Degustação

Provamos o Clos Lanson de Philippe Baijot; confira a avaliação

Conteúdo exclusivo da Adega traz análise sobre a cuvée criada no único vinhedo murado dentro da capital de Champagne

por Por: Arnaldo Grizzo e Eduardo Milan

Um único hectare “perdido” no meio de Reims. Em 2006, Philippe Baijot, presidente da casa de Champagne Lanson, fundada em 1760, entendeu que tinha um pequeno tesouro em mãos, o único vinhedo remanescente dentro da cidade de Reims, seu Clos Lanson.

Até então, as uvas dessa parcela de um hectare eram usadas para as cuvées prestige da casa. Naquele ano, Baijot, juntamente com o chef-de-cave Hervé Dantan, decidiu vini­ficar separadamente. Mais que isso, eles resolveram fazer algo totalmente singular dentro da ­ filosofia da casa.

Clos Lanson (o nome clos deve-se ao vinhedo murado, o único em Reims) é um Chardonnay 100% de plantas com idades que variam de 15 a 50 anos deste vinhedo que existe desde 1870. O fato de ser um blanc de blancs já é bastante original para a Lanson, conhecida muito mais por seus blends com forte acento na Pinot Noir.

Além disso, desde 2011, a casa vem iniciando trabalhos com vinhedos biodinâmicos – algo extremamente raro nesta região onde apenas 1,4% das plantações são biodinâmicas. Com isso, Clos Lanson, aos poucos vai recebendo tratamentos nessa linha. “Usamos experiências que funcionaram em outros vinhedos. Estamos indo passo a passo. Reduzimos a compactação do solo, não tiramos a grama, introduzimos técnicas para manter a umidade do solo...”, conta Edouard de Boissieu, export manager da marca, que foi a primeira (dentre os grandes produtores) a ter uma cuvée orgânica. 

Singularidades

Outros detalhes ainda fazem com que esta cuvée seja verdadeiramente única. Uma delas é o fato de ser vini­ficada integralmente em pequenas barricas de carvalho da  oresta de Argonne, que ­ fica a cerca de 30 quilômetros de Reims. Além disso, o solo e o microclima são particularidades que influenciam diretamente.

O típico solo calcário de Champagne, neste pequeno pedaço, é muito fragmentário e, por isso, as raízes tendem a se aprofundar muito mais do que em outros locais da vizinhança. Depois, graças ao clima da cidade, com temperatura média cerca de 2 a 3 graus mais alta do que no campo, a acidez das uvas é ligeiramente mais baixa, o que permite uma dosagem menor na cuvée, com apenas 3 gramas de açúcar, fazendo com que ela seja uma brut nature.

Segundo Boissieu, a colheita de Clos Lanson é sempre em um sábado com a presença dos empregados da casa e com a ajuda de alguns convidados famosos. Nesses anos, já participaram Adriana Karembeu, Tomer Sisley, Julie Gayet.

Vale lembrar ainda que, seguindo a ­filoso­fia da casa, não há fermentação malolática. Por ­fim, o envelhecimento sobre as borras é de mais de 10 anos, sendo que, após o dégorgement, o vinho permanece ainda cerca de um ano nas caves antes de ir para o mercado. Da primeira e única safra lançada até agora, 2006, foram feitas somente 7.870 garrafas numeradas. ADEGA foi a única publicação a provar uma única garrafa trazida especialmente por Boissieu em sua mais recente visita ao Brasil.

AD 95 pontos

CLOS LANSON 2006

Lanson, Champagne, França (Cantu - Não disponível). Espumante branco brut nature elaborado exclusivamente a partir de uvas Chardonnay cultivadas em um vinhedo de 1 hectare, com fermentação do vinho base em barricas de carvalho da floresta de Argonne, sem malolática, e posterior estágio mínimo de 10 anos com as leveduras antes do dégorgement. Não se deixe enganar por seu estilo mais vertical e sutil, atrás desse refinamento há força, fibra e tensão. Impressiona pelo caráter da fruta tropical e de caroço (madura e em compota) em harmonia com a mineralidade (toques salinos), tudo num contexto de profundidade e refrescante acidez. A madeira em que fermenta o vinho base tem o papel de trazer complexidade de aromas, além de aportar textura, cremosidade e um pouco de redondeza este blanc de blanc. Está ótimo agora, mas deve ficar ainda melhor nos próximos 10 anos. Álcool 12%. EM

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