Se eles podem...

Nós também podemos! Confi ra o depoimento de quatro médicos que, não apenas bebem vinho, mas são apaixonados e incentivadores do conhecimento e do consumo da bebida (com moderação, é claro).

por Tatiana Fraga

Segundo o livro "Foi alguma coisa que você comeu?", de John Emsley e Peter Fell: "Há bons motivos para não se consumir álcool. No que diz respeito à saúde, os riscos são vício, doença, obesidade e os problemas a ela associados. O álcool fornece 700 calorias por 100 g, ficando em segundo lugar, precedido apenas das gorduras e dos óleos, que fornecem 900 calorias por 100 g.

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Há outros bons motivos em favor do consumo de álcool - com moderação, pelo menos. Ele reduz de imediato o estresse mental e, em longo prazo, beneficia o coração. Esse indício baseia-se em pesquisas epidemiológicas que mostram que a incidência de doenças cardíacas é menor entre aqueles que seguem orientações para a ingestão sensata de bebidas do que entre os que não o fazem. Segundo tais orientações, a mulher não deve tomar mais que três unidades de álcool por dia, e o homem não mais do que quatro". De preferência, vinho.

Dr. Edecio Armbruster
Geneticista e presidente da SBAV-SP

Por que beber vinho?
Cada um pode ter seu bom motivo para beber vinho. O historiador pode fazê-lo por essa bebida fazer parte da história da civilização; o erudito a bebe, pois vinho é cultura; os médicos o fazem porque ela é boa para a saúde; o homem de negócio porque a ela se cercam pessoas importantes; o sábio porque conhece tudo isso e ainda desfruta do prazer de dividi-la com alguém interessante que, como ele, tem a mesma maneira de pensar e seguramente terá momentos inesquecíveis para relembrar mais tarde.

Quais são as vantagens do vinho para a saúde física, mental e espiritual?
O vinho sabidamente tem um efeito benéfico sobre o sistema cardiovascular. Além disso, tem efeitos levemente euforizantes, o que pode substituir muito bem qualquer um dos antidepressivos leves. Ele também aguça o espírito desbloqueando muitos repressores e deixando a pessoa mais espontânea.

Por que tantos médicos consomem vinho e fazem parte de associações e confrarias por todo o país?
Eu sou presidente da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (SBAV), de São Paulo, onde há muitos médicos nas suas fileiras. Acredito que o médico tem que ser um observador por excelência, pois é dessa forma que chega aos seus diagnósticos. Ao observar o vinho com todos os seus sentidos (visual, olfativo, gustativo, tátil e até mesmo auditivo no caso dos espumantes), nos surpreendemos com sua complexidade, quer pela sua estrutura química, quer pelos seus diferentes efeitos no organismo.


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Os médicos são um exemplo de saúde para seus pacientes? E o vinho?
Lamentavelmente nem todo médico é um exemplo de saúde para seus pacientes. Alguns fumam e pedem para seus clientes cortarem o cigarro; alguns são obesos e prescrevem uma dieta rígida para controlar o colesterol e triglicérides. Mas, no vinho eles são, em sua grande maioria, reconhecidamente bons exemplos, pois se mostram equilibrados na quantidade e na qualidade do que bebem.

Quem pode e quem não deve consumir vinho?
Não devem consumir vinho os que por alguma razão de saúde devem se abster dele; os que necessitam toda fineza dos sentidos para desempenhar alguma atividade; e os que por ignorância ou deficiência não conhecem os limites do prazer com responsabilidade. Deve degustá-lo o sábio.

Dr. Ricardo C. Barbuti
Gastroenterologista e enófilo

"O vinho, em minha opinião, apresenta algumas características que são particulares entre as outras bebidas alcoólicas. É uma bebida única, consumida praticamente em todo o mundo, com inúmeras variedades no que diz respeito a sabor, aroma, textura e cor, tornando seu consumo agradável e de certo modo sofisticado. O vinho, assim como outras bebidas, tende a ser relaxante, desinibidor e um bom facilitador do sono.

Do ponto de vista médico, tem se mostrado eficaz em aumentar o colesterol bom (HDL) e diminuir o colesterol ruim (LDL). Somam-se a isso evidências de que poderia funcionar como um bom anti-agregante plaquetário, dificultando a formação de trombos em artérias, prevenindo seu bloqueio - como o que ocorre no infarto agudo do miocárdio. É importante, contudo, salientar que o vinho apenas previne o aparecimento de doenças cardiovasculares, não trata os pacientes que já apresentam as patologias.

É uma bebida extremamente rica em antioxidantes, ou seja, substâncias que combatem a ação dos chamados radicais livres, que têm grande importância na fisiopatologia de várias doenças crônicas e degenerativas. Existem também relatos de que o uso de bebidas alcoólicas de maneira moderada está ligado à menor incidência de doenças virais como a gripe e o resfriado. Mesmo com todas os efeitos benéficos dos vinhos bons, em quantidades moderadas, sua ingestão deve ser evitada em qualquer paciente que tenha doença hepática crônica de qualquer etiologia, doenças pancreáticas, neurológicas centrais, bem como de indivíduos que estejam fazendo uso de qualquer fármaco que tenha ação no sistema nervoso central, já que o álcool pode exacerbar sua ação sedativa.

Sabemos também do efeito deletério que o álcool apresenta quando consumido em quantidades excessivas, levando a sérias doenças como cirrose hepática, pancreatite, neuropatias, síndromes degenerativas do sistema nervoso central, aumento da incidência de câncer de estômago e esôfago.


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Dr. Erik Piva
Ginecologista, além de membro da ABS Campinas

Sobre prazer:
"Sabe-se que um dos maiores prazeres humanos é a saciedade gustativa, através de comidas e bebidas. Quando temos a associação desses dois elementos potencializamos nossos prazeres, liberando endorfinas, ocasionando sensações emotivas de bem estar e elevando a auto-estima dos consumidores do vinho".

