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Tendência: Guia Descorchados 2021 mostra o caminho do vinho no ano do “novo normal”

Patrício Tapia, grande degustador e autor do livro, revela um rico panorama dos vinhos da América do Sul

por Robert Haulfoun

Já está disponível a nova edição do Decorchados

Nunca é demais dizer. Este e o anterior foram anos difíceis, definidos por muitas palavras, entre elas “adaptação”, o poder de se adaptar às novas circunstâncias, o saber se mover em águas turbulentas e, acima de tudo, imprevisíveis. Um par de anos em que nós de Descorchados tratamos – e com sucesso, por sorte – de produzir uma edição que nos será difícil de esquecer.

E vai ser difícil de esquecer pelas viagens em países em meio à pandemia, sendo viajantes quando mais ninguém era, cruzando alfândegas fronteiriças vazias e aeroportos em silêncio. Por nosso novo amigo “Zoom”, pelas dezenas de caixas com amostras que chegaram aos nossos escritórios em Santiago e pelo fato, inevitável e lamentável, de que não pudemos – na maioria dos casos – visitar vinhedos, conversar cara a cara, provar de tanques e de barricas.

Mas ainda com essas dificuldades, batemos recordes. Em Descorchados 2021, provamos mais vinhos que em qualquer edição anterior: 5.245 amostras dos mais importantes países produtores da região; Argentina, Brasil, Chile e Uruguai. Dentre elas, selecionamos 4.186 para resenhar, um número alto para nossas médias históricas e que fala do bom momento por que passa a vitivinicultura sul-americana. Vejamos.

A Argentina desenvolve novas regiões no norte e, sobretudo, mais em direção ao sul

Argentina

  • Argentina continua seu desenvolvimento, e principalmente em duas direções. A primeira, e talvez mais vistosa, é esse afã de se aprofundar que tantos bons vinhos deu na última década, especialmente de Malbec e, acima de tudo, do Vale de Uco, que é o território onde os viticultores mendocinos se aprofundaram.
  • Tal afã significa, em termos práticos, não só alguns dos melhores vinhos que a Argentina já fez em sua história recente, senão, acima de tudo, Malbecs que vão muito além da variedade para expressar sua origem. Em Descorchados é essa direção a que mais nos interessa, a que mais admiramos.
  • Há também outra direção, relacionada com o autodescobrimento da Argentina, historicamente relacionada com três polos: o norte, Mendoza (mais de 70% do vinho se produz ali) e Río Negro-Neuquén, no começo da Patagônia.
  • Hoje há novidades. Novas regiões no norte e, sobretudo, aventuras mais em direção ao sul, na província de Chubut, onde as geadas e as temperaturas mais frescas estão oferecendo sabores completamente diferentes dos que, até então, este país andino nos acostumou.
  • Agora há uma pequena comunidade de produtores ao redor de Trevelin e, muito mais ao sul, no mais meridional dos vinhedos comerciais da América do Sul, o projeto Otronia junto ao lago Muster.

Vinhedo na região de Pinto Bandeira no Rio Grande do Sul

Brasil

  • No Brasil, tampouco pudemos visitar vinhedos, mas por outro lado, tivemos uns dez dias de intensas degustações em São Paulo nas quais comprovamos, uma vez mais, o altíssimo nível dos espumantes brasileiros, a confirmação do estilo “cru”, sem filtrar, como um nicho que chegou para ficar (e onde estão alguns dos melhores espumantes do Brasil), além das categorias brut e Moscatel como fontes muito confiáveis de vinhos bons, baratos e simples, mas muito bem feitos.
  • Onde o assunto fica difícil no Brasil é nos vinhos tranquilos. As decepções aí foram muitas, e tudo devido a vinhos com excesso de madeira, com excesso de madurez ou falta dela, e problemas com a qualidade da matéria-prima. Não é uma novidade.
  • Desde que começamos a provar os vinhos do Brasil em Descorchados, assistimos ao desenvolvimento firme dos espumantes, mas com os tranquilos tem sido uma história de altos e baixos.
  • De acordo com nossa opinião, falta ainda moderar as ambições, tratar de fazer vinhos puros e frutados antes do grande tinto ou branco sul-americano.

Chile é famoso pelos seus inúmeros micro-climas

Chile

  • O Chile segue expandindo suas fronteiras para o sul. Em outras edições de Descorchados, reportamos os avanços em áreas como Osorno (que segue produzindo, apesar das dificuldades climáticas) e Malleco, mas é esta a última região a que mais e melhores notícias nos deu.
  • Ali se formou uma comunidade sólida de produtores, de todos os tamanhos, que estão obtendo vinhos deliciosos, frescos, intensos, acima de tudo com variedades como Pinot Noir, Chardonnay e, em menor escala, Sauvignon Blanc.
  • Diante do fantasma da seca que emerge em muitas das regiões produtoras do Chile, o sul e suas chuvas parecem ser o futuro.
  • Mas o Chile é muito mais que as novas áreas do sul. A solidez e confiabilidade que se alcançou com as regiões costeiras e o Pinot Noir, por exemplo, é hoje motivo de deliciosos tintos feitos com a variedade borgonhesa e a preços muitas vezes ridículos para a qualidade e o caráter que oferecem.
  • Com certeza, também há Itata e seus País e Cinsault de vinhas velhas que seguem brilhando, a plêiade de novos produtores artesanais que emergem desse lugar, a vida que conseguiu em tão poucos anos desde que Itata voltou ao primeiro planto.
  • O Chile é um país divertido, diverso e, por isso, agradecemos.

No Uruguai, a Tannat ainda manda, porém outras castas começam a se destacar

Uruguai

  • O Uruguai, como é habitual, tem duas caras e ambas convivem sem problemas de dupla personalidade. A primeira é a tradicional, a que vem com os solos de argila e cal de Canelones ou de Montevidéu, os Tannats tradicionais uruguaios, generosos em tamanho, amplos e, às vezes, adoravelmente rústicos.
  • Ano a ano, no entanto, a outra cara, a voltada para o Atlântico, é a que começa a tomar mais e mais força, sobretudo agora que os vinhedos ganham maturidade e os produtores ganham experiência.
  • Da baía de Maldonado, como gostamos de chamar toda essa faixa de território voltado para o oceano, além do Rio da Prata, pode-se obter os melhores Albariños da América do Sul e, cada vez com mais força, alguns dos melhores Chardonnay.
  • Os solos de granito oferecem Tannats firmes e tensos, muito bons Cabernet Franc e também deliciosos Merlot. E o tema está recém começando.
  • O que vem agora é a seleção, é decifrar quais variedades são as que melhor se adaptam ao lugar.
  • Porém o seguro é que só virão boas notícias de uma região que hoje é uma das mais ativas da América do Sul.
  • Um ano difícil, que demandou muito para Descorchados, mas também um ano de vinhos excepcionais. Vocês precisam provar.

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