A taça correta valoriza a qualidade do vinho que você vai beber
por Sílvia Mascella Rosa
Nunca sirva o vinho acima da parte mais larga do bojo, assim você permite que o líquido possa ser girado na taça sem derramar
Forma e função são importantes em muitas coisas na vida. Não se pratica corrida com sapatos de couro e nem se cozinha feijão numa frigideira, mesmo que seja possível fazer isso, se for muito necessário.
Da mesma forma, é possível tomar qualquer líquido de um recipiente que o contenha e cuja boca não seja larga demais a ponto de vertê-lo excessivamente.
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No entanto, boas (e adequadas) taças são essenciais nos momentos de degustar ou de simplesmente beber um vinho, valorizando o produto e amplificando a experiência sensorial.
Nas degustações formais, quando especialistas e enófilos olham, cheiram e provam os vinhos seguindo uma série de regras, as taças utilizadas são de dois padrões, a mais comum é uma taça baixa, que se presta a todos os tipos de vinho (e também para alguns destilados) chamada ISO, por seguir os parâmetros da Internacional Standards Organization. A outra taça, que vem sendo bastante utilizada em degustações formais, é uma mais alta e bojuda, conhecida por muitos como taça Bordeaux ou taça Rioja. O que elas têm em comum é o fato de serem feitas de cristal ou semi-cristal (conhecido também como cristal-vidro), serem completamente lisas e apresentarem um bojo bem mais largo que a boca.
O objetivo visual de utilizar essas taças é permitir que o vinho mostre sua coloração sem a intereferência de uma cor aplicada no copo e que a espessura mais fina da taça permita que se veja o brilho do líquido.
O bojo mais largo das taças permite ainda que o líquido entre em contato com o ar, fazendo com que os aromas apareçam com maior potência. Nas taças de cristal, onde a concentração de chumbo é maior, as paredes mais porosas e finas permitem que as moléculas do vinho se quebrem com maior facilidade, intensificando os aromas. Isso funciona para brancos, rosés e tintos.
Para os espumantes mesmo entre os especialistas a controvérsia reina! Desde os tempos em que se dizia que a taça de bojo largo e boca aberta tinha sido moldada nas formas de Maria Antonieta (as lendas sempre combinam bem com o prazer de beber espumantes) existem vários estilos de taças, desde as muito estreitas e longas (convenientemente chamadas de flauta - ou flûte), passando pelas mais largas e mesmo assim de boca estreita, chegando até a taça específica desenvolvida no Brasil para valorizar o produto nacional, e na escolha dos italianos produtores de Prosecco de utilizarem taças de bojo mais largo e boca mais aberta, quase como taças de vinho tinto.
Tanta variedade tem lá sua explicação. Uma das almas de um espumante é o seu borbulhar constante, que se intensifica num copo mais estreito e, preferencialmente, de cristal e se perde mais rapidamente quando a boca é muito larga. Para evitar o contato da mão com o bojo e assim a perda rápida de temperatura (outro fator muito importante na degustação de um espumante), as taças de pés mais altos foram ficando mais importantes conforme os espumantes foram ficando mais refinados.
No entanto, para os vinhos cuja carga aromática é tão importante como suas borbulhas, as taças de bojo e boca maiores são mais indicadas, pois elas também favorecem um contato maior do líquido com a superfície da língua, enquanto as taças mais estreitas tendem a ‘jogar’ o vinho diretamente para o fundo da boca. Assim, é com os Proseccos, com os Moscatéis e também com alguns espumantes nacionais.
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