Sobre saúde:
"Existem vários trabalhos dentro da literatura médica e científica que correlacionam uma relação inversa da ingestão moderada de álcool e a taxa de mortalidade por doença cardiovascular - o que chamou a atenção para a constituição de algumas bebidas alcoólicas. O fenômeno conhecido como 'paradoxo francês' permitiu observar que, apesar da dieta rica em gorduras saturadas, altos índices de tabagismo e dislipidemia, a população registrava um baixo índice de doenças cardiovasculares. O fato deve-se ao hábito de a população ingerir vinhos durante as refeições, ofertando um grande aporte de polifenóis, que possuem um poder antioxidante e um potencial de prevenir lesões endoteliais causadoras de aterosclerose.

Para efeito de conhecimento, foi realizado um ensaio clínico entre 1976 e 1988, com 13 mil pessoas voluntárias, comparando consumidores e não consumidores de vinho onde observou-se uma diminuição importante de doenças cardiovasculares naqueles que ingeriam entre 3 e 5 taças de vinho por dia. Este famoso estudo chamase Copenhagen City Heart Study e revelou também um outro dado importante, quanto a um menor risco de desenvolvimento de demência na população idosa consumidora de vinho. Os autores deveram o resultado às substâncias químicas presentes no vinho - e não no álcool - como protetores contra a demência".

Sobre médicos e vinho:
"A cultura de apreciação do vinho tem a ver com um dos princípios básicos e fundamentais da medicina que é a observação atenta e crítica. Quando tomamos uma taça de vinho, a submetemos a uma verdadeira investigação clínica, invocando nossos sentidos, atenção e sensibilidade para traçarmos um parâmetro de comparação e classificação dos vinhos. É um grande exercício intelectual e de memória visual, olfativa e gustativa.



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O mundo do vinho nos inspira a aceitar novos desafios, a fazer amizades e reunir pessoas das mais variadas culturas em torno de um tema de tanta complexidade, capaz de despertar verdadeiras paixões. Acredito que, por todas essas razões, os médicos se reúnem para fazer estudos meticulosos sobre a bebida e apreciá-la da forma mais prazerosa possível".

Sobre vinho e saúde:
"Os médicos, na grande maioria das vezes, são um exemplo de saúde para seus pacientes e uma das melhores prescrições que podemos fazer são as orientações dietéticas. Nós sabemos que existe um interesse grande da comunidade científica na relação entre os hábitos de vida dos povos da terra e a origem epidemiológica das doenças. Existem vários estudos epidemiológicos que demonstram relação entre a dieta e a longevidade de um povo.

fotos: Frank van den Berg e Luis Rock/Stock.XchngRecentemente foram publicados estudos interessantes relacionando longevidade com a dieta mediterrânea, que é rica em legumes, verduras, peixes, azeite de oliva e, claro, o vinho. Essa dieta, com menos quantidade de gordura animal e rica em legumes, vegetais pigmentados e azeite de oliva ganha cada vez mais adeptos e embasamento científico. Encontramos nesses alimentos e no vinho, os fenóis (flavanóides), que são princípios fitoquímicos presentes em alimentos pigmentados e na uva vinífera, que apresentam intensa atividade antioxidante capaz de proteger as plantas de agressões e situações adversas, como calor excessivo e radiação ultravioleta.


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Essas substâncias podem ser de extrema importância na redução de riscos como aterosclerose, efeitos favoráveis nos lipídios séricos e agregação plaquetária. Portanto, podemos concluir que o vinho tem muitos efeitos benéficos para a saúde, desde que consumido com moderação.

Sobre contra-indicações:
É claro que as crianças e adolescentes não devem ser estimulados a consumir vinho, pois teremos sérios problemas sociais e até jurídicos! Em termos de contra indicações ao consumo de vinho, temos aqueles indivíduos com problemas de saúde mais graves, como uma doença hepática, insuficiência renal ou qualquer patologia que se agravará com a ingestão de vinho. É sempre bom lembrar que a bebida contém álcool e seu uso descontrolado tem inúmeras conseqüências.

Dra. Emídia Maria Freitas Costa
Oftalmologista e também presidente da ABS - Bahia

"Quase metade dos associados da ABS Bahia são médicos. Acredito que muitos médicos, com base em sua observação, na experiência pessoal e nos inúmeros trabalhos científicos que já existem provando os benefícios do vinho para a saúde, optam pelo vinho como sua bebida número um. O vinho, com toda a cultura que ele agrega, é uma bebida sofisticada que deve ser tomada para proporcionar prazer e aguçar os sentidos. Beber vinho é uma verdadeira viagem pela história. Além disso, é muito raro ver alguém ébrio com vinho, o que não acontece com outras bebidas.

Os benefícios que ele traz à saúde são conseqüência das substâncias presentes na bebida - muito mais do que no álcool - como, por exemplo, o antioxidante chamado quercitina que combate os radicais livres; os taninos, que melhoram o bom colesterol; o reveratrol, que é um vaso dilatador muito poderoso e previne acidentes vasculares cerebrais e também o infarto do miocárdio. Também existem as contra-indicações, mas, certamente, o vinho quando tomado em proporções ideais só faz bem.

É claro que vinho não é remédio e que um médico não pode recomendá-lo a seu paciente, contudo, pode sugerir que o paciente troque a cerveja ou o uísque pelo vinho. Eu recomendo, aos homens, duas taças de vinho no almoço e duas no jantar; e, para as mulheres, uma taça de vinho no almoço e uma no jantar. Menos do que isso, tudo bem; mais do que isso é exagero".

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