Esta azeitona é uma variedade exclusivamente portuguesa, muito caracterizada por seu tamanho reduzido e sua forma bicuda
por Por João Calderón
Falada na Comunidade Autônoma da Galícia, região espanhola ao norte de Portugal, a língua galega pode ser também ouvida nas zonas fronteiriças da Galícia com as comunidades de Astúrias e León, assim como na Argentina, Cuba e Uruguai, países com grande fluxo migratório dos “celtas espanhóis”. Assim, o galego não deixa de ser uma forma evoluída do já extinto galego-português.
O galego-português foi formado a partir do século IX, na antiga província romana da Gallaecia. Ele era, na realidade, uma assimilação do latim vulgar, cotidiano, falado pelos conquistadores romanos com alguma influência de origens pré-celta. Comum à Galícia e Portugal, essa língua obsoleta teve 700 anos de história e está associada, em geral, às pessoas mais cultas. Com as derrotas sofridas pelos nobres galegos em finais do século XIV e princípios do século XV, o galego-português passou a ser dominado pelo castelhano, acarretando no desaparecimento público, oficial, literário e religioso da língua até finais do século XIX. Por outro lado, o idioma português, durante esse mesmo período, foi protegido e desenvolveu-se livremente, uma vez que Portugal foi o único território da Península Ibérica que ficou fora do grande domínio linguístico castelhano.
Mas se essa língua está extinta há tantos anos, a oliva que lembra seu nome, não. O cultivar português mais importante não é homônimo à língua, chama-se somente Galega.
Galega é o cultivar mais difundido no território português, apresentando aptidão dupla – tanto para conserva quanto para elaboração do óleo de oliva
A azeitona Galega é uma variedade exclusivamente portuguesa, muito caracterizada por seu tamanho reduzido e sua forma bicuda. É o cultivar mais difundido no território português, apresentando aptidão dupla – tanto para conserva quanto para elaboração do óleo de oliva. É uma azeitona perfeitamente adequada aos mercados atuais mais exigentes, em que os produtos naturais são cada vez mais procurados. Isso ocorre pois seu processo de cura é totalmente natural: após serem colhidas, as olivas são colocadas em água abundante e, paulatinamente, o sal vai sendo adicionado até atingir o teor necessário para a sua conservação. Devido à sua acidez natural, a adição de reguladores de acidez ou de conservantes não é necessária. Suas características fazem com que sua salmoura atinja um pH ideal para a conservação (aproximadamente 4).
O cultivar Galega representa cerca de quatro quintos de todas as oliveiras portuguesas. Dessa forma, é ele que proporciona ao óleo de oliva português seu caráter. Sua grande virtude é a elevada capacidade de adaptação, possibilitando o plantio nas mais variadas condições de clima e solo. As oliveiras costumam ser baixas e compactas e, muitas vezes, podem não ser muito produtivas. São cultivares de proporções pequenas e de rápido amadurecimento, mas sua porcentagem de óleo costuma ser baixa, entre 14 e 18%, devido à baixa estabilidade – o que antes os tornava muito ácidos.
Atualmente, os produtores se modernizaram, confeccionando óleos de oliva extravirgem de excelente qualidade, oriundos principalmente das regiões do Alentejo e Trás-os-Montes. O óleo de oliva do cultivar Galega, um patrimônio português e motivo de grande orgulho, costuma ter notas frutadas e suaves no aroma e também um suave gosto de frutas verdes e grama, com possíveis notas de amêndoas.
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