Mundovino

Sem Pio Boffa, vítima da Covid-19, o Barolo nunca mais será o mesmo

"Nós não somos tradicionalistas, não somos inovadores, somos fiéis ao estilo Pio Cesare de fazer vinho"

por André De Fraia

Pio Boffa era considerado um modernista

Pio Boffa resumia assim o estilo da icônica vinícola italiana Pio Cesare.

Boffa, era a quarta geração da família a comandar a produção de Barolo e Barbaresco na vinícola. Por quatro décadas ele revolucionou e ao mesmo tempo manteve a tradição da região em produzir vinhos diferenciados, porém sem deixar de lado os costumes regionais do Norte da Itália.

Com ele, a Pio Cesare cresceu e expandiu seus negócios. "Ele estava acostumado a viajar 200 dias por ano - essa era a vida.", disse a filha de Boffa, Federica Boffa, em entrevista à Wine Spectator.

Durante esse período, Pio fez amigos e admiradores que iam além do vinho. Era um sujeito simpático, agregador e humilde, dentro do conhecimento e da importância que tinha (e terá sempre) para o mundo do vinho.

O editor de vinho de Adega, Eduardo Millan, participou de alguns almoços com ele: “Boffa era um sujeito engraçado, mas, ao mesmo tempo, muito genioso”, conta.

Federica Boffa assumirá a vinícola com a ajuda de seu primo, Cesare Benvenuto, disse ainda que o pai temia demais a Covid-19, doença que o levou aos 66 anos, “Ele estava convencido de que teria Covid e que não sobreviveria”, disse ela. “Então ele me ensinou muito neste ano. Ele me ensinou como administrar uma vinícola, como administrar um negócio e como manter um legado familiar. ”

"Vou continuar seu legado agora com ainda mais força, energia e compromisso", acrescentou.

Pio Boffa nasceu em 1954, irmão mais novo de três filhos. Foi o único que teve interesse em continuar o legado da família. Estagiou na Califórnia nas adegas de Robert Mondavi ainda nos anos de 1960 e retornou à Itália com uma visão mais moderna da vinificação.

Pio Boffa e sua filha Federica que passará a adiministrar a vinícola Pio Cesare

Ele deixa para sua única filha Federica 70 hectares de vinhedos em denominações de Barolo e Barbaresco, além de um legado de trabalho e aperfeiçoamento de um dos vinhos mais tradicionais da Itália.

Na época da divisão classicista e modernista, entre os produtores da sua região, ele era considerado um modernista. Afinal, foi o primeiro a fazer Barolos single vineyard. Mais tarde, por outro lado, foi um defensor da mistura de vinhedos. Por isso se definia como “um moderno clássico e clássico moderno. ”

Pio Boffa era um inquieto. Além do vinho, deixa produções variadas como o vermute e Barolo Chinato, uma bebida única feita a partir de infusão de especiarias como cardamomo, manjerona e canela na barrica de Barolo.

No mundo da música, costuma-se especular romanticamente que nomes como Miles Davis e Jimi Hendrix estariam fazendo agora.

Não duvide se acontecer o mesmo com Pio Boffa no mundo do vinho.

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