Em termos técnicos, o terroir exige um esforço de entendimento, mas tudo pode ser resumido em uma boa taça de vinho
por Guilherme Pinz
Plantamos videiras para fazer sucos e vinhos há mais de 5.000 anos e isso significa que tivemos várias experiências positivas e negativas no processo.
Isso implicou na evolução dos aspectos tecnológicos e conhecimento mais apurados das coisas que se relacionam a este mundo fascinante. Não cabe elencar aqui elementos históricos dessa evolução, mas há um termo que continuamente movimenta empolgadas e acaloradas discussões no mundo vitícola: o terroir.
Uma pequena palavra que tem origem linguística no latim e expressa/explica de uma maneira bem simples a configuração de um determinado espaço geográfico para a produção de um gênero agrícola. Este termo é aplicado para outros cultivares, mas ao longo do tempo, colou nos aspectos da vitivinicultura.
Em termos técnicos,o terroir realmente exige um esforço de entendimento, pois envolve um universo de variáveis físicas e bióticas para se consolidar. Estas variáveis estão vinculadas ao contexto da geologia, geoquímica, solos, água, clima e a própria planta da uva. Cada planta se sente melhor no lugar que mais lhe agrada; assim como nós humanos, que escolhemos um lugar para morarmos e ali vivermos e nos abastecermos das coisas que precisamos para nos mantermos vivos. E este lugaré o terroir em que ela efetivamente se adapta.
Este terroir correto é o que lhe dá a possibilidade de melhor se desenvolver. Naquele local, a própria planta desenvolve um sistema radicular que se desenvolve conforme a necessidade de suprir suas carências nutritivas.
SINGLE QUINTA – Produzidos sob as mesmas normas seguidas pelos Vintage, entretanto a partir de uvas provenientes de um único vinhedo.
Esse processo de assimilação do substrato estimula um start bioquímico que libera e formata a estrutura da característica organoléptica futura do vinho. Ou seja, traz o DNA do substrato do local com toda a cartela de elementos químicos desde a rocha até a fruta; numa espécie “estrada química-orgânica”. Outrossim, particularmente, cada varietal capta e processa os elementos necessários para o seu desenvolvimento (de sua família). Isso implica que cada um precisa estar no seu ambiente de terroir correto para o seu pleno desenvolvimento.
Temos que ter em mente que o fator terroir é nada mais que uma relação de troca entre a planta e o local onde ela está plantada. Essa relação envolve mudanças iônicas, açucares, seiva, água, minerais, aminoácidos e outros tantos. E essas são diferentes conforme o contexto local. Por exemplo, locais onde existem rochas calcárias no substrato devem liberar mais cálcio e magnésio para a planta. Locais onde existem granitos tendem a liberar mais potássio e alumínio. Locais onde existem rochas vulcânicas (basalto) tendem a liberar mais ferro e manganês, e assim sucessivamente.
Essa relação de troca ocupa espaços geográficos distintos – que podem ir de poucos metros a dezenas de metros quadrados, nunca a centenas. Esses espaços se devem à formação dos solos oriundos do “apodrecimento” das rochas. Esse processo gera uma gama de minerais e elementos químicos que ficam disponíveis no solo, e eles se compartimentam em espaços não muito grandes. E aí entra o termo microterroir.
Em uma simplificação e generalização, os distintos terroirs no planeta estão sobre quatro grandes compartimentos geológicos (rochas):
Todas as regiões vitivinícolas no mundo estão sobre um ou outro compartimento acima listado. Cada compartimento gera vários tipos de solo devido à alternância de minerais que ali na rocha existem, formando “bolsões” geoquímicos. Cada compartimento possui a tendência de disponibilizar elementos químicos padrões em cada um deles, ou seja, é possível saber com isso o tipo de rocha que existe lá embaixo só com a identificação dos elementos químicos disponíveis no solo.
Cada compartimento gera vários tipos de solo devido à alternância de minerais que ali na rocha existem
Ainda, o solo pode ter as seguintes granulometrias (tamanho dos grãos minerais). Abaixo você encontrará a textura, a granulometria em mm e sua definições populares:
Mas os solos podem ter inúmeras denominações mundo afora. Se alguém quiser ir mais a fundo sugiro pesquisar a “Classificação Brasileira de Solos – Embrapa(2006)”.
Então, quando estiverem visitando um determinado terroir, sugiro utilizar a seguinte lógica:
Claro que outros elementos podem - e vão - influenciar no vinho, trazendo casracterísticas marcantes e, por vezes, similares. Mas o solo é sem dúvida um dos fatores principais.
Assim, busque na sua próxima degustação fazer esse comparativo e veja na prática a influência do solo sobre o vinho.
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