Safra Brasil

Começou a colheita das uvas da safra 2024 no Brasil

O ano de 2024 começou com a chegada das primeiras uvas nas vinícolas do sul do Brasil

Primeiras uvas da safra na Vinícola Terraças, no RS
Primeiras uvas da safra na Vinícola Terraças, no RS

por Silvia Mascella

A lona molhada do caminhão da foto acima quase resume o desafio dos vitivinicultores do Rio Grande do Sul para a safra 2024. Choveu no inverno, choveu na primavera, choveu na brotação e está chovendo no verão, até mesmo com granizo em algumas regiões.

Depois de alguns anos sequenciais muito bons, que permitiram que as vinícolas trabalhassem com matéria prima excelente e pudessem fazer grandes vinhos, neste ano o clima impôs a sua marca. "Já esperávamos por isso. Os anos mais secos que o fenômeno La Niña nos proporcionou (até com estresse hídrico em alguns lugares) estão sendo substituídos pelo El Niño, que traz um regime de chuvas mais intenso e prolongado", explica o enólogo Ricardo Morari, presidente da Associação Brasileira de Enologia.

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Ricardo Morari, que chefia uma equipe de enologia da cooperativa Garibaldi, contou para ADEGA que a condição climática do momento é desafiadora no RS, que trabalha com a vinicultura tradicional de colheita de verão: "O manejo dos vinhedos ficou ainda mais importante, para garantir que mesmo com uma quebra de produção as uvas tenham qualidade para atender as necessidades das empresas e o paladar dos consumidores", diz Ricardo. Mas ele também avisa que ainda é muito cedo para saber como será exatamente toda a safra, pois há meses pela frente. Na Campanha Gaúcha, por exemplo, a safra ainda nem  começou.

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Uva Chardonnay da safra 2024 da Serra Gaúcha

"A safra por aqui começou 15 dias mais cedo do que de costume, com a colheita da Chardonnay, que nós esperávamos que pudesse ficar ainda mais alguns dias no vinhedo, mas colhemos mesmo assim pois a escolha deve ser sempre pela sanidade da uva", conta o enólogo Guilherme Fornasier, da Vinícola Terraças, na Serra Gaúcha. Guiherme explica que, de agora até março, é trabalho duro e com o espírito preparado para tudo o que vier, uma vez que a planta quase não sentiu o (pouco) inverno, brotou precocemente e passou por períodos de calor e alta umidade: "O cuidado no vinhedo é total, pois essas condições favorecem o aparecimento de doenças fúngicas. Em alguns casos adiantamos a colheita, pois é melhor ter a uva um pouco menos madura mas completamente sã para fazer bons vinhos", aponta o enólogo

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Mas nem todo mundo fará vinhos neste ano, é o que conta o enólogo e produtor Jorge Fin, cuja vinícola está localizada no oeste do RS, na região das Missões. "Tenho amigos na Serra e por aqui que não farão vinhos nesta safra, tiveram uma quebra de quase metade da produção por conta do clima", conta Jorge. Na sua vinícola a colheita também está adiantada, mas algumas uvas resistiram bem aos desafios do clima. A híbrida Lorena foi uma delas e a vinícola irá colher sua primeira safra de uva Viognier nos próximos dias.

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Jorge Fin, nos vinhedos da família na região das Missões (RS)

O volume de uvas deve cair, embora os enólogos ainda não saibam dizer qual a porcentagem dessa quebra em relação aos últimos anos. O Rio Grande do Sul responde por mais de 80% da produção de vinhos do país e todas a regiões produtoras do estado foram afetadas (em maior ou menor grau) pelas condições climáticas. "Devemos ter vinhos sadios e longevos, pois já temos conhecimento e tecnologia para fazê-los. Mas eles devem ser também um pouco menos alcoólicos e talvez os brancos tenham menor carga aromática", especula Guilherme Fornasier. E Ricardo Morari completa dizendo que em anos como este, é que são colocados à prova todos os conhecimentos e tecnologia acumulados em décadas fazendo vinhos e estudando do campo até a cantina, para obter os melhores produtos.

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