As cabottes, as casinhas de pedra, no meio dos vinhedos da Borgonha basicamente serviam de abrigo do sol ou de intempéries
por Arnaldo Grizzo
Sob o sol das costas escarpadas da Côte d’Or, durante o verão, na época da safra, ainda hoje trabalhadores se reúnem para colher os preciosos frutos daquelas terras.
Tempos atrás, quando a agricultura era a única subsistência e a mão-de-obra era farta, o número de pessoas reunidas em um vinhedo era grande. Quando precisavam de um descanso, para onde iam os agricultores em meio aos vastos campos cultivados e florestas?
No meio de algumas fileiras de vinhas, ou então próximo aos muros de alguns “clos” (vinhedos murados), é possível ver pequenas casinhas, às vezes arredondadas, outras vezes quadradas ou retangulares, com tetos geralmente baixos, muitas feitas de pedras calcárias (típicas da região), as chamadas cabottes. Esses eram os pontos de descanso dos trabalhadores.
Acredita-se que as cabottes ou cabotes, ou às vezes cabioutes, eram mais comuns até meados do séculos XIX, quando a filoxera e outras doenças devastaram vinhedos e muitos já não tinham mais trabalho. Depois disso, a maioria dessas estruturas foi abandonada. Diz-se que o termo cabotte vem do latim “cap” (cabeça) unido ao sufixo “otte”, que o torna um diminutivo. Em outras regiões, essas pequenas casinhas recebem o nome de “cabane” ou “cadole” ou “barraque”.
As cabottes nas comunas de La Rochepot, Saint-Aubin e Chassagne-Montrachet no cantão de Nolay, chegaram a ser catalogadas pelo “Inventário da Borgonha” no início da década de 1980. Todas aparecem associadas a um muro de contenção ou delimitação.
A cobertura mais comum é a cúpula hemisférica rebaixada em plano circular, semicircular, quadrado ou mesmo retangular. Dentro delas, há poucos blocos servindo como banco rústico e, às vezes, um nicho ou um recuo na parede formando uma prateleira. Pode haver ainda a presença de uma lareira.
Diz-se que as primeiras teriam sido construídas ainda no século XVIII (ao menos essa é a data aproximada dos indícios) e as últimas por volta de 1930. Elas basicamente serviam de abrigo do sol ou de intempéries (as entradas tendem a ficar protegidas dos ventos), além de servir de local para armazenagem de ferramentas básicas tanto para a colheita quanto para o manejo da vinha.
Hoje elas já não são mais utilizadas e sua presença apenas rememora um tempo em que o trabalho no campo era intenso. Na região de Pernand-Vergelesses, há uma trilha para os turistas “visitarem” as diversas que ainda “sobrevivem”.