por Redação
Observe a foto acima. O que você está vendo é um cacho da uva Merlot em uma videira no território que fez a sua fama atravessar o mundo: Bordeaux, na França. Essa uva de cacho de tamanho médio, pele fina e boa produtividade é a estrela às margens direitas do rio Garonne, em Saint Emillion e Pomerol, onde dá origem a dos mais famosos vinhos do mundo: o Pétrus.
Embora a região de Bordeaux seja famosa pela uva Cabernet Sauvignon, a Merlot é a mais produzida por lá e entra em quase todos os famosos blends, mas somente o Pétrus leva mais de 95% da dela em sua composição.
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Mais doce em aromas, mais suave na boca e menos ácida, se comparada com a Cabernet Sauvignon, ao ímpeto desta a Merlot acrescenta "tranquilidade e temperança", nas palavras do jornalista e crítico de vinhos Patricio Tapia, autor do guia Descorchados.
Uma casta capaz de produzir vinhos macios, delicados, ainda que tenham bom corpo ou potência na boca, sem, no entanto, agredir com acidez marcada e taninos ardidos.
Os aromas que são mais facilmente associados aos bons vinhos de Merlot são as ameixas negras, o cassis, as cerejas e, por vezes, o mentolado. E quando o vinho passa por um estágio em madeira, aparecem aromas de grãos de café, chocolate e um pouco de especiarias.
O aveludado na boca combinado com o frutado típico, os taninos leves e o álcool muitas vezes mais baixo são o que há de mais tradicional e apreciável nos bons Merlots, que merecem ser bebidos um pouco mais jovens que os vinhos de outras castas clássicas francesas, como a Cabernet Sauvignon ou a Syrah, garantido sua vivacidade e frescor.
É no solo de argila azulada do Pomerol, sub-região de Bordeaux, que nascem as videiras de Merlot do Petrus, com produção média de apenas 32 mil garrafas por ano, disputadas no mundo inteiro por enófilos e colecionadores
Os ampelógrafos (cientistas que estudam as videiras e as uvas) afirmam que uma variedade próxima da Merlot teria vindo do Oriente Médio há muitos séculos e tomado as terras da França, onde, através dos anos, se transformou no que é hoje. Mas seu primeiro registro oficial é recente para os parâmetros do mundo do vinho, de 1784, já na região de Bordeaux. Na Itália, ela só foi aparecer oficialmente em 1855, no Vêneto, onde até hoje é muito plantada.
A Merlot é uma uva de cultivo controverso na modernidade, pois os enólogos se dividem entre os que acreditam que ela deve ser colhida muito madura para concentrar mais açúcares e os que acham que ela deve ser colhida mais precocemente, para reter taninos e acidez. Seus grãos são pequenos e suculentos, com taninos tradicionalmente leves e bom teor de açúcar.
No Brasil, onde ela é conhecida como a mais bem sucedida uva tinta da Serra Gaúcha (muitos produtores acreditam que ela deveria ser a uva símbolo brasileira), sua precocidade é uma vantagem, pois ela consegue se desenvolver antes das fortes chuvas de verão, sendo colhida muitas vezes logo depois das uvas brancas. Isso lhe garante frescor e vivacidade, além de aromas mais frutados, atraentes nos tintos modernos.
Vinhedos brasileiros de Merlot que cercam o Hotel SPA do Vinho, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS)
A uva Merlot é muito utilizada em várias partes do mundo, como a Itália, a França, os Estados Unidos e até mesmo no leste europeu, para vinhos de corte. Ela é combinada com a Cabernet Sauvignon e com a Cabernet Franc (no corte tradicional de Bordeaux), com a Sangiovese em muitos vinhos do centro-norte da Itália e até mesmo em Portugal, para dar certa suavidade a algumas combinações de uvas típicas portuguesas. Nessas misturas, seu frutado, suavidade e baixos taninos são os pontos mais apreciados.
Seu nome (na verdade ela se chama Merlot Noir) é derivado do nome de um pássaro, bastante similar ao nosso pássaro preto, chamado na Europa de Melro. A uva teria ganhado esse nome não só por sua tonalidade escura, de um preto azulado como o do pássaro, mas também por atrair uma grande quantidade dessas aves quando a colheita se aproxima.