A diversidade da Moscatel produz espumantes, vinhos tranquilos e podem ser consumidas ao natural
por Sílvia Mascella Rosa
"Apianae" era o nome em latim da uva Moscato, em tempos longínquos, quando ela veio da Grécia para a Itália. São as uvas conhecidas há mais tempo pelo homem, e acredita-se que tenham sido as primeiras a deixar a Ásia nas mãos dos fenícios, em direção ao Ocidente, há mais de 5 mil anos. Da Grécia, elas se espalharam por todo o Mediterrâneo e multiplicaram-se. Seu nome significa "preferida das abelhas", por conta do grande teor de açúcar que essa Vitis vinifera acumula quando madura.
Algumas variedades são excelentes para consumo ao natural (ou como uva-passa), por terem cachos grandes e resistentes. Elas também são vinificadas, mas representam um desafio para os enólogos: "A dimensão e consistência dos cachos e bagas são atributos que dificultam a extração de suco para a vinificação. Felizmente, existem tecnologias específicas para esta uva na vinícola, pois seus aromas característicos e sabor adocicado ficam bem em muitos estilos de vinhos", explica o enólogo Christian Bernardi.
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O ampelógrafo Pierre Galet (ampelógrafo é o botânico especializado no estudo das videiras) cita em seu dicionário de cepas 150 variedades de Moscatel, que variam entre uvas brancas e tintas, viníferas e híbridas (combinações genéticas de uvas de mesa e de uvas finas). Mas todas elas têm uma coisa em comum: o aroma.
Nada é mais característico do que o perfume das uvas Moscatel: uma composição delicada de uva madura, almíscar, mel, pêssego, damasco e um suave floral. É inconfundível.
Outra característica importante é que são uvas que, quando vinificadas, podem produzir desde vinhos secos, aromáticos e frutados, passando por espumantes e chegando aos vinhos de sobremesa, muitos deles naturalmente doces. Nenhuma outra casta tem tanta versatilidade.
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No Brasil, a principal produção de vinhos com a uva Moscatel é a de espumantes. Com teor alcoólico um pouco mais baixo, doçura e perfume acentuados, é um vinho que conquista muitos paladares.
"Acredito que o espumante Moscatel no Brasil é uma forma de iniciação nos vinhos finos. É um produto delicado, leve e de qualidade muito boa, que agrada muitos paladares e combina com nosso clima", afirma Benildo Perini, da Vinícola Perini, de Farroupilha, cidade gaúcha que produz mais de 50% das uvas Moscatel do país.
Muitos países têm vinhos Moscatel e, em geral, eles têm variedades de uva especialmente adaptadas às suas terras. No sul da França, são encontrados os fortificados (mais alcoólicos e doces), como o Beaumes-de-Venise, feitos a partir da cepa Moscatel Branco de Grãos Pequenos; na Itália, a variedade Moscato Bianco é a base da composição do famoso espumante Asti, da região do Piemonte, e a Moscatel de Alexandria compõe o vinho de sobremesa doce e dourado da Sicília, o Moscato de Pantelleria.
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A mesma variedade (de Alexandria) também é muito popular na Espanha e em Portugal, sendo que, em terras lusitanas, resulta no famoso vinho doce Moscatel de Setúbal. Já no Novo Mundo, especialmente nos Estados Unidos, a variedade mais utilizada é a Moscato Canelli, enquanto os sul-africanos utilizam uma variedade tinta chamada de Muskadel em seus vinhos doces e rosados.
Sejam brancos, espumantes ou vinhos de sobremesa com coloração dourada e bastante estrutura, os vinhos da uva Moscatel são distintos e perfumados e vêm deliciando paladares há milênios.
Abaixo os melhores vinhos Moscatel recém-degustados por ADEGA ⬇