e fez um cruzamento com a Grenache. Nascia ali a Alicante Bouschet.
Batizada com o sobrenome da família Bouschet e Alicante por ser uma das formas que a Grenache era conhecida, a uva se espalhou e chegou a ser uma das mais plantadas do mundo.
O principal fator que levou a Alicante Bouschet a cair no gosto dos produtores é que se trata de uma casta tinturada. Ou seja, além da casca, a polpa também tem cor. Os vinhos assim são mais estruturados e encorpados mesmo com tempo menor de maceração.
Alicante Bouschet e sua polpa roxa
Esse fato levou a uva a ser uma das mais utilizadas durante a Lei Seca nos Estados Unidos. Imagine que com a proibição de fabricação, transporte e vendas de bebidas alcóolicas um punhado de uvas poderia facilmente e rapidamente se transformar em vinho.
E era isso o que acontecia. Os comerciantes vendiam “tijolos de Alicante Bouschet” que os “enólogos”, que eram os próprios compradores, colocavam em banheiras cheias de água e pronto, vinho. Ou quase isso...
Fato é que em meados do século 20 a Alicante Bouschet começou a ser deixada de lado. O estilo de vinho encorpado poderia ser feito com outras uvas e ali começou um declínio da casta.
É aí que entra Paulo Laureano. O enólogo português é conhecido por transformar a francesa Alicante Bouschet na portuguesa Alicante Bouschet. Ou como ele gosta de dizer “a naturalizei portuguesa. E digo ainda mais, a naturalizei como alentejana”.
Antigo pé de Alicante Bouschet em Lodi na Califórnia que foi usado durante a Lei Seca
Ele disse em entrevista à ADEGA que queria uma casta que trouxesse cor e estrutura, mas que não deixasse de lado o equilíbrio. “Elas valem pelo equilíbrio, tal como os vinhos. Uma uva é boa porque consegue dar um bom teor alcoólico, boa acidez, boa estrutura, boa composição aromática”, completou o enólogo.
Porém, lembram que uma de suas ascendências é a Petit Bouschet que se dá bem em locais quentes como a Argélia? Pois é, é aí que entra o Alentejo.
“E a Alicante Bouschet só consegue fazer isso [dar equilíbrio ao vinho] com duas premissas: número elevado de horas de sol e temperaturas elevadas. Por isso, é mais do que uma uva portuguesa, é uma uva alentejana. Porque a Alicante só tem a expressão enológica que tem, no Alentejo”, explica Paulo.
Hoje a casta volta a conquistar terroirs mundo afora. Além de Portugal, Espanha, Califórnia, Chile, Brasil e até Chianti são alguns dos locais que temos a presença da Alicante Bouschet.
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