Lendas de Bordeaux

Conheça os 12 enólogos que marcaram a história Bordeaux

Uma lista de 12 enólogos que marcaram a história de Bordeaux, uma das regiões vitivinícolas mais importantes do mundo

Imagem Conheça os 12 enólogos que marcaram a história Bordeaux

por Arnaldo Grizzo

Para muitos, a natureza é determinante na produção de um grande vinho e o papel do homem é secundário. É fácil notar isso quando citamos regiões como a Borgonha, por exemplo, em que a classificação oficial se dá pelo status do vinhedo, algo estabelecido pelas observações de monges durante séculos.

Mas a mão do homem não teria alguma influência? Certamente, tanto que em regiões como Bordeaux, a classificação tem como base o “status do produtor” como um todo. Ali, se um château compra um terreno vizinho de um produtor com uma classificação mais baixa, ele pode elaborar vinhos de “status mais elevado” com essas uvas. Ou seja, o trabalho do homem importa.

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Durante séculos, os enólogos ajudaram a elaborar alguns dos vinhos mais famosos e desejados do planeta, que até hoje servem de benchmark para vitivinicultores ao redor do mundo.

Sendo assim, ADEGA fez uma seleção de 12 dos nomes mais aclamados da história recente de Bordeaux e traz um pequeno perfil de cada um deles. Confira:

  • Jaques Boissenot
    Jacques Boissenot
    Falecido em 2014, Jacques Boissenot foi um dos consultores de vinhos mais aclamados, trabalhando com quase 200 propriedades na margem esquerda de Bordeaux nos últimos 45 anos. Sua experiência abrangeu quatro dos cinco Premier Cru: Mouton, Lafite, Latour e Margaux, bem como inúmeras outras propriedades famosas como Leoville-las-Cases, Cos d'Estournel, Palmer e Issan por exemplo. Ele era conhecido por sua abordagem discreta e respeitosa com os vinhos, bem como por sua compreensão intuitiva de como extrair o melhor deles sem nunca se destacar. Seu professor e mentor no departamento de enologia de Bordeaux foi Émile Peynaud, também um dos nomes mais marcantes da história enológica bordalesa. Depois que Peynaud se aposentou, Boissenot herdou muitos de seus clientes, começando com Lafite em 1980, depois Margaux em 1987, Latour em 2000 e finalmente Mouton em 2005. Hoje Eric, seu filho, mantém a herança do pai atualmente trabalhando como consultor mundo afora.

  • Denis Dubourdieu
    Denis Dubourdieu
    Denis Dubourdieu estudou enologia na Universidade de Bordeaux e formou-se em 1975. Tornou-se professor e fez contribuições significativas para a compreensão da vinificação e da química do vinho, sendo imensamente respeitado por seu conhecimento e pesquisa. Ele era muito conhecido por seu trabalho com variedades brancas e foi fundamental para elevar a qualidade desses vinhos, especialmente em Pessac-Léognan. Ele foi reconhecido como um dos maiores especialistas do mundo em vinificação, sendo autor de inúmeras publicações científicas; e introduziu técnicas como fermentação em barricas e bâtonnage, por exemplo. Ele prestou consultoria para clássicos como Domaine de Chevalier, Haut-Bailly, La Lagune, Yquem, Cheval Blanc etc., e faleceu em 2016.

  • Stéphane Derenoncourt
    Stéphane Derenoncourt 
    Nascido em 1963 em Libourne, Stéphane Derenoncourt iniciou sua carreira na indústria do vinho na década de 1980. Ele é conhecido por sua filosofia de vinificação “não intervencionista”, que enfatiza a manipulação mínima das uvas e o uso de técnicas naturais de vinificação. Dito autodidata, ele gosta de estudar os solos onde trabalha, entender as diferentes expressões de calcário, sílica e argila. Com o tempo, convenceu-se de que o futuro do setor vitivinícola passava pela agricultura biológica, desde que pensada como um processo integral, até ao produto acabado. Fundou uma empresa que se desenvolveu “um pouco em paralelo”, porque, segundo ele, Bordeaux dos anos 1990 tinha se tornado o mainstream do conhecimento enológico e científico. Ele faz parcerias frequentes com o especialista em solos Claude Bourguignon e gosta muito de trabalhar com micro-oxigenação e fermentação de cachos completos. Além de seu trabalho em Bordeaux, ele presta consultoria para inúmeras vinícolas ao redor do mundo, até mesmo na Ásia.

