Até chegar ao formato atual, as garrafas de vinho sofreram grandes mudanças
Carolina Almeida Publicado em 24/08/2019, às 17h00 - Atualizado em 26/08/2019, às 10h37
A capacidade média de uma garrafa de vinho é de 750ml
Ao nos depararmos com uma garrafa de vinho, é muito comum vir à mente a história da bebida. No entanto, poucos são aqueles que lembram que não é apenas o vinho que possui uma história peculiar. A garrafa também tem uma trajetória interessante. Até chegar ao ponto que conhecemos hoje, esverdeada, mais ou menos cilíndrica, com rolha de cortiça e capacidade para 750 ml, foi preciso uma série de mudanças.
Se fôssemos fazer um marco do início da utilização em larga escala das garrafas de vidro, ele seria durante a Revolução Industrial. Foi a partir desse período que a produção de vinhos e garrafas, apesar de ser ainda muito cara, entrou em uma nova fase. Começaram a ser fabricadas, em série, garrafas mais espessas, que resistiam às mais diversas intempéries. Até 1600, mais ou menos, a indústria do vidro só era capaz de produzir garrafas finas, que não garantiam a proteção adequada ao vinho e eram facilmente quebradas durante o transporte.
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Antes disso, na Idade Média, o mais comum era conservar o vinho em grandes barris de madeira, o que não garantia durabilidade pois a barrica, uma vez aberta, deixava o vinho em contato com o ar, acelerando sua degradação. Ainda mais distante, durante o Império Romano e até mesmo na antiga Grécia, a bebida de Baco era armazenada em vasilhames de couro, cerâmica e barro. Para não estragar rápido, era preciso adicionar conservantes que alteravam totalmente seu sabor (para ser tomado posteriormente, o vinho era diluído e misturado a especiarias).
Foi só após a Revolução Industrial que as garrafas passaram a ser largamente utilizadas e a partir daí nasceram muitas tradições observadas até hoje.
As primeiras garrafas de vinho costumavam ser arredondadas, com longo gargalo e capacidades não uniformes. A evolução da produção foi unificando os tamanhos e as formas, tornando mais comum o uso de garrafas cilíndricas e de capacidade bem menor, que facilitam o transporte, armazenamento e envelhecimento.
As garrafas mais utilizadas do mundo são as Bordalesas (do estilo usado em Bordeaux) e Borgonhesas (de Borgonha). Enquanto a primeira tem ombros mais altos e mais marcados, a segunda é mais alongada e bojuda em baixo. Apesar de não haver leis que obriguem a utilização delas, as tradições locais são muito fortes e seu uso é quase unânime.
No Novo Mudo, os produtores costumam usar o mesmo padrão da Europa. Vinhos Cabernet Sauvignon ou Merlot – uvas originárias de Bordeaux – geralmente estão em garrafas cilíndricas e altas. Já nos Chardonnay ou Pinot Noir, castas de Borgonha, a preferência será por garrafas mais baixas e curvas.
Para os vinhos espumantes, as garrafas devem ter paredes mais espessas, com o fundo côncavo, uma vez que precisam suportar a pressão do líquido, seja durante a segunda fermentação, que ocorre na garrafa, ou no método Charmat, em que o envase também ocorre com alta pressão.
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Em outras partes do mundo, algumas ganham formatos singulares, como é o caso das regiões do Mosel e do Reno, na Alemanha, cujas garrafas são do modelo Renano, alongado e, na maioria das vezes, de coloração âmbar. Já na Francônia, elas costumam ser mais baixas e arredondadas, de pescoço curto.
Garrafas também podem variar em capacidade, mas a de 750 ml é o formato padrão
Até o começo do século passado, o volume de líquido numa garrafa variava muito e não era raro ver algumas com capacidade de 20 litros. Mas isso mudou e hoje a indústria segue o padrão dos 750 ml. Acerca deste valor estão diversas teorias, todas bem interessantes. A primeira delas gira em torno da barrica bordalesa, que, por ter capacidade para 225 litros, encheria exatamente 300 garrafas. A segunda pressupõe que 750 ml seria o consumo normal de um casal durante uma refeição, ou então o consumo aceitável para uma pessoa ao longo do dia. A terceira teoria, esta um pouco mais improvável, afirma que, como as primeiras garrafas eram sopradas, este volume é proporcional ao tamanho do pulmão dos sopradores.
O fato é que, além da garrafa padrão, há diversas outras, algumas com nomes bastante curiosos. Há os modelos de 187 ml, conhecidos como piccolo; as de 350 ml, demi ou meiagarrafa; a Jennie, com 0,5 litro, muito comum em vinhos de sobremesa, a Magnum, de 1,5 l; a Jeroboam (ou Magnum Dupla, com 3 l); a Matusalém, com capacidade para 6 litros; a Mordecai ou Salmanazar (de 9 litros); a Baltazar, com 12 litros; a Nabucodonosor (15 litros) e, finalmente, a Melquior (de 18 litros) e a Salomão (de 20 litros), esta última somente utilizada para Champagnes.
Cores esverdeadas dos recipientes servem para proteger da luz, que acelera a deterioração
Em relação à cor, a garrafa verde é a mais popular, já que protege o vinho da luz, que acelera sua deterioração e é prejudicial ao envelhecimento. Mas como o marketing também deve ser levado em conta, e a maioria das pessoas responde melhor a garrafas translúcidas, vinhos de cor atrativa, como os rosés, costumam estar em garrafas transparentes, que valorizam a aparência.
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