Prova de bebidas mostra que região italiana tem diversidade a oferecer
por Eduardo Milan
A história do Castel del Monte, um castelo octogonal que fica às margens da propriedade da vinícola Torrevento, é repleta de lendas. Sabe-se que foi construído pelo famoso Frederico II, rei da Itália no século XIII. “Não se sabe exatamente porque foi construído. Não era um castelo de defesa. Ele parece uma coroa sobre o monte, talvez simbolizasse o seu poder na época. Mas ele também vivia sempre cercado de estudiosos e o número oito simboliza o infinito, é o número perfeito”, aponta Alessandra Tedone, uma das sócias e Export Project Manager da Torrevento.
Mas se a história do castelo é repleta de mistérios, a da Torrevento nem tanto. Alessandra lembra que Francesco Liantonio (avô do atual presidente da empresa) resolveu ir para Nova York em 1913, quando tinha apenas 16 anos. “Ele foi em busca de trabalho, em busca de fortuna”, conta. Curiosamente, ele fez dinheiro vendendo gelo nas estradas. Dez anos depois, já era sócio de uma fábrica de gelo.
Com o dinheiro que conquistou, decidiu voltar para a Puglia, em Palo del Colle, para produzir azeite e vinho. Em 1948, a família Liantonio comprou um antigo mosteiro beneditino, com 57 hectares de vinhas circundantes, aos pés do Castel del Monte. “Festejamos 70 anos”, lembra Alessandra.
Segundo ela, durante cerca de 30 anos, a empresa vendeu vinho à granel até que, em 1989, já sob a direção do neto de Francesco, foram lançadas as primeiras linhas de vinhos da Torrevento, “baseadas em Nero di Troia”.
“Nosso projeto mais importante é com Nero di Troia, que representa o vinhedo ‘rei’, autóctone. A lenda diz que as uvas vieram da antiga Grécia quando os soldados que vieram da guerra de Troia plantaram na Puglia”, afirma Alessandra. “Essa uva tem características únicas no mundo, que não podem ser replicadas, é um vinhedo difícil, uma uva que tem muito tanino, por isso ninguém vinificava em pureza. Fomos os primeiros a vinificar Nero di Troia 100% com o Vigna Pedale em sua primeira safra, em 1993”, acrescentou.
“Quando se fala de Puglia no mundo, primeiro se pensa em Primitivo. Na verdade, a Puglia não é uma região, mas três, pois é longa, de norte até o sul, são 500 quilômetros e tem três zonas diversas. No norte, Nero di Troia. No centro, Manduria, com a Primitivo. E o sul, Salento, com a Negroamaro”, resume. Ela lembra ainda que a Puglia tem apenas quatro DOCG (denominações de origem garantida e controlada – a principal denominação italiana), “sendo que três delas são Castel del Monte e uma delas o único rosado DOCG da Itália, com Bombino Nero”, cujo nome da uva, segundo Alessandra, talvez tenha origem numa derivação de “bambino” (criança).
Torrevento, Puglia, Itália (La Pastina R$ 250). Tinto elaborado exclusivamente a partir uvas Nero di Troia advindas do vinhedo Pianna di San Giuseppe, com estágio de oito meses em cimento e mais 12 meses em botti de carvalho. Mostra aromas de frutas vermelhas e negras mais maduras escoltados por notas florais, terrosas, especiadas e de couro, tudo bem sustentado e equilibrado por refrescante acidez e taninos de grãos finos. Potente e carnudo, tem final longo e persistente, com toques defumados e de grafite. Álcool 13,5%. EM
Torrevento, Puglia, Itália (La Pastina R$ 78). Tinto elaborado a partir de 80% Nero di Troia e 20% Aglianico, sem passagem por madeira, mas com estágio de oito meses em tanques de aço inox. Sempre consistente, chama atenção pelo perfil de fruta vermelha e negra mais fresca, seguida de notas florais, herbáceas e minerais, que se confirmam na boca. Redondo e suculento, tem acidez vibrante, ótima textura de taninos e final com toques terrosos e florais. Álcool 12,5%. EM
Torrevento, Puglia, Itália (La Pastina R$ 78). Branco composto de Bombino Bianco e Pampanuto, sem passagem por madeira, mas com estágio de três meses em contato com as leveduras. Fresco e gostoso de beber, apresenta frutas cítricas e brancas acompanhadas de notas florais, de ervas e de mel. Frutado e de médio corpo, tem vibrante acidez, gostosa textura e final persistente, com toques salinos e de limão siciliano. Álcool 12%. EM
Torrevento, Puglia, Itália (La Pastina R$ 138). Tinto elaborado exclusivamente a partir de Nero di Troia, com estágio de 12 meses em barris de carvalho – botti. Macio, cheio e profundo ao mesmo tempo, mostra frutas vermelhas e negras, bem como notas florais, minerais, especiadas e de couro. Muito bem feito em seu estilo mais maduro, chamando atenção pela ótima textura de taninos, gostosa acidez e final persistente, com toques especiados e terrosos. Austero, equilibrado e com certa elegância, mesmo em meio a tanta exuberância de fruta, tão característica da Puglia. Álcool 13%. EM