  • Michel Rolland
    Michel Rolland 
    Talvez o maior nome quando se trata de consultoria de vinho no mundo, Michel Rolland nasceu em 1947 em Libourne e formou-se em enologia pela Universidade de Bordeaux em 1971. Seu trabalho com as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot é creditado por ajudar a aumentar a qualidade dos vinhos de regiões como Pomerol e Saint-Émilion, mas em Bordeaux como um todo. “O vinho tem que ser bom para o consumidor, não para o enólogo”. Essa frase resume bem a filosofia de Rolland em relação à produção, que é focada em agradar os consumidores e não em seguir uma visão pessoal do enólogo. Ele é conhecido por sua abordagem científica, que enfatiza a maturação das uvas e a utilização de técnicas modernas. Também é famoso por ser um expert em blends, capaz de criar grandes vinhos a partir do melhor material que possui em mãos. Diz-se que ele ajudou a “parkerizar” os vinhos com seu estilo de bebidas muito concentradas e por vezes opulentas, algo que alguns contestam.

  • Paul Pontallier
    Paul Pontallier 
    Paul Pontallier atuou como diretor do Château Margaux de 1990 até sua morte em 2016. Ele nasceu em 1956 na cidade de Tours no Vale do Loire e se formou em engenharia agrícola pelo Institut National Agronomique Paris-Grignon antes de estudar viticultura e enologia na Universidade da Califórnia, em Davis. Em 1983, Pontallier foi contratado pelo Château Margaux e foi promovido a diretor geral em 1990. Durante sua passagem pela propriedade, desempenhou um papel fundamental na qualidade dos vinhos, com foco na viticultura sustentável e técnicas tradicionais de vinificação. Pontallier foi um defensor do terroir e da importância de refletir a identidade da região nos vinhos produzidos. Ele faleceu em março de 2016 após uma batalha contra o câncer.

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  • Jean-Cloude Berrouet
    Jean-Claude Berrouet
    Jean-Claude Berrouet é mais conhecido por seu trabalho no icônico Pétrus. Ele nasceu em 1944 na vila de Saint-Martin-de-Laye, perto da cidade de Libourne, e se formou em enologia pela Universidade de Bordeaux em 1964. Em 1978, foi contratado por Pétrus como enólogo, cargo que ocupou por mais de 40 anos até sua aposentadoria em 2007. Ele é considerado um dos enólogos mais talentosos de Bordeaux e é particularmente conhecido por sua experiência com a uva Merlot e por moldar os vinhos do Pomerol. Ele também é respeitado por sua dedicação às técnicas tradicionais de vinificação e sua ênfase na importância do terroir. “Ele é um verdadeiro artesão, que trabalha com grande dedicação e paixão para produzir vinhos que emocionam e encantam os enófilos”, diz Christian Moueix, proprietário de Pétrus.

  • Jean-Bernard Delmas
    Jean-Bernard Delmas
    Nascido em 1949 em Bordeaux, Jean-Bernard Delmas vem de uma família de enólogos com uma longa história na região. Ele estudou na Universidade de Bordeaux, onde se formou em engenharia agrícola e enologia. Em 1982, Delmas foi nomeado diretor técnico do Château Haut-Brion. Passou mais de três décadas na propriedade, período durante o qual desempenhou um papel significativo no aumento da qualidade dos vinhos ali produzidos. Jean-Bernard Delmas sempre seguiu uma abordagem tradicional de vinificação, enfatizando a qualidade das uvas e a utilização cuidadosa de técnicas de produção. Ele acredita que a qualidade do vinho é determinada principalmente pela qualidade das uvas. Ele também procura utilizar técnicas de produção específicas para cada vinho, levando em consideração o terroir, a variedade de uva e as condições de crescimento específicas. “Jean-Bernard Delmas é um enólogo excepcional, cuja dedicação e habilidade em produzir vinhos de classe mundial é realmente notável. Seus vinhos são verdadeiras obras de arte”, disse Robert Parker.

