Conheça algumas dicas para identificar sinais que podem denunciar um vinho falso
por Arnaldo Grizzo
O tema dos vinhos contrabandeados e falsificados entrou em voga no Brasil. Listas em Whatsapp e “lojas” em plataformas online como Mercado Livre e Instagram passaram a oferecer vinhos – especialmente argentinos – com preços muito abaixo dos praticados comumente no mercado por revendedores oficiais. Essa discrepância de valores obviamente só se justifica por meio do descaminho – isso quando não vem de outro delito também grave como o roubo de cargas.
Muitas vezes, quem compra por esses canais com preços atrativos sequer desconfia que esteja adquirindo um produto contrabandeado. Mas o tema trouxe à tona também outra questão além do crime de descaminho: seriam estes vinhos também falsificados? Diferenças em rótulos, capsulas, rolhas e também no sabor da bebida têm sido detectadas.
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Saber se um vinho é fruto de contrabando nem sempre é fácil. Ele costuma ter exatamente o mesmo rótulo, o mesmo gosto, ou seja, ser exatamente igual ao vindo por meios legais. A diferença muitas vezes pode estar apenas nos dados do contrarrótulo – que não virá com o nome do importador brasileiro. Mas o maior indício, com certeza, será o preço muito mais baixo do que o convencional. É importante desconfiar de promoções mirabolantes.
Mas se verificar a procedência é uma tarefa por vezes complicada, pois os vinhos podem ser realmente iguais, conferir se há falsificação é uma tarefa também difícil, mas com mais pistas a serem seguidas.
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Sendo assim, vamos elencar aqui 10 sinais que você deve observar em um vinho caso suspeite que ele seja falsificado.
Diferença em tonalidades nos rótulos é um sinal de alerta importante para vinhos falsificados. Às vezes, isso não é simples de verificar se você não possui duas garrafas para comparar. Mas se notar cores desbotadas em vinhos novos, por exemplo, é bom ficar atento. Já em vinhos antigos, é interessante verificar se o estado do rótulo condiz com a idade. Segundo especialistas em fraude, rótulos tidos como “ultrabrancos” raramente serão vistos em safras de antes de 1950, pois é uma fórmula de papel que foi criada nessa época.
Um sinal comum de falsificação grotesca é quando encontramos vinhos com problemas de impressão do rótulo, como se as cores não estivessem sobrepostas corretamente. Se você observar que a separação de cores está estranha, suspeite. Esse tipo de “erro” costuma ser mais facilmente percebido na impressão das letras pequenas, que às vezes ficam parecendo borradas.
Às vezes, falsificadores podem errar alguns dados, especialmente no contrarrótulo. Sendo assim, é preciso ficar atento se não há erros de escrita. Para vinhos antigos, é preciso verificar se os dados apontados no rótulo teoricamente casam com os dados históricos. Você certamente não vai ver uma anotação sobre uma AOC em vinhos de antes de 1936, quando as denominações de origem protegidas foram formalmente criadas na França, por exemplo.
Rótulos de vinhos antigos certamente apresentarão algumas marcas de desgaste com a idade, por melhor que eles tenham sido armazenados. Portanto, também desconfie de rótulos novíssimos em vinhos de safras antigas. Sabendo disso, alguns falsificadores tentam simular esse “envelhecimento” do rótulo, sujando-o propositalmente, alguns até colocam o papel no forno para dar o tom amarelado da idade. Contudo, um exame mais cuidadoso pode revelar a trapaça.
Um detalhe bastante comum em rótulos falsificados é a presença de uma cápsula de cor que não corresponde à original do vinho. Às vezes, essa diferença é gritante, às vezes pode ser uma sutil tonalidade. Em vinhos antigos, é bom ficar atento ao tipo de cápsula, pois, com o tempo, elas passaram de chumbo para estanho e, por fim, para alumínio. Se você notar impressões digitais em cápsulas de cera, cuidado, assim como se verificar uma marca de reciclagem em cápsulas de vinhos antigos.
A rolha pode ser um dos principais indicadores de falsificação. Primeiramente, verifique se ela tem as marcas correspondentes da vinícola. Depois, se segue o padrão de rolhas que esse produtor utiliza em seus vinhos (tamanho e tipo). Atente-se ainda se o estado corresponde à idade (rolhas muito novas em vinhos antigos? Só se houver passado por “recork”). Por fim, veja se não há ranhuras do tipo que abridores de pinça produzem nas laterais da rolha. Isso certamente significa que alguém já retirou a rolha antes e voltou a colocá-la no lugar.
Em vinhos de maior circulação, falsificações geralmente envolvem o uso de garrafas diferentes das originais, ou seja, com formatos ou ainda colorações de vidro diversos. O “peso” da garrafa também pode indicar falsificações. Para garrafas bastante antigas, é preciso verificar marcações e características que evoluíram na produção de vidro ao longo dos séculos como formatos, volumes, estilo do fundo da garrafa etc.
Você notou manchas de cola nas bordas do rótulo? Desconfie. Há resíduos de cola em rasgos? Ou então debaixo das cápsulas? Em vinhos antigos, vale a pena fazer testes com luz azul, pois a cola branca – que floresce sob ela – só passou a ser usada a partir da década de 1960.
O vinho já tem bastante idade, mas você não nota nenhum sedimento no fundo ou nas laterais? Suspeite. Mas há quem tente falsificar também o sedimento. Sendo assim, é bom ficar de olho no tamanho (é muito grosso?) e se eles brilham contra a luz.
Quem aprecia e coleciona vinhos antigos precisa sempre estar atento a garrafas muito especiais, que alguns chamam de unicórnios. Geralmente são garrafas de grandes formatos e de safras icônicas. Um dos mais famosos falsificadores do mundo, Rudy Kurniawan, por exemplo, foi “pego” ao tentar vender um Clos Saint-Denis 1945 do Domaine Ponsot, sendo que os Ponsot só começaram a produzir nesse cru a partir de 1982.