Os Moscatéis mediterrâneos, da Espanha à Grécia

Descubra a riqueza dos vinhos mediterrâneos elaborados com a uva moscatel e marcados pela cor dourada e perfume intenso

por Euclides Penedo Borges

Martin Rieth/Stock.Xchng
Lago a poucos quilômetros de Málaga, Espanha

Sobremesas doces à base de nozes e avelãs, pudins e tortas com frutas cristalizadas. Qual é o vinho que você escolheria para acompanhá-las? Certamente um mocatel, doce e aromático, estaria entre suas opções. A Moscatel é uma uva branca de aroma floral, penetrante, quase um perfume que curiosamente permanece no vinho após a fermentação, o que é uma raridade. A maior parte dos países vinícolas tem pelo menos uma variedade de uva Moscatel originando vinhos de sobremesa populares, em locais de verões quentes e secos, com solos calcários, como ocorre na costa mediterrânea, do sul da Espanha às ilhas gregas. Nessa área ocorrem três clones da Moscatel: o de menor tamanho, conhecido como Moscatel Pequeno (ou Muscat à Petits Grains); o intermediário padrão Moscatel de Alexandria; e o Moscatel Grande (ou Moscato Grosso) conhecido como Zibibbo na Sicília.

NA ESPANHA, ENTRE MÁLAGA E VALÊNCIA - A cidade de Málaga, na costa andaluza, tem forte apelo turístico. Até os anos 80, a estrela da costa espanhola era o Moscatel de Málaga. É obtido com mosto sem prensar, de cor âmbar, medianamente doce, graduação entre 14 e 20%. A partir da década de noventa, o Moscatel de Málaga perdeu posição no mercado e alguns produtores fecharam as portas. Ainda é uma delícia de vinho doce para as "malagueñas" e para os turistas que abarrotam a cidade no verão.

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David Walsh/Stock.Xchng
Canal em Narbonne, sul da França

Mais ao norte, a meio caminho entre Málaga e Barcelona, a cidade portuária de Valência tem seu nome ligado a uma região vinícola do interior. Moscatéis doces de cor ouro velho, com teores entre 14 e 18%, são elaborados na região por várias cooperativas. Porém o Moscatel de Valência não é um vinho na acepção da palavra, mas uma "mistela", obtida por adição de aguardente vínica ao mosto fresco de uvas Moscatel de Alexandria.

NA FRANÇA, VINHOS DOCES NATURAIS - A costa mediterrânea francesa apresenta os vins doux naturels, assim chamados para diferenciálos dos botritizados tipo Sauternes e dos fortificados tipo Porto. Ocorrem no Roussillon, perto da fronteira com a Espanha, e no Languedoc, entre as cidades de Perpignan e Narbonne.

No Roussillon encontra-se Rivesaltes, com a maior extensão de cultivo de moscatel de Alexandria entre as áreas aqui citadas. São quase 5000 hectares de terrenos acidentados, com solos xistosos, secos e magros. Os Muscat de Rivesaltes apresentam aromas florais, frutados, lembrando moscatel, cítricos e mel. São vinhos delicados, para serem consumidos no seu primeiro ano e que enfrentam galhardamente um Roquefort.

No Languedoc, a variedade predominante é o muscat à petit grains, entre os quais os vinhos de Frontignan, Mireval, Lunel e Saint-Jean-de-Minervois, os quatro para consumo dentro de dois anos após a safra. Acompanham uma gama de sobremesas como o melão bem maduro, bolos de chocolate e tortas de frutas cítricas.

Konstantinos Dafalias/Stock.Xchng
Porto de Patras, Grécia

O Muscat de Frontignan, ocupando 800 hectares de terrenos com pedregulhos calcários sobre base argilosa, é um vinho licoroso rico, dourado, com aromas de tília e mel aliados ao caráter "muscat".

O Muscat de Mireval, de uma área com menos de 400 hectares, tem os mesmos pedregulhos calcários de Frontignan, seu vizinho. Trata-se de vinho licoroso, dourado, com nuances de mel e frutas natalinas como damasco e figo secos, e moscatel.

O Muscat de Lunel tem a mesma área de Mireval, com as argilas vermelhas e os pedregulhos comuns a várias comunas vizinhas. Moscatel de grande finesse, equilibrado, perfumado, com aromas de passas e flores, elaborado nas cooperativas de Lunel.

O Muscat de Saint Jean de Minervois está situado mais para o interior, próximo a Carcassone, e não ocupa mais do que 150 hectares de terrenos calcários com xistos. Vinho licoroso, fino e vivo, aromas florais, mélicos e cítricos, elaborado na Cave Cooperative local.

NO SUL DA ITÁLIA - "A Itália permanece no centro da praça da civilização como uma fonte barroca jorrando continuamente vinhos de todas as cores e tipos". A expressiva frase de Hugh Johnson nos diz bem sobre a multiplicidade dos vinhos italianos. O país é pródigo em vinhos doces. Somente em torno da Sicília encontramos quatro moscati dignos de menção: Siracusa, Noto, Villa Fontane e Pantelleria.

A ilhota mediterrânea de Pantelleria, onde a Moscatel é chamada de Zibibbo, orgulha-se de dois moscatéis lendários de uvas secas ao ar livre. O Moscato di Pantelleria, um dos melhores brancos doces italianos, equilibrado, persistente, com graduação entre 15 e 16%. E o Passito di Pantelleria, amadurecido por seis meses em carvalho e por mais oito ou dez em garrafa, concentrado em aromas, com álcool mínimo de 14%. Haja Gorgonzola...

MOSCATÉIS GREGOS NO CONTINENTE E NAS ILHAS - após ingressar na Comunidade Européia nos anos 80, a Grécia esmerou-se em adotar métodos franceses de vinificação, depois de séculos de isolamento no mundo dos vinhos. Ainda que a Grécia continental tenha exemplares de moscatéis - como é o caso do Moscatel de Patras, feito no estilo do Beaumes de Venise francês - os famosos moscatéis gregos doces fortificados, de caráter tradicional, são provenientes das ilhas gregas.

O mais afamado é o Moscatel de Samos, com sua gama de estilos desde o suave até o extremamente açucarado, elaborados com uvas passificadas. A versão intermediária do Moscatel de Samos tem o mesmo caráter do vin doux naturel francês.

Mais ao norte, na ilha de Lemnos, são elaborados moscatéis doces diversos, inclusive um especial, o Moscatek de Lemnos resinoso, vinificado ao estilo do Retsina, ou seja, com adição de resina do pinheiro ao mosto em fermentação. O travo amargo da resina no vinho, entretanto, é somente para o paladar de iniciados. Estou fora!

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