  • Andre Lurton
    André Lurton
    André Lurton desempenhou um papel significativo na indústria do vinho de Bordeaux por mais de 60 anos. Ele nasceu em Grézillac, uma pequena cidade na região de Entre-Deux-Mers, em 1924. Lurton veio de uma família de produtores de vinho e herdou de seu pai a paixão pela vinificação. Em 1952, assumiu a vinícola de sua família, o Château Bonnet, e, ao longo dos anos, expandiu a propriedade e começou a produzir vinhos de alta qualidade, tornand0-se fundamental na promoção dos vinhos da região de Pessac-Légonan e na criação de diversas denominações de origem em regiões até então menos conhecidas de Bordeaux. Além disso, foi um defensor da agricultura sustentável e da preservação do meio ambiente, promovendo práticas agrícolas responsáveis em suas vinícolas. Lurton faleceu em 2019 aos 94 anos.

  • Émile Peynaud
    Émile Peynaud
    Émile Peynaud nasceu em 1912 em Madiran, uma região vinícola no sudoeste da França. Estudou na Universidade de Bordaux e mais tarde trabalhou como pesquisador no Instituto de Enologia. Na década de 1950, Peynaud começou a trabalhar como consultor, aconselhando os produtores de vinho sobre como melhorar suas vinhas e técnicas de produção de vinho. Em uma época em que a tecnologia ainda não estava tão ligada ao mundo do vinho, ele era um grande defensor dos métodos modernos de vinificação e acreditava que a ciência poderia ser usada para produzir bebidas melhores. Ele foi um dos pioneiros em enfatizar o controle de temperatura na vinificação, micro-oxigenação, barricas de carvalho etc. Prolífico escritor, ele ainda criou um vocabulário padronizado para descrever o sabor, aroma e aparência do vinho, tornando a avaliação do vinho mais objetiva e confiável. Faleceu em 2004, mas o seu legado continuou com os muitos enólogos que se inspiraram no seu trabalho.

  • Christian Veyry
    Christian Veyry
    Christian Veyry começou sua carreira na indústria do vinho na década de 1980, trabalhando como gerente de vinhedos e enólogo para várias vinícolas em Bordeaux. Mais tarde, ele passou a trabalhar como consultor de vinhos, aconselhando vinícolas bordalesas, mas também no Vale do Loire e nos Estados Unidos. O trabalho de Vevry é creditado por ajudar a elevar a qualidade dos vinhos especialmente em Saint-Émilion e Pomerol. Ele também é conhecido por sua experiência no uso de barris de carvalho na vinificação. Veyry tem uma abordagem tradicional e extremo respeito pela natureza e pelo terroir. Ele acredita que o papel do enólogo é entender e trabalhar em harmonia com a vinha e o clima, em vez de tentar impor um estilo particular ao vinho.

  • Pascal Ribéreau-Gayon
    Pascal Ribéreau-Gayon
    Pascal Ribéreau-Gayon, nascido em 1931 em Bordeaux e falecido em 2011, teve sua genética ligada à pesquisa do vinho. Seu bisavô, Ulysse Gayon, foi assistente de Louis Pasteur e teria ajudado a desenvolver a “calda bordalesa”. Seu pai, Jean Ribéreau-Gayon, criou o Instituto de Enologia em Bordeaux em 1949. Pascal Ribéreau-Gayon realizou pesquisas inovadoras sobre antocianinas ou fenóis em geral nas uvas, várias técnicas de vinificação, especialmente os processos de fermentação alcoólica e malolática, bem como sobre a diferença qualitativa entre os híbridos e as vinhas Vitis vinifera, que contribuíram para melhorar a qualidade dos vinhos em todo o mundo. Ele também desenvolveu um método simples para analisar o ácido málico no vinho. Além de autor de vários livros sobre enologia e atuou como consultor, sendo uma das figuras mais marcantes do vinho bordalês na segunda metade do século XX.

  • Jean-Luc Thunevin
    Jean-Luc Thunevin
    Jean-Luc Thunevin é uma figura controversa no mundo do vinho, muito devido ao seu sucesso meteórico com o Château Valandraud. Ele é um dos precursores do movimento garagista que atingiu principalmente a região de Saint-Émilion nos anos 1990. O vinho, que começou como um típico “vin de garage” em 1991, acabou se tornando um Premier Grand Cru Classé de Saint Emilion em 2012. Segundo Thunevin, a inspiração veio em uma degustação de Le Pin, um clássico do Pomerol. A partir daí, Thunevin se tornou então o inspirador e iniciador de outros “vins de garage”, microcuvées produzidas com baixos rendimentos. Visionário, ele também adotou técnicas borgonhesas em sua produção, sendo um dos pioneiros a adotar métodos que foram contra as normas locais e o valeram o apelido de “o Bad Boy de Saint-Émilion”.

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