Clos de Vougeot

Clos de Vougeot: o maior vinhedo murado da Borgonha

O Clos de Vougeot é considerado um dos maiores vinhedos Grand Cru da Borgonha

por Redação

Os Clos – os famosos vinhedos murados da Borgonha – são cultuados. Ainda na Idade Média, os monges que se instalaram na região começaram a desvendar quais terrenos produziam os melhores vinhos e, para delimitar alguns, levantaram pequenos muros de pedra. Assim, surgiram os primeiros Clos.
Acredita-se que o primeiro vinhedo murado tenha sido o lendário Clos de Bèze, em Chambertin, ainda no século VII, no entanto, a maioria data dos séculos XII, XIII e XIV. O maior, o Clos de Vougeot, ou apenas Clos Vougeot, começou a ser delimitado por volta de 1110, mas suas fronteiras só foram fincadas em 1336, e o muro foi completado posteriormente.
Clos de Vougeot é um dos maiores vinhedos Grand Cru da Borgonha, juntamente com Corton e Echézeaux, com cerca de 50 hectares. Com tamanha área, uma de suas particularidades é possuir uma enormidade de proprietários (por volta de 80). A maioria deles possui cerca de 0,2 hectare de terra. Ao todo, o vinhedo produz cerca de 17 mil caixas de vinho e, por ser tão vasto (para os padrões borgonheses) e ter tantos produtores, os vinhos também costumam ser muito díspares.

O Château de Clos de Vougeot foi erigido na época da Renascença, por volta de 1551

Cistercienses

A história dos vinhos do maior Clos da Borgonha nasce com os monges cistercienses. Na Idade Média, um dos lugares mais importantes do mundo era a Abadia de Cluny, em Macôn, fundada pelos beneditinos em 910. Ela era símbolo da riqueza e do poder da igreja. Nessa época, alguns monges, como o abade Robert de Molesme, estavam descontentes com o rumo da ordem. Em 1098, ele e mais 20 companheiros decidiram estabelecer um novo monastério nas planícies a oeste da Borgonha, em meio aos campos de junco – em francês, cistel, daí o nome cisterciense. A nova abadia foi chamada de Cîteaux.
No entanto, o local do novo monastério não era apropriado para a cultura da vinha. Dessa forma, eles subiram pelo rio Vouge e adquiriram algumas terras não cultivadas. Assim foi criado o núcleo de Clos de Vougeot. A abadia, posteriormente, passou a receber doações de terras que foram incorporadas ao primeiro vinhedo. Por volta de 1160, a vinícola foi criada. Mas, somente dois séculos depois, o muro do vinhedo foi finalmente terminado. Acredita-se que os monges, além das doações, tenham pago caro pelos pedaços remanescentes de terras ao redor.

Château e divisão

A construção que hoje atrai milhares de turistas e fica na parte noroeste do vinhedo, o Château de Clos de Vougeot, foi erigido na época da Renascença, por volta de 1551, e, durante anos, recebeu visitantes ilustres, como o rei Luís XIV, que teria vindo se tratar quando seu médico particular lhe indicou vinhos de Côtes de Nuits.
A ordem cisterciense manteve-se como única proprietária do vinhedo durante sete séculos, até 1789, quando, durante a Revolução Francesa, o local foi tomado como “bem nacional”. Curiosamente, contudo, em vez de dividi-lo como fez com a maioria das terras da igreja, Clos de Vougeot foi vendido como uma única parcela pelos revolucionários. Assim, em 1791, o banqueiro Jean Foquard pagou mais de 1 milhão de libras (considerado um valor gastronômico para a época) para adquirir a propriedade.
Foquard, contudo, não conseguiu pagar sua dívida e, no ano seguinte, o Clos já estava em outras mãos, dos ditos irmãos Ravel. Cerca de 20 anos depois, diante de disputas entre os Ravel e seus sócios, o vinhedo foi comprado por Jules Ouvrard, que, na ocasião, possuía diversas terras na região, incluindo La Romanée-Conti (que era vinificado em Clos de Vougeot).
Após a morte de Ouvrard em 1860, houve uma série de disputas por herança até que a propriedade foi vendida por 600 mil francos em 1889 para seis diferentes comerciantes de vinho da região. Assim começou a divisão do vinhedo.

Em pouco tempo, de seis, passou-se a 15 proprietários e agora são mais de 80. Em média, cada um tem 0,6 hectare e produz 250 caixas. Os principais produtores são: Château de la our (5,48 ha); Méo-Camuzet (3,03 ha); Rebourseau (2,21 ha); Louis Jadot (2,15 ha); Leroy (1,91 ha); Grivot (1,87 ha); Gros Frère et Soeur (1,50 ha); Gérard Raphet (1,47 ha); Vougeraie (1,41 ha); René Engel (1,37 ha); François Lamarche (1,36 ha); Faiveley (1,29 ha); Jacques Prieur (1,28 ha); Drouhin-Laroze (1,03 ha); Alain Hudelot- -Noëllat (0,69 ha); e S.C. La Liviniére (Domaine d’Audhuy) (0,56 ha).
O Château foi danificado na II Guerra Mundial e depois restaurado. Hoje, é propriedade da confraria “Chevaliers du Tastevin”, fundada em 1934 para promover os vinhos da Borgonha.

Três cuvées

Com tamanha área, Clos de Vougeot é um dos vinhedos mais heterogêneos da região. A estrutura do solo é complexa e variável dependendo do local. Diz-se que as melhores partes estão mais no alto, próximas ao Château e à fronteira com os Grand Crus de Grands chézeaux e Musigny, onde os solos são pedregosos e calcários.
Na parte média, o solo já é uma mistura de calcário e argila, com menos seixos. A parte mais baixa, por sua vez, tem solos mais aluviais com drenagem pior. Há quem diga, porém, que o vinhedo tem pelo menos seis tipos de solos diferentes.
Diz a lenda que os antigos monges produziam três tipos de vinho: a Cuvée des Papes (Cuvée dos Papas), na parte mais alta, a Cuvée des Rois (Cuvée dos Reis), na parte do meio, e a Cuvée des Moines (Cuvée dos Monges), na parte baixa sendo que somente esta última era vendida comercialmente.
Os vinhos da parte “baixa” (a inclinação é de apenas 3 a 4 graus) do vinhedo costumam ser os mais criticados e, por isso, há quem questione o fato de todo o território ser taxado como Grand Cru. No entanto, há produtores que defendem esses vinhos, dizendo que, em anos mais secos, eles são melhores que os da parte superior.
Apesar das variações, em grandes safras e nas mãos dos produtores mais detalhistas, Clos de Vougeot pode ser comparado aos maiores vinhos da Borgonha, lado a lado com Chambertin e Vosne-Romanée. Ainda assim, ele tende a ser mais corpulento, suculento e especiado do que seus vizinhos. Os melhores exemplares, obviamente, tendem a vir de parcelas de vinhas mais antigas (Méo-Camuzet, por exemplo, tem algumas da década de 1920). Alguns até reconhecem (extraoficialmente) dois lieux-dits – Le Grand Maupertius e Le Musigni. E por mais heterogêneo que os vinhos de Clos de Vougeot sejam, sua fama não esmorece